Seminário de 40 anos do Cesteh alerta contra desigualdades de gênero e raça no trabalho
Por Bruna Abinara
As desigualdades de gênero e raça no mercado de trabalho foram destaques no seminário 'Rumo aos 40 Anos de Formação na Ação: Raízes e Sementes'. Promovido pelo Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Cesteh/ENSP/Fiocruz), o evento marcou o início das comemorações de seu aniversário com debates sobre temas emergentes na interface entre produção-trabalho, ambiente e saúde, áreas essenciais de atuação do Cesteh. As atividades foram transmitidas pelo canal da ENSP no Youtube; acesse a playlist e confira!
A mesa 'As formas de trabalho no Brasil e as desigualdades de gênero e raça' fez parte da programação do primeiro dia do seminário, que refletiu sobre neoliberalismo, os processos de precarização e o trabalho na Era Digital. A vice-coordenadora de Pesquisa do Cesteh, Liliane Teixeira, que mediou a conversa, destacou que as populações negras e indígenas, assim como as mulheres e os indivíduos LGBT+ são os mais prejudicados pelas recentes ações de precarização laboral. "Estamos aqui para refletir, é importante pensar em políticas públicas e processos formativos nessa situação tão difícil", declarou.
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"Quero trabalhar com a percepção: como o mercado de trabalho e a sociedade vê a questão de gênero e de raça", provocou o diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Antônio Raimundo Teles Santos. O representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT) na Comissão Intersetorial de Vigilância em Saúde (CIVS) destacou que os empregadores avaliam a questão fenotípica, ou seja, a cor aparente da pele dos candidatos. Sobre essa segregação na seleção profissional, Raimundo apontou que os negros enfrentam mais obstáculos para alcançar cargos de maior prestígio social: "estamos na uberização e no telemarketing, somos frentistas e ajudantes". Além disso, o diretor da FUP lembrou que a questão de gênero vai além do binômio homem e mulher, destacando que o parlamento deve estabelecer regulações que garantam a participação de pessoas diversas.
O palestrante localizou a origem das mudanças que caracterizou como perversas no mundo laboral no neoliberalismo, na reestruturação produtiva e na financeirização do capital. Ele reforçou que a precarização das condições de produção afeta mais as populações periféricas, tendo impactos direitos sobre a saúde delas. Para Raimundo, o Estado deve atuar como provedor de políticas públicas e regulador das relações entre capital e trabalho de forma a proteger o trabalhador. "O governo vai acertar no dia em que a classe trabalhadora estiver no plano de governo", ressaltou.
Em seguida, a presidente do Sindicato dos Professores de Macaé e Região, Guilhermina Luzia da Rocha, apontou reflexões a partir do contexto atual do mundo do trabalho, que definiu como um espaço atravessado por disputas políticas, interesses de classe e desigualdades. A coordenadora da Secretaria de Saúde e Previdência da Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino no Estado do Rio de Janeiro defendeu a necessidade de provocar perspectivas de mudança frente à flexibilização das leis laborais, da crescente informalidade e da uberização, fenômenos que intensificam as inequidades de gênero e raça. A professora destacou a importância de se tecer uma crítica interseccional ao neoliberalismo: "mulheres negras sofrem múltiplas opressões - racismo, sexismo e exploração econômica".
Disparidade salarial, segregação ocupacional e falta de proteção social são as principais manifestações da desigualdade de gênero e raça no mercado de trabalho para a Guilhermina. Nesse sentido, ela apontou o papel de políticas públicas enquanto força de transformação social. "Se o Estado abre mão de sua responsabilidade, nós perdemos qualquer perspectiva de garantia de direitos individuais e, principalmente, coletivos, nas áreas de saúde, segurança e educação", afirmou. A palestrante questionou as condições laborais das populações minoritárias, considerando jornadas exaustivas e as baixas remunerações, e lamentou os impactos na saúde e na saúde mental. "Enfrentar a precarização do trabalho exige ir além das medidas paliativas, é preciso transformar as estruturas que sustentam as desigualdades", concluiu.
+ Assista à mesa na íntegra pelo canal da ENSP no Youtube



