Complexo Econômico-Industrial da Saúde em debate no Abrascão
"É preciso orientar a economia para os objetivos do bem-estar e da sustentabilidade ambiental, articulando inovação e transformação produtiva às demandas do SUS e da sociedade”, enfatizou Carlos Gadelha, coordenador do grupo de pesquisa GPCEIS/CEE-ENSP/Fiocruz na abertura da mesa redonda da tarde da última terça-feira (2/12), no 14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, o Abrascão.
Com o tema “Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS): Soberania, Inovação e Desenvolvimento”, a mesa contou com as presenças da ministra de Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, e da ex-ministra da Saúde e pesquisadora da Fiocruz, Nísia Trindade. A mediação coube a Claudio Maierovitch, sanitarista da Fiocruz Brasília.
As debatedoras e o debatedor defenderam a necessidade de fortalecimento do CEIS, que coloca a produção nacional, a saúde e o Sistema Único de Saúde (SUS) como pilares fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Gadelha apresentou como as assimetrias globais desafiam a soberania nacional em saúde, demonstrando a concentração de conhecimento no Norte Global. Dados apontam como países em desenvolvimento têm poucos investimentos em ciência, tecnologia e inovação em relação a países como EUA, China, Reino Unido e Alemanha, que concentram 51,65% da produção científica mundial.
Gadelha indicou várias discrepâncias em saúde entre o Norte e o Sul globais, como em produção científica, de vacinas, propriedade intelectual e em saúde digital. Mas apontou que existe saída para a superação dessa realidade: uma estratégia nacional que utilize o poder de compra do SUS (maior sistema universal de saúde do mundo em população coberta) para articular instituições públicas e privadas, orientar a economia para atender às demandas da sociedade com sustentabilidade ambiental e desenvolver produtos e inovações.
A ministra Esther concordou e complementou, destacando o papel estratégico das compras governamentais para fortalecer a indústria brasileira, gerar empregos e reduzir a vulnerabilidade do SUS. “A saúde é uma grande inspiração e as compras públicas têm um peso gigantesco para fortalecer a indústria, gerar empregos e melhorar a balança comercial”. Nesse contexto, ela continuou, “a implementação da experiência exitosa do CEIS na área da saúde pode servir como exemplo de fortalecimento de outras áreas da sociedade”.
A ex-ministra da Saúde afirmou que o SUS aparece com uma grande missão. Nísia ressaltou a relevância das políticas voltadas ao fortalecimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, citando como exemplo a colaboração entre a Fiocruz, a Universidade de Oxford e a biofarmacêutica AstraZeneca para o desenvolvimento e a produção local da vacina contra a Covid-19, fundamental para garantir o direito à saúde durante a pandemia. Nísia ressaltou a necessidade da aceleração do acesso à ciência e às tecnologias para o enfrentamento de futuras pandemias.
Para Nísia, a fabricação da vacina contra a dengue — primeiro imunizante desenvolvido 100% no país, pelo Instituto Butantan — é uma demonstração do potencial da inovação. A vacina foi desenvolvida via Programa de Desenvolvimento e Inovação Local (PDIL), que visa impulsionar o desenvolvimento de soluções produtivas e tecnológicas para o SUS.
A mesa foi finalizada com a certeza de que é preciso fortalecer o CEIS para que a ciência, a tecnologia e a inovação caminhem juntas e em prol de um sistema universal de saúde. Autônomo, equânime, inclusivo, economicamente dinâmico e pautado pela sustentabilidade ambiental, orientando o desenvolvimento nacional a serviço da vida.
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