ENSP no Abrascão 2025: terceiro dia do Congresso é marcado por intensa participação da Escola
Nesta terça-feira (2/12), a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) seguiu com forte presença no 14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão 2025). Pesquisadores, pesquisadoras, docentes, discentes e trabalhadores da Escola participaram de debates sobre regionalização do SUS, saúde em territórios rurais, colonialismo químico, precarização do trabalho, violência armada, populações vulnerabilizadas, soberania digital, atenção primária à saúde, entre outros temas centrais da agenda da saúde coletiva.
Regionalização e governança em debate
O vice-diretor da Escola de Governo em Saúde da ENSP, Eduardo Melo, participou da mesa “Regionalização e Governança: caminhos para fortalecer o SUS”, ao lado de Ana Luiza Viana (USP) e José Ângelo Machado (UFMG), com moderação de Silvia Gugelmin (UFMT). O debate destacou desafios e inovações na organização territorial e na articulação interfederativa, reforçando a importância da regionalização para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde.
Organização, acesso e integração assistencial em territórios rurais
A pesquisadora Márcia Fausto coordenou a mesa “Organização, acesso e integração assistencial em territórios rurais”.Ela enfatizou a urgência de uma política específica para localidades rurais, capaz de reconhecer suas particularidades e superar soluções improvisadas que reproduzem modelos urbanos. Segundo a pesquisadora, é fundamental “convergir estudos e produzir propostas para os formuladores de políticas, avançando para além das adaptações improvisadas que ignoram as necessidades próprias desses territórios”.
Colonialismo químico em tempos de mudanças climáticas
Coordenada pela pesquisadora do Cesteh/ENSP Ariane Leites Larentis, a mesa “Colonialismo químico em tempos de mudanças climáticas: implicações para a saúde” abordou processos produtivos altamente poluentes - como mineração, extrativismo e uso intensivo de agrotóxicos - que colocam o Brasil em posição subordinada na economia global. A mesa apresentou o conceito de “colonialismo químico”, elaborado por Larissa Bombardi, e exibiu o trailer do documentário lançado na COP. Também discutiu impactos da exposição ocupacional, com destaque para pesquisas do Cesteh junto a trabalhadores como agentes de combate às endemias.
Trabalho precário, “uberizado” e desafios para a vigilância em saúde do trabalhador
A mesa “Trabalho precário, ‘uberizado’ e desafios para vigilância em saúde do trabalhador e promoção da equidade em saúde na contemporaneidade” contou com a participação da pesquisadora Simone Oliveira (Cesteh/ENSP) e da discente Carolina Ferrari. Foram apresentados dados do Estudo Epidemiológico sobre Saúde e Trabalho (EpisSAT), destacando impactos da precarização, da expansão da inteligência artificial e das microtarefas invisibilizadas. O debate reforçou que a intensificação dessas formas de trabalho produz efeitos profundos e crescentes na saúde dos trabalhadores.
Violência armada: impactos e interseccionalidades
Com coordenação da pesquisadora Fernanda Mendes (Claves/ENSP e PIVS/Fiocruz), a mesa “Violência armada: uma abordagem interseccional” debateu os impactos cotidianos da violência sobre territórios, serviços públicos e populações historicamente vulnerabilizadas. Fernanda destacou como a violência armada, especialmente nos territórios periféricos, constitui uma política de morte, afetando jovens negros, famílias e o funcionamento de escolas, unidades de saúde e rotinas comunitárias. A pesquisadora também apresentou estratégias de redução de danos e protocolos de segurança utilizados em serviços de saúde e educação.
Pesquisa com a população em situação de rua
A pesquisadora Roberta Gondim participou da mesa “Pesquisa com a população em situação de rua: bioética, método e política na produção de conhecimento em saúde”. Ela problematizou as práticas extrativistas presentes na pesquisa científica tradicional e ressaltou a necessidade de metodologias que valorizem as experiências e os saberes das pessoas em situação de rua.
O debate abordou ainda desigualdades estruturais, racismo e vulnerabilizações que atravessam a vida de mulheres negras, mulheres encarceradas, mulheres usuárias de drogas e mulheres trans e travestis, com destaque para pesquisas desenvolvidas na Maré e em outros contextos urbanos.
Cozinhas solidárias, soberania alimentar e participação popular
O pesquisador da ENSP Hermano Castro coordenou a mesa “Cozinhas solidárias: participação popular, soberania e segurança alimentar e nutricional”. A discussão relacionou o papel das cozinhas solidárias à saúde coletiva, ressaltando sua importância no enfrentamento da fome, especialmente em situações de desastres ambientais e emergências climáticas.
