ENSP e instituições colombianas ampliam laços pela saúde intercultural e fortalecimento da Atenção Primária
Por Danielle Monteiro
“A missão foi pensada principalmente no sentido de mapear estratégias não clínicas existentes nos dois países para lidar com o sofrimento psíquico a partir dos saberes locais e da educação popular em saúde. E mapear atores e partes interessadas para fornecer subsídios que apoiem a construção de diretrizes para a saúde pública com abordagem intercultural e comunitária na APS”, sintetiza Vera, que coordenada a iniciativa.
Parte da missão acontecerá em Mitu, capital de Vaupés, região da Amazônia colombiana com predomínio indígena. Estão previstos encontros com vários coletivos dessa população. A pesquisadora destaca que a troca de experiências e conhecimento sobre saúde intercultural baseada na APS é relevante para o SUS em função da diversidade da população brasileira, com comunidades quilombolas, indígenas e de favela, que reúnem saberes populares de matriz africana e dos povos originários. “Se pensarmos que a interculturalidade diz respeito à relação entre grupos e pessoas com diversas visões de mundo e culturas, incluímos também grupos estigmatizados e com acesso dificultado na APS, como populações LGBTQ+, alcoolistas, pessoas com transtorno mental grave, entre outras”, esclarece.
A pesquisadora explica que existem semelhanças na determinação social da saúde entre Colômbia e Brasil, principalmente voltadas para povos historicamente excluídos e invisibilizados, com problemas como
violência de gênero e racial, insegurança alimentar, sofrimento psíquico e doenças crônicas associadas e intensificadas pelas condições da pobreza. “Temos o interesse comum de ampliar nossa capacidade de engajamento comunitário para que a APS e as populações possam fortalecer espaços de diálogo e colaboração para decisões compartilhadas. No Brasil, temos os Conselhos Gestores associados às Unidades Básicas de Saúde, com representação comunitária e das instituições. Esta importante política pública enfrenta desafios, entre eles, fragilidades na representatividade da população e falta de aderência das instituições sobre as deliberações dos Conselhos. Por isso, pretendemos refletir e colaborar na ampliação de mecanismos e metodologias de participação popular e incorporação de saberes locais em ações de saúde para ampliar o acesso nos serviços. O momento é propício, pois o CSEGSF/ENSP está investindo na retomada do seu Conselho Gestor", explica Vera.
Outro interesse na colaboração é a Terapia Comunitária Integrativa (TCI). Oferecida no CSEGSF/ENSP, a TCI é uma prática de cuidado e acolhimento ao sofrimento psíquico por meio do fortalecimento de vínculos, ampliação da rede de apoio e valorização da comunidade e dos recursos culturais locais para o enfrentamento das violências e vulnerabilidades. Segundo as pesquisadoras, este recurso terapêutico pode ser também de grande valia para a superação de desafios urgentes em saúde mental na Colômbia. “A região amazônica colombiana apresenta as maiores taxas de suicídio, violência de gênero, abuso de álcool e substâncias psicoativas do país, problemas recorrentes também em algumas comunidades indígenas no Brasil. Será uma oportunidade de apresentarmos a TCI como uma ferramenta de cuidado para este contexto. O momento é oportuno, pois está sendo formada, na América Latina e Caribe, uma rede de suporte e apoio a rodas de TCI, inclusive com comunidades indígenas na Bolívia, Peru, República Dominicana, Equador”, destacam as pesquisadoras.
Segundo elas, a missão deve render, para a ENSP, colaborações com enfoque em projetos que incorporem metodologias participativas, interculturais e territorializadas para a APS.
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