Hélio Fraga/ENSP reforça importância de enfrentar determinação social para eliminar tuberculose
*Por Tatiane Vargas
Realizado em alusão ao ‘Dia Mundial da Tuberculose’, o 4º Simpósio contou com a participação de profissionais das diferentes áreas de atuação do Hélio Fraga, unidade de referência para o Sistema Único de Saúde no tratamento da tuberculose.
Impactos da pandemia no enfrentamento à tuberculose no Brasil
Durante o 4º Simpósio do Dia Mundial da Tuberculose, realizado no Centro de Referência Professor Hélio Fraga, Paulo Victor Viana, coordenador da unidade, abordou o panorama atual da tuberculose no Brasil, destacando os impactos negativos da pandemia de Covid-19 no enfrentamento da doença.
Segundo Viana, a mobilização para o combate à pandemia causou interrupções significativas no diagnóstico e no tratamento da tuberculose, o que refletiu em números preocupantes nos últimos anos. O coordenador enfatizou que, apesar de esforços no controle da pandemia, os números de casos de tuberculose no país seguem elevados. “O Brasil tem registrado cerca de 84 mil casos novos anualmente, que se somados aos aproximadamente 20 mil casos de retratamento, chegam a mais de 100 mil casos notificados. Viana também alertou para a alta taxa de mortalidade, com 6 mil óbitos registrados em 2024, o que representa o maior número de mortes por tuberculose no país em mais de duas décadas. A média de 16 óbitos diários, segundo ele, é um reflexo alarmante da gravidade da situação.
Viana também observou as particularidades do Estado do Rio de Janeiro, que possui características que favorecem a propagação da tuberculose. No entanto, ele ressaltou alguns avanços, como o aumento do acesso a novos medicamentos e a implementação de métodos diagnósticos mais eficazes. Para ele, embora as inovações biomédicas sejam um avanço, a solução definitiva para o problema depende de ações estruturais que enfrentem as desigualdades sociais e melhorem as condições de vida da população.
Por fim, o coordenador destacou a importância da capacitação de profissionais de saúde. Ele mencionou o sucesso do curso sobre manejo e tratamento da infecção latente, promovido pelo Centro Hélio Fraga, que contou com a participação de mais de 70 alunos de todo o Brasil. Viana concluiu alertando para a necessidade de um esforço contínuo, tanto no fortalecimento da rede de saúde quanto na luta contra as desigualdades sociais, para que o Brasil consiga, de fato, controlar a tuberculose nos próximos anos.
A importância da articulação intersetorial para o enfrentamento da TB
Menezes destacou que, apesar dos avanços, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos na redução dos casos de tuberculose, citando dados alarmantes que projetam um cenário preocupante até a próxima década. Com 39.1 casos por 100 mil habitantes em 2024, e projeção de 42.1 casos por 100 mil habitantes para 2030.
Ele sublinhou a importância de políticas públicas eficazes, e do papel da Fiocruz como instituição estratégica do estado, na implementação de estratégias de prevenção e tratamento da doença. O diretor também falou sobre a necessidade de uma abordagem que leve em consideração os determinantes sociais da saúde, como educação e assistência social, defendendo uma ação mais integrada entre diferentes áreas do governo e da sociedade civil. “O combate à tuberculose exige um esforço conjunto, envolvendo desde a implementação de políticas públicas até a participação ativa de movimentos sociais e instituições de pesquisa”, afirmou.
Menezes ainda comentou sobre a nova configuração do Ministério da Saúde e a importância de fortalecer a articulação entre os diversos níveis de governo e as organizações sociais, com o objetivo de potencializar a eficácia das políticas de saúde pública. Ao concluir, o diretor reforçou o compromisso da ENSP e das instituições envolvidas na luta contra a tuberculose, destacando que a integração e o trabalho colaborativo são essenciais para o sucesso na eliminação da doença e para a melhoria da assistência aos pacientes.
