A vastidão da Atenção Primária à Saúde no SUS em debate na ENSP
A 15ª edição do Ciclo de Debates - Conversando sobre a Estratégia de Saúde da Família, promovida pela Residência Multiprofissional em Saúde da Família da ENSP/Fiocruz, trouxe para a discussão a vastidão da Atenção Primária em Saúde no cuidado durante a pandemia de Covid-19. Para falar sobre o tema, estiveram presentes a presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Gulnar Azevedo, e o pesquisador da ENSP e coordenador do Observatório Covid-19 Fiocruz, Carlos Machado. O debate foi mediado pelo também pesquisador da Escola, Gustavo Matta.
Abrindo o XV Ciclo de Debates, a coordenadora-geral do curso, Mirna Teixeira, e as coordenadoras adjuntas, Maria Alice Pessanha e Ana Laura Brandão, ressaltaram a importância da realização do tradicional evento, promovido há 15 anos pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família. O curso registra 16 anos de história; porém, em 2020, devido à pandemia de Covid-19, o Ciclo de Debates não pôde ser realizado. “Este ano, contando com a ajuda de todos, conseguimos promover a 15ª edição em um contexto tão difícil. Agradecemos imensamente a todos que colaboraram para a realização do nosso tradicional evento”, destacou Mirna Teixeira.
A Abrasco na pandemia
Abrindo as apresentações da mesa “A Vastidão da Atenção Primária em Saúde no cuidado durante a pandemia de Covid-19”, a presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Gulnar Azevedo, expôs o trabalho desenvolvido pela Abrasco antes e durante a pandemia, destacando a Atenção Básica em Saúde. Iniciou sua fala ressaltando que não há dúvidas de que o SUS é um sistema brasileiro que expandiu o acesso à saúde no Brasil.
Segundo ela, de 2003 a 2014, a expansão do acesso no SUS, associada aos importantes avanços em programas sociais de transferência de renda, como o Bolsa Família, a aposentadoria rural e o aumento de salário mínimo, aponta um progresso nas condições de saúde e diminuição das desigualdades sociais. “Diversos indicadores de saúde melhoraram muito, em especial na Região Nordeste, entre 1990 e 2015”, citou.
Gulnar expôs, também, os desafios para o SUS com a pandemia da Covid-19, destacando a destruição rápida de empregos e de setores inteiros da economia, além de chamar a atenção que a demanