Parceria com instituição japonesa prevê ações voltadas a populações indígenas e contra Doença de Minamata
Por Danielle Monteiro
A ENSP e a Academia Japonesa de Habitação e Bem-Estar (Japan Academy of Housing for Living and Well-Being) estão a poucos passos de firmar um acordo de cooperação nas áreas de ensino, pesquisa, desenvolvimento tecnológico, comunicação, informação, gestão e políticas de saúde. A parceria terá enfoque em populações indígenas e pacientes que sofrem com a Doença de Minamata, tanto no Japão, quanto no Brasil. Nesta quarta-feira (27/09), a Escola recebeu a visita do membro do Conselho de Diretores e ex vice-presidente da instituição japonesa, Kunihiko Yoshida, para definir a versão final do memorando de entendimento para a cooperação internacional. A expectativa é de que o documento seja assinado ainda esse ano.
Entre as ações conjuntas, está prevista a captação de recursos financeiros e de infraestrutura local para a redução e reparação de danos sofridos pelos povos indígenas; encontros híbridos internacionais e trabalho de campo em populações indígenas na Amazônia Legal; preservação do conhecimento ambiental indígena para jovens; colaboração internacional em check-up de saúde e educação em saúde para os pacientes brasileiros com Doença de Minamata; projetos de investigação em saúde; intercâmbio acadêmico de pesquisadores e estudantes e de informação e documentação técnica em saúde; organização de seminários ou conferências científicas; e publicações de artigos e trabalhos científicos. Após a assinatura do acordo de cooperação, serão desenvolvidos planos de trabalho conjuntos, com ações específicas para a materialização da parceria.
Em março, o professor Yoshida acompanhou o trabalho de campo com o povo indígena Munduruku, no Pará, desenvolvido pelo grupo de pesquisa Ambiente, Diversidade e Saúde, da ENSP, coordenado pelo pesquisador Paulo Basta. O objetivo da visita foi entender se aquela população apresentava sinais e sintomas da Doença de Minamata, síndrome neurológia causada pela intoxicação por mercúrio. Advogado e especialista em direito ambiental e saúde, o professor Yoshida assumiu o compromisso de estabelecer uma aliança internacional para o enfrentamento da doença.
O professor Yoshida destacou que o acordo de cooperação é baseado em parcerias acadêmicas entre ele e o pesquisador da ENSP, Paulo Basta, e acredita que, considerando a longa relação amigável entre o Brasil e o Japão, a cooperação poderá contribuir para um relacionamento acadêmico mútuo. Segundo o professor, apesar das grandes diferenças entre a situação da contaminação por mercúrio em povos indígenas, no Brasil, e em populações que sofrem com a Doença de Minamata, no Japão, os dois países também têm muito em comum em relação a essa questão.
“O compartilhamento de informações sobre sintomas é muito importante. A educação sobre os hábitos alimentares em pacientes ou a educação dos profissionais de saúde pode ser muito importante no Brasil. A política governamental também é de importância crucial. Por isso, espero muito que haja uma política protetora em relação aos povos indígenas e que haja uma grande mudança. E também é preciso realizar mais investigações sobre a situação de contaminação por mercúrio na Amazônia”, afirmou o professor.
Presente ao encontro, o pesquisador da ENSP, Paulo Basta, acredita que a soma da expertise brasileira na contaminação por mercúrio em povos indígenas na Amazônia com a experiência japonesa na investigação sobre a Doença de Minamata renderá bons frutos: “Existe a grande possibilidade de essa cooperação resultar em ações concretas, como a criação de sistemas de abastecimento de água potável para comunidades expostas ao mercúrio e a construção de um Centro de Referência para doenças provocadas pela exposição à substância no Brasil, pois não temos nenhum no país”.
A partir da parceria, podem surgir, ainda, estratégias alternativas para as populações expostas ao mercúrio, segundo Basta: “É comum o garimpo se converter em uma fonte de renda para as comunidades locais. Durante séculos, foi negada assistência à saúde, direitos e serviços públicos essenciais a essas populações, e o garimpo ocupou esse espaço. Por isso, são necessárias ações governamentais e não governamentais, assim como a organização de instituições para contribuir para dar acesso à renda, educação e trabalho a essas populações, de forma que o desenvolvimento comece a acontecer dentro da comunidade, sem nenhuma dependência ou vínculo com o garimpo”.
Durante a reunião, o professor Yoshida demonstrou interesse em participar, ao final desse ano, de uma atividade desenvolvida junto ao povo indígena Yanomami, em Roraima, também coordenada pelo grupo de pesquisa liderada por Basta. A ideia é pensar em ações conjuntas que podem ser desenvolvidas pela ENSP e a instituição japonesa para o enfrentamento das consequências provocadas pela contaminação por mercúrio.
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