Insegurança alimentar: ENSP debate estratégias para enfrentar o problema na América Latina
Por Danielle Monteiro
Esta terça-feira (10/09) na ENSP foi de debate sobre as crises alimentar e climática nas Américas. A Escola foi palco da primeira reunião presencial do Grupo de Estudos sobre Sistemas Alimentares Latino-americanos no Marco da Mudança Global (SALA Global). O encontro reuniu representantes de instituições de nove dos 11 países integrantes do grupo. O objetivo foi promover o intercâmbio de experiências latino-americanas voltadas ao enfrentamento da insegurança alimentar e identificar estratégias de aproximação entre a academia e movimentos sociais para a garantia da segurança e soberania alimentar no marco da mudança global. O intuito também foi estabelecer uma agenda regional que articule ensino, pesquisa e comunicação/divulgação científica para enfrentar as crises alimentar e climática.
Criado em 2022, o SALA Global é formado por 83 pesquisadores, vinculados a 30 instituições acadêmicas de países latino-americanos. O grupo é coordenado pelos pesquisadores da ENSP Ana Laura Brandão e Frederico Peres, juntamente com a professora do Instituto de Nutrição da UERJ (INU/UERJ), Juliana Casemiro.
Presente à abertura da reunião, o diretor da ENSP, Marco Menezes, afirmou que a temática escolhida para o aniversário de 70 anos da Escola (“Reparação histórica, desigualdades e a construção do comum”) perpassa pelo debate sobre emergência climática, crise hídrica e o enfrentamento da fome no mundo. Ele frisou que, para a ENSP, a interface entre as emergências climáticas e a saúde está entre as questões mais importantes no debate sobre saúde pública e coletiva e as determinações socioambientais da saúde.
Menezes lembrou que a ENSP tem uma agenda interna voltada para os temas da emergência climática e saúde, e citou a agroecologia como um dos caminhos, apostados pela Escola, para o enfrentamento da crise alimentar. Como ações da instituição, centradas nessas temáticas, o diretor mencionou a palestra sobre Mudanças Climáticas realizada na Semana de Abertura do Ano Letivo, a recente inauguração de um espaço para oferta de comida agroecológica, a realização da Feira Agroecológica Josué de Castro e a participação da ENSP em eventos internacionais.
Ele salientou a importância da realização da reunião do SALA Global para o enfrentamento das emergências climáticas e da insegurança alimentar nas Américas, e saudou o lançamento do livro Insegurança Alimentar e Emergência Climática: sindemia global e um desafio de Saúde Pública na América Latina, organizado pelo grupo. “Enquanto instituição formadora de sanitaristas, a ENSP desempenha um papel fundamental na discussão do enfrentamento das crises alimentar e climática e no estreitamento da relação da academia com os movimentos sociais. Como desafio, temos à frente a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (Cop 30), para a qual a Fiocruz está se organizando e com a qual o Grupo SALA Global tem muito a contribuir. Podemos assumir esse compromisso enquanto Escola de Saúde Pública”, declarou.
Ainda durante o encontro, cada um dos participantes relatou como seu país tem enfrentado as crises alimentar e climática nos campos de Pesquisa, Ensino e Divulgação Científica. Eles compartilharam desafios em comum na área, entre eles, o aumento da insegurança alimentar severa após a pandemia de Covid-19, o crescimento do conflito armado, a redução da produção de cultivos e da pesca, assim como os frequentes eventos climáticos que provocam catástrofes e afetam o acesso a recursos.
Os integrantes do SALA Global também relataram algumas das estratégias de enfrentamento da insegurança alimentar adotadas pelo governo e a sociedade civil de seu país. Foram citadas ações como o fomento de projetos de produção e de territórios camponeses sustentáveis, a mudança de matriz energética, o monitoramento da temperatura e da qualidade da água nas diversas regiões nacionais, o estabelecimento de redes de agroecologia, entre outras.
Na ocasião, a coordenadora do SALA Global e pesquisadora da ENSP, Ana Laura Brandão, fez uma apresentação sobre o histórico das atividades do grupo ao longo de seus dois anos de atuação, destacando, entre elas, a organização do livro Insegurança Alimentar e Emergência Climática: sindemia global e um desafio de Saúde Pública na América Latina, nas versões em português e espanhol.
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Ana Laura também sugeriu algumas possibilidades de futuras ações do grupo. Foram propostos o mapeamento da formação em Saúde Ambiental e Alimentação/Nutrição na América Latina; a organização de um livro sobre Emergência Climática e o Papel das Escolas de Saúde Pública; a realização de iniciativas de divulgação científica; e a acreditação do SALA Global junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Os participantes propuseram a criação de chamadas internacionais para projetos conjuntos de pesquisa e formação, entre elas, a oferta de cursos híbridos e interdisciplinares sobre mudança climática e segurança alimentar. Foi sugerida, ainda, a elaboração de um artigo de posicionamento do grupo sobre as crises alimentar e climática no contexto latino-americano, alertando para questões como o impacto das mudanças climáticas na saúde de comunidades tradicionais, a falta de acesso a recursos e projeções do clima futuro na região.
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Na parte da tarde, os visitantes participaram da Atividade Autogestionada do 6 ª Encontro Nacional de Pesquisa em Segurança Alimentar e Nutricional (ENPSSAN) - SALA Global: articulando pesquisa, formação e divulgação científica para o enfrentamento das crises climática e alimentar na América Latina.
Nos dias 11 e 12 de setembro, os pesquisadores do SALA Global participarão do 6 ª ENPSSAN, que acontecerá na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Na ocasião, será lançada a edição em português do livro Insegurança Alimentar e Emergência Climática: sindemia global e um desafio de Saúde Pública na América Latina.
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