Rede de Laboratórios de Diagnóstico de Tuberculose: organização e gerenciamento
Fátima Fandinho, chefe do Laboratório de Referência Nacional de Tuberculose e Micobacterioses do Centro de Referência Professor Hélio Fraga, apresentou uma visão detalhada sobre a organização e o gerenciamento da Rede de Laboratórios de Diagnóstico de Tuberculose. Em sua fala, Fátima explicou a estruturação dos Laboratórios de Referência Nacional (LRN) e Regional (LRR), fundamentais para o diagnóstico da tuberculose e micobacterioses.
Entre as atribuições do LRN, estão: assessorar o gestor nacional (CGLAB) no acompanhamento, normalização e padronização de técnicas, além de avaliar as atividades dos laboratórios de tuberculose; coordenar tecnicamente a rede de vigilância laboratorial da tuberculose; realizar procedimentos de alta complexidade; distribuir insumos aos LACENs; desenvolver e avaliar métodos e pesquisas; promover capacitações, seminários e treinamentos; realizar Avaliação Externa da Qualidade para os testes de baciloscopia, cultura e teste de sensibilidade; e realizar visitas técnicas aos LRR e LACENs.
Fátima ainda citou o Manual de Recomendações para o Diagnóstico da TB, do Ministério da Saúde, e destacou as principais práticas de diagnóstico realizadas no Laboratório de Referência Nacional, incluindo baciloscopia, cultura e TSA - Fenotípico.
Pretomanida no tratamento da Tuberculose Resistente no Brasil: desafios e perspectivas
O médico do Ambulatório de Pesquisa Germano Gerhardt do Centro de Referência Professor Hélio Fraga, Jorge Rocha, abordou os desafios e as perspectivas na implementação da Pretomanida para o tratamento da tuberculose resistente no Brasil. Em sua apresentação, Rocha traçou a evolução do manejo da tuberculose multirresistente (TBMDR), desde o primeiro esquema terapêutico, que exigia 18 meses de tratamento, até os novos esquemas, como o BPaL, utilizado atualmente no Hélio Fraga com nove pacientes.
Jorge Rocha também pontuou os desafios persistentes para o controle da TBMDR, como o diagnóstico precoce, a rede de referência e contrarreferência, o tratamento adequado, o acompanhamento multidisciplinar, o sistema de vigilância e o controle de contatos. Em 2022, o Brasil registrou 64% de sucesso terapêutico, 25% de taxa de abandono do tratamento e 7,3% de óbitos.
Farmacovigilância em Tuberculose: ações no CRPHF
No CRPHF, três métodos de coleta de Eventos Adversos (EA) foram padronizados: Farmacovigilância ativa - Análise de prontuários; Farmacovigilância ativa - Entrevistas com pacientes; e Farmacovigilância passiva - Notificação espontânea por profissionais de saúde. A farmacêutica ressaltou que as mulheres são mais afetadas por eventos adversos do que os homens.
Érica também abordou as mudanças na Farmacovigilância com o uso da Pretomanida, destacando importantes resultados dessa atividade, como o Curso de Farmacovigilância em Tuberculose (EAD), realizado em 2022, o Guia de Farmacovigilância em Tuberculose, que está em fase de revisão para publicação no Ministério da Saúde, e o Livro de Interações Medicamentosas com Medicamentos Anti-TB, também prestes a ser publicado. A farmacêutica ainda destacou a participação do CRPHF no Grupo de Trabalho de Farmacovigilância da Fiocruz, que recentemente ofereceu a primeira especialização em farmacovigilância.
Livro em Movimento promove ação de doação no 4º Simpósio do Dia Mundial da Tuberculose
Confira a galeria de fotos do evento no final da matéria.
Durante o 4º Simpósio do Dia Mundial da Tuberculose, promovido pelo CRPHF, a ação cultural do projeto Livro em Movimento foi um dos destaques. O projeto realizou uma doação e troca de livros, que chamou a atenção dos participantes. Ao final do evento, os presentes foram sorteados e receberam livros, incentivando a troca de conhecimento e experiências.
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