Busca do site
menu

Pesquisa da ENSP analisa mortalidade materna no Brasil com ênfase na Covid-19

ícone facebook
Publicado em:16/11/2023

Por Tatiane Vargas

Analisar a mortalidade materna no Brasil com ênfase na Covid-19 é o principal objetivo do estudo selecionado pelo Edital Pesquisa da VDPI/ENSP, e coordenado pelas pesquisadoras do Departamento de Epidemiologia da Escola, Mariza Theme e Silvana Granado. O estudo é um subprojeto da pesquisa de âmbito nacional 'Nascer no Brasil II' e pretende contribuir para o enfrentamento do grave problema de saúde pública que a mortalidade materna representa para o país. A pesquisa aponta que, entre 2020 e 2021, houve aproximadamente 1.200 óbitos maternos no Brasil. Com a análise, o estudo pretende contribuir com informações para a academia e para a sociedade sobre o tema. 

Na entrevista ao 'Informe ENSP', parte da série de entrevistas sobre as pesquisas realizadas no âmbito do Programa de Fomento, a coordenadora do projeto 'Mortalidade Materna na Pesquisa Nascer no Brasil II, com ênfase na Covid-19: um estudo caso-controle, 2020/2021', Mariza Theme, reforça que atualmente não existe nenhum estudo com dados primários no país que apresente a realidade dos óbitos maternos. Ao todo, para a análise, serão coletados dados em 465 maternidades públicas, privadas e mistas. Em fase de desenvolvimento, a pesquisa já analisou 1.077 óbitos, em um universo de 1.200 óbitos maternos registrado entre 2020 e 2021. 

Confira, abaixo, a entrevista na completa. 

Informe ENSP: Qual o principal objetivo da pesquisa 'Mortalidade Materna na Pesquisa Nascer no Brasil II, com ênfase na Covid-19: um estudo caso-controle, 2020/2021'?

Mariza Theme e Silvana Granado: Analisar a mortalidade materna por todas as causas, ocorridas entre 2020 e 2021, incluindo as mortes por Covid-19, em uma amostra de hospitais públicos e privados do Brasil, além de validar as causas de óbito e estimar o sub-registro no Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/MS). 

Informe ENSP: Com será o desenvolvimento do projeto?

Mariza Theme e Silvana Granado: Esse estudo é um subprojeto do 'Nascer no Brasil II', que tem os dados coletados nas mesmas instituições e pela mesma esquipe, mas podemos dizer que trata-se de outro estudo, com seus próprios desdobramentos. Ele será desenvolvido em três etapas. A primeira, de coleta de dados de prontuário de todos óbitos maternos ocorridos em 2020 e 2021, na amostra de maternidades do estudo NB II. Isso vai nos permitir ter conhecimento do óbito materno no Brasil, nas macrorregiões, em hospitais públicos, privados e mistos, das regiões metropolitanas e do interior. Mais especificamente, dos óbitos causados pela Covid-19. 

A segunda etapa da pesquisa será realizada por um grupo de obstetras treinados (por meio de um curso em parceira com IFF), para o preenchimento da declaração de óbito. Embora isso já seja uma função do médico, aprendida na graduação, realizamos um treinamento que ensina a fazer o preenchimento de forma padronizada. Então, esses médico estão pegando os dados da declaração para fazer uma nova declaração de óbito. Eles pegam as causas que eles identificam e são todos supervisionados por um obstetra expert (sênior). Ao todo, são cinco equipes, divididas entre Rio de Janeiro, Pernambuco, São Paulo, Santa Catarina e Belo Horizonte. Em cada estado teremos um obstetra sênior que será responsável pela revisão de cada declaração de óbito preenchida pelos médicos. Depois disso, a nova declaração será comparada com a declaração dada quando a morte materna ocorreu. 

A terceira e última etapa, que não está compreendida no âmbito deste estudo em específico, será a checagem no SIM/MS, com o objetivo de linkar o banco de dados nacional com o banco de dados da pesquisa, para, desta forma, verificar a classificação correta dos óbitos.

Neste sentido, a ideia é abastecer o banco da pesquisa e não analisar a completude do SIM. Mas, a partir de um projeto piloto no estado do Rio de Janeiro, verificamos que faltam óbitos no SIM no contexto do Rio de Janeiro. No entanto, essa parte da pesquisa não esta prevista como um resultado desse recorte do estudo. O intuito é apresentar esses dados posteriormente, como um anexo a pesquisa. 

Informe ENSP: Quais os resultados esperados com o estudo?

Mariza Theme e Silvana Granado: O primeiro deles é conhecer o perfil da mortalidade materna. Verificar onde morre mais, o motivo porque morre mais em determinando locais, o porque a mulher fica internada por mais tempo, tentar identificar essas razões que muitas vezes não são analisadas pelo Comitê de Óbitos. Para isso, fazemos questionamentos sobre quanto tempo ela perambulou pra chegar até a maternidade, a situação vacinal da mãe, entre outras perguntas. Desta forma, poderemos ter um estudo mais aprofundado sobre a Covid-19 na mortalidade materna. Também esperamos conhecer mais sobre a subnotificação do Sistema de Informação sobre mortalidade materna. Pois muitos problemas que temos vem exatamente da falta de informação. A investigação é fundamental pois agrega informação que o Sistema de Informação não tem, embora ele seja muito bom, ele tem seu limite de informação. Infelizmente o Brasil tem altos índices de mortalidade materna, na pandemia isso foi ainda maior, e não conseguimos atingir nenhum dos objetivos do milênio propostos sobre o tema. A nossa mortalidade materna ainda é um problema grave de saúde pública e um problema social muito sério. 

Informe ENSP: Quais contribuições o projeto de pesquisa traz para a sociedade e como ele contribui para o popularização da ciência?

Mariza Theme e Silvana Granado: A proposta é que ele traga informações mais detalhadas da morte materna, com dados coletados de forma padronizada em todo país. Não há estudos nacionais que avaliem a mortalidade materna, ou são aprofundados em locais restritos, ou são nacionais com banco de dados secundários. 

Informe ENSP: Como o projeto pretende contribuir para a ampliação do acesso as boas práticas na assistência obstétrica e na redução da mortalidade materna, vista como uma grande problema de saúde pública no Brasil? 

Mariza Theme e Silvana Granado: Quanto mais analisamos dados, dados qualificados, cada vez com uma amplitude maior, como são as investigações dos óbitos maternos, temos muito mais subsídios para discutir com os gestores e planejadores o que deve ser feito. Não temos dúvidas do que temos que melhorar seja a organização da assistência. Por exemplo, tentar compreender porque o Rio de Janeiro teve os maiores números de mortalidade materna, principalmente na pandemia. Precisamos discutir e entender porque essa assistência não chegou aonde ela deveria chegar. A Rede de casos graves precisa se organizar em Centros de Excelência para qual as mulheres devem ser encaminhadas. Pois o que temos visto é que o problema está muito relacionado a qualidade da assistência. Precisamos de UTI's maternas de referência para atender esses casos graves de forma precisa.



Nenhum comentário para: Pesquisa da ENSP analisa mortalidade materna no Brasil com ênfase na Covid-19