Aos condutores e condutoras do Brasil: a invisibilidade da sirene
Neste 10 de outubro, os coordenadores da pesquisa "Os Trabalhadores Invisíveis da Saúde no Contexto da Covid-19 no Brasil", Maria Helena Machado, João Batista Militão e Antônio Machado, homenageiam os condutores de ambulância do país. No texto, os pesquisadores destacam a essencialidade desses trabalhadores no sistema de saúde, sobretudo no contexto da Covid-19, e alertam para a necessidade de melhorar as condições de trabalho. “O condutor de ambulância não é motorista simplesmente, é um profissional de saúde da equipe, integrado e essencial à assistência prestada à população brasileira”.
Hoje, 10 de outubro é o dia consagrado aos Condutores e Condutoras de ambulâncias de nosso país.
Em tempos de pandemia, é preciso resgatar a imagem daqueles que, de forma discreta, atenta e determinada, conduz nossos enfermos que necessitam de atendimento emergencial até um estabelecimento de saúde.
Em tempos de pandemia, nunca foi tão forte e presente em nossas mentes e corações o soar da sirene das ambulâncias, pedindo passagem nas ruas de nossas cidades, estradas e rodovias desse Brasil imenso e desigual.
E o que significa ser Condutor de Ambulância? “É aquele que conduz a ambulância no transporte de emergência, zelando pelos pacientes e equipe de saúde. Faz a transferência de pacientes com ambulância simples e UTI seguindo as rotas, assim como a manutenção e organização do veículo”.
Em tempos de pandemia, as desigualdades, inequidades e especialmente, as invisibilidades sociais no mundo do trabalho da saúde tornam-se mais evidentes, deixando a realidade cotidiana falar por si só. Aqui queremos focar na invisibilidade daquele que conduz a ambulância, quase sempre, com a sirene ligada, pedindo atenção e passagem no transporte de um paciente grave e que requer cuidados especiais. Ali, está sendo conduzido uma vida em risco.
Naquele veículo, zelando pela vida desse paciente, está presente uma equipe de saúde indissociável, formada pelos profissionais médico, de enfermagem e o condutor de ambulância. São profissionais de saúde com formação especifica, com treinamento específico e com legislação específica, buscando a proteção e os cuidados necessários àqueles que necessitam de atendimento emergencial. Assim deveria ser.
Contudo, no contexto da Covid-19, a situação dessa equipe revela-se severas dificuldades de manutenção dessa premissa universal: Proteger nossos profissionais de saúde para salvarem nossas vidas.
Estamos falando não só das condições de trabalho, por vezes inadequadas e deficitárias, mas também da própria manutenção dos veículos utilizados, evidenciando riscos à segurança da equipe de saúde e, consequentemente, dos pacientes que estão sendo levados. Não são poucos os registros de acidentes envolvendo ambulâncias nas vias urbanas e estradas, por vezes, gerando vítimas fatais daqueles que conduzem e dos que são conduzidos. Quase sempre, os relatos são de precariedade, falta de manutenção permanente e até inadequação do veículo utilizado. Não há valor mais importante que vidas.
Em tempos de pandemia, torna-se imperioso falar dessa invisibilidade social do condutor de ambulância, com severos sinais de sobrecarga de trabalho, salários desiguais, direitos trabalhistas sob ameaça de confisco: insalubridade, horas extras, férias, diárias insuficientes para sua manutenção em deslocamentos de intermunicipais, entre outras questões. Da invisibilidade do condutor de ambulância na própria equipe de saúde.
Nesse dia 10 de outubro, em período pandêmico de 2020-2021, é preciso pensar, agir e promover bem estar e a cidadania profissional daquele que abre caminho conduzindo vidas em risco. Reafirmar que o condutor de ambulância não é motorista simplesmente, é um profissional de saúde da equipe, integrado e essencial à assistência prestada à população brasileira.
Cidadania profissional plena a todos e todas!
Salve todos e todas condutores e condutoras de ambulância de nosso país!
Maria Helena Machado
João Batista Militão
Antônio Machado
Pesquisadores e da coordenação da pesquisa: Os trabalhadores invisíveis da saúde no contexto da Covid-19 no Brasil (Ensp-CEE/Fiocruz, 2021).
Imagem: Geraldo Magela/Agência Senado
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