Entrevista: Pesquisa analisa insegurança alimentar e emergência climática em países da América Latina
A pesquisa realizou um estudo diagnóstico das crises climáticas e alimentar, resultando em um livro que reúne a experiência de nove países da América Latina. Está prevista a criação de uma rede colaborativa de pesquisa na região.
Como enfrentar as crises alimentar e nutricional e climática nos países da América Latina? Quais os principais determinantes - sociais e da saúde - estão associados as interfaces destas crises? Como incluir a discussão sobre esses temas na oferta de ensino latino americana, construindo uma rede que fortaleça as Escolas de Saúde Pública da região? Essas são algumas das respostas que a pesquisa 'Insegurança alimentar e emergência climática', selecionada pelo Edital de Pesquisa 2021, apresenta. O projeto resultou num livro, disponível em acesso aberto, que traz a experiências de nove países e conta com a participação de 43 autores de diferentes países das Américas.
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Coordenado pela pesquisadora da ENSP, Ana Laura Brandão, e pelo também pesquisador da Escola, Frederico Peres, a pesquisa fez um mapeamento de cursos e programas de formação em Saúde Pública oferecidos por instituições formadoras de países da América Latina que falem sobre os temas: segurança alimentar e nutricional, e crise climática. O projeto prevê, também, a criação de uma rede de pesquisa regional para a elaboração de estudos e projetos de intervenção relacionados à indissociabilidade das crises alimentar e nutricional e climática na América Latina, a partir de redes colaborativas e grupos de pesquisa da região.
A pesquisa pretende contribuir para a disseminação de conhecimento sobre os temas, além de potencializar a atuação de diferentes atores regionais que atuam na discussão e elaboração de propostas para o enfrentamento das crises alimentar e nutricional e climática na AL. "O conhecimento gerado no âmbito de instituições acadêmicas precisa estimular ações concretas para o enfrentamento das consequências e impactos das crises alimentar e climática na região e, portanto, precisam ser trabalhadas junto a grupos externos ao universo acadêmico", destacou Ana Laura Brandão, coordenadora da pesquisa.
+ Confira mais uma entrevista da série especial do 'Informe ENSP' sobre os projetos selecionados pelo Edital de Pesquisa 2021, da VDPI/ENSP.
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Informe ENSP: Qual o principal objetivo do projeto de pesquisa 'Insegurança alimentar e emergência climática'?
Ana Laura Brandão: O projeto tem como objetivo analisar os principais determinantes associados às interfaces das crises alimentar e nutricional e climática em países da América Latina e a inclusão destes temas em cursos e programas de formação oferecidos na região, como estratégias de contribuição para o fortalecimento do papel das Escolas de Saúde Pública latino-americanas
Informe ENSP: Como está o andamento das etapas de desenvolvimento do projeto?
Ana Laura Brandão: O projeto está sendo desenvolvido em etapas, sendo a primeira delas, já realizada, que é o diagnóstico integrado da situação de segurança alimentar e nutricional e da crise climática em países da América Latina, identificando seus principais determinantes, estratégias de enfrentamento em curso e potenciais áreas de contribuição dos profissionais de Saúde Pública latino-americanos.
Outra etapa, é a realização de um mapeamento de cursos e programas de formação em Saúde Pública oferecidos por instituições formadoras de países da América Latina, no que diz respeito à inclusão ou não de temas relacionados à segurança alimentar e nutricional e à crise climática. Seguida da etapa contínua que se refere a divulgação científica e em saúde sobre aspectos relacionados aos enfrentamentos das crises alimentar e nutricional e climática.
Por fim, teremos a etapa da criação de uma rede de pesquisa regional voltada à elaboração de estudos e projetos de intervenção relacionados à indissociabilidade das crises alimentar e nutricional e climática na América Latina, a partir de redes colaborativas e grupos de pesquisa já estabelecidos em países da região.
Informe ENSP: Quais os resultados esperados com a pesquisa?
Ana Laura Brandão: O diagnóstico integrado já está elaborado no livro 'Inseguridad Alimentaria y Emergencia Climática: sindemia global y un desafío de Salud Pública en América Latina' que traz experiências de nove países e conta com a participação de 43 autores latino-americanos. O livro foi editado pela Editora Rede Unida e sua versão e-book pode ser baixada gratuitamente.
Entre os dias 20 e 23 de novembro, nos Arcos da Lapa (Rio de Janeiro), durante as atividades do 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia, foi lançado o livro impresso. A versão em português está prevista para o início de 2024.
A partir de um mapeamento de cursos e programas de formação realizado baseado nas ofertas formativas de cada instituição participante do projeto, está sendo realizada uma análise qualitativa dos currículos de cursos e programas de Formação em Saúde Pública, com ênfase naqueles cujas temáticas englobam os campos da Saúde Ambiental e da Alimentação e Nutrição, buscando identificar inclusão ou não de temas/tópicos relacionados ao objeto da presente pesquisa.
Os resultados preliminares foram apresentados para os participantes do projeto em uma oficina de trabalho virtual. Posteriormente, serão realizadas oficinas para a discussão da formação de sanitaristas com um olhar para o enfrentamento das crises climática e alimentar na América Latina. Na perspectiva da divulgação científica que está sendo realizada por meio de publicação de artigos, realização de webinários, participação em eventos e cursos internacionais.
Em relação a colaboração regional foi criado o Grupo de Estudos sobre Sistemas Alimentares Latino-americanos no marco da Mudança Global, o Sala Global, um grupo de aproximadamente 80 pesquisadores, vinculados a 24 instituições acadêmicas com sede em 11 países da América Latina.
Informe ENSP: Quais contribuições o projeto 'Insegurança alimentar e emergência climática' traz para sociedade e como ele contribui para a popularização da ciência?
Ana Laura Brandão: O projeto contribui para a disseminação de conhecimento sobre os temas, além de potencializar a atuação de diferentes atores regionais que, direta ou indiretamente, vêm atuando na discussão e elaboração de propostas para o enfrentamento das crises alimentar e nutricional e climática na América Latina. O conhecimento gerado no âmbito de instituições acadêmicas precisa estimular ações concretas para o enfrentamento das consequências e impactos das crises alimentar e climática na região e, portanto, precisam ser trabalhadas junto a grupos externos ao universo acadêmico.
Informe ENSP: Como a pesquisa pretende contribuir na formação de profissional e na construção de redes, no contexto das crises climáticas e alimentar?
Ana Laura Brandão: As parcerias construídas e o conhecimento gerado ao longo das etapas do projeto podem subsidiar o aperfeiçoamento da formação do sanitarista na América Latina, sobretudo no que diz respeito às habilidades e competências necessárias para o enfrentamento das crises alimentar e climática na região. O fortalecimento da formação em Saúde Pública, na região, deverá estar atrelado ao fortalecimento das capacidades formativas próprias das instituições formadoras envolvidas, assim como à ampliação de parcerias e atuação em rede, numa lógica solidária de cooperação estruturante.