Monitoramento e avaliação em saúde indígena
A pesquisadora Angela Casanova participou da mesa “Monitoramento e avaliação em saúde indígena: desafios para sua implementação no SASI-SUS e para o enfrentamento à desinformação”, discutindo a produção de dados e os entraves para consolidar políticas efetivas de saúde indígena.
Desafios da integração de dados da população em situação de rua
A pesquisadora Elyne Engstrom, chefe do Departamento de Ciências Sociais da ENSP, coordenou a mesa “Desafios da integração do Cadastro Único da População em Situação de Rua com os sistemas de informação da saúde”.
Ela destacou que pensar políticas para essa população exige compreender a saúde em sua dimensão ampliada, enfrentando desigualdades estruturais, rupturas de vínculos, falta de proteção social, pobreza, desemprego, efeitos pós-pandemia e ausência de políticas habitacionais. Defendeu ainda que políticas baseadas em direitos são essenciais para garantir cuidado e cidadania.
Resultados do Censo Nacional das Unidades Básicas de Saúde
Coordenada pela pesquisadora Lígia Giovanella, a mesa “Resultados do Censo Nacional das UBS: desafios e proposições para ampliar o acesso equitativo e a qualidade dos serviços na APS” apresentou dados sobre infraestrutura, organização e ações de promoção da saúde na Atenção Primária. O debate destacou a importância de cuidados essenciais, aplicáveis em todo o território nacional, para prevenção, promoção da saúde e enfrentamento de doenças crônicas.
Orientação acadêmica na pós-graduação stricto sensu
A pesquisadora Cecília Minayo (Claves/ENSP), recentemente premiada pela Academia Mundial de Ciências, participou da mesa “A relação de orientação acadêmica na pós-graduação stricto sensu”. Ela apresentou características fundamentais de um bom orientador, destacando capacidade teórica, compromisso com a formação do estudante, clareza sobre competências a serem desenvolvidas e visão abrangente da realidade.
Soberania no contexto da digitalização dos serviços de saúde
A pesquisadora Mariana Albuquerque coordenou a mesa “Soberania no contexto da digitalização dos serviços de saúde”, que contou também com a participação de Leonardo Castro, coordenador do Núcleo de Ciência Aberta (NCA/ENSP).Mariana destacou a importância da soberania digital para os sistemas de saúde, citando a experiência de Cuba como referência na formação de profissionais e na gestão de informação em saúde. O debate abordou ainda disputas geopolíticas, dependência tecnológica, riscos e desafios associados às infraestruturas digitais, além das potencialidades do SUS como grande sistema de produção e gestão de dados.
Educação e Trabalho
A pesquisadora da ENSP, Maria Helena Machado, participou da mesa “Educação e Trabalho: Desafios e Perspectivas da Gestão no SUS”. O debate reuniu gestores, acadêmicos e um público expressivo em torno de temas como gestão do trabalho, educação em saúde e a construção da carreira SUS. A mesa trouxe a importância da discussão da carreira no SUS e a valorização dos trabalhadores e trabalhadoras da saúde.
Desafios do Pensamento Crítico em Saúde desde o Sul nas Democracias Latino-Americanas e Caribenhas
A pesquisadora do Claves/ENSP, Valeria Castro, coordenou a mesa “CLACSO: Desafios do Pensamento Crítico em Saúde desde o Sul nas Democracias Latino-Americanas e Caribenhas”, promovida pelo Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO). A atividade apresentou contribuições do conselho para o desenvolvimento do pensamento crítico em saúde na região.
A mesa abordou as contribuições da Abrasco e do CLACSO para a construção de um pensamento crítico na saúde; atividades e iniciativas já desenvolvidas nessa perspectiva; a construção colonialista do pensamento hegemônico em saúde coletiva na América Latina e Caribe; e o desafio de questionar essas estruturas no campo formativo e na prática em saúde.
A discussão incorporou ainda reflexões trazidas pelo público, com referências de diferentes áreas, como planejamento estratégico e ciências sociais e humanas, reforçando a importância de problematizar as ideias e práticas hegemônicas que reproduzem formas de colonialidade na saúde coletiva.
Valeria destacou a relevância de ampliar a saúde coletiva a partir de diferentes campos de conhecimento, o que enriquece o debate e favorece a criação de novas práticas. Ela também mencionou o grupo de estudos Feminismo Decolonial, Racismo e Saúde, que vem aprofundando o questionamento crítico sobre os referenciais que orientam a formação de grande parte dos trabalhadores da saúde.
ENSP nas comunicações coordenadas
Ao longo de todo o dia, pesquisadores, estudantes e trabalhadores estiveram em diversas comunicações orais curtas. Saúde ambiental, saberes tradicionais, ativismo, governança regional e violência foram alguns dos temas de destaque das comunicação orais curtas com apresentação de trabalhos de alunos, pesquisadores e trabalhadores da ENSP neste terceiro dia de congresso.
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