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Pesquisadora explica como estresse térmico e outros impactos da emergência climática ameaçam a saúde pública

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Publicado em:12/11/2024
Aumento de hospitalizações e da mortalidade por doenças cardiovasculares e respiratórias. Propagação de doenças vetoriais. Insegurança alimentar e desnutrição. Questões de saúde metal. Esses são alguns dos impactos da emergência climática à saúde que já podem ser observados, aponta a pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) Sandra Hacon. A professora lista ainda uma série de sinais e sintomas associados, por exemplo, ao estresse térmico, que ocorre em razão do aumento das temperaturas, como durante ondas de calor: tonteira, sensação de desmaio, enjoo, dor de cabeça. 

“Já estamos vivenciando uma emergência climática. As previsões já indicam aumento das ondas de calor, estresse térmico, e a alta da temperatura. Já estamos vivenciando todas essas alterações. É urgente que o setor saúde se estruture para capacitar seus profissionais e crie condições de logística e infraestrutura que atendam ao ‘novo normal’, evitando o aumento do adoecimento, internações e óbitos em decorrência do aumento de temperatura”, explica a especialista. 

Hacon destaca ainda que os impactos atingem as populações em intensidades diferentes. Ao considerar a complexidade da estrutura social brasileira, com marcada peça desigualdade social, a pesquisadora afirma que há “uma variedade de impactos negativos para a saúde pública, de diferentes magnitudes para as populações expostas”. Segundo ela, comunidades de baixa renda, crianças, idosos e gestantes são os grupos mais vulneráveis. 

+ Saiba mais sobre o tema no especial Mudanças Climáticas, da Agência Fiocruz de Notícias

Informe ENSP: Por que as alterações climáticas constituem um risco para a saúde humana, principalmente nas regiões tropicais?

Sandra Hacon: As implicações da emergência climática para a saúde da população são uma ameaça significativa. A estrutura social da população brasileira é extremamente complexa, com elevado grau de desigualdade social. Isso implica numa variedade de impactos negativos para a saúde pública, de diferentes magnitudes para as populações expostas, com diferentes prioridades ao nível institucional para a saúde da população brasileira.

Os impactos da emergência climática sobre a saúde humana ocorrem com diferentes severidades dependendo do grau de vulnerabilidade das comunidades expostas. 

Informe ENSP: Quais são os potenciais riscos à saúde causados pelo estresse térmico?

Sandra Hacon: Os riscos sobre a saúde referente ao estresse térmico (termo técnico para definir o impacto do aumento das temperaturas no corpo humano), dependem das condições de exposição (contínua ou intermitente), duração e frequência, condições pretéritas de saúde, condições ambientais, condições sociais (local de moradia, renda, escolaridade, acesso a serviços de saúde) e fatores genéticos.  Mas, geralmente, os grupos mais vulneráveis são os mais atingidos, ou seja, os que mais sofrem, como as comunidades de baixa renda e as crianças, devido ao equilíbrio homeostásico ainda em desenvolvimento. Bem como os idosos, porque muitas vezes já apresentam dificuldades em manter seu equilíbrio homeostásico, desidratando com maior facilidade. O mesmo ocorre com as gestantes que precisam manter a pressão arterial e o consumo de líquidos em equilíbrio, e muitas vezes, isso não é possível.  

Alguns dos impactos de estresse térmico são: desequilíbrio homeostático no organismo, com sinais e sintomas como tonteira, sensação de desmaio, enjoo, dor de cabeça e aumento de hospitalizações e da mortalidade por doenças cardiovasculares e respiratórias. Pacientes em hemodiálise, por exemplo, devem controlar a pressão arterial e manter o corpo hidratado. Esse grupo é de elevado risco num cenário de estresse térmico.

Informe ENSP: 2024 foi um ano marcado por várias "ondas de calor" em todo o país, principalmente em Goiás. No futuro, que impacto essas condições de estresse térmico podem causar na saúde da população?

Sandra Hacon: Como já mencionado pela mídia e por alguns pesquisadores, já estamos vivenciando uma emergência climática, na qual o “novo normal” traz inúmeros impactos para a população brasileira. Alguns deles já são previstos pelos centros de informação que atuam na caracterização do clima presente e sua variabilidade em longo prazo, assim como realizam estudos de projeções de cenários climáticos futuros para prever os impactos no século 21.  

As previsões já indicam aumento das ondas de calor, estresse térmico, e a alta da temperatura. Já estamos vivenciando todas essas alterações. É urgente que o setor saúde se estruture para capacitar seus profissionais e crie condições de logística e infraestrutura que atendam ao “novo normal”, evitando o aumento do adoecimento, internações e óbitos em decorrência do aumento de temperatura. 

Informe ENSP: Quais são os desafios para os serviços e os profissionais de saúde em lidar com as altas temperaturas, digo no sentido de identificar os sinais e sintomas causados pelo estresse térmico?

Sandra Hacon: Os principais desafios estão relacionados com a mitigação e a adaptação com abrangência para os 5.570 municípios brasileiros, com diferentes estágios  de infraestrutura e logística, limitada capacitação em uma área relativamente nova (impactos das ondas de calor e do estresse térmico), falta de saneamento em 50% dos municípios, e, comunidades tradicionais em áreas remotas. Outros desafios referem-se a frequência de tempestades intensas, com ameaça à saúde da população por meio de mudanças adversas, além do aumento da poluição do ar, da propagação de doenças vetoriais, como a dengue que atingiu a 6 milhões de casos no Brasil. A insegurança alimentar e a desnutrição, além das questões de saúde metal, já são problemas associados à emergência climática.

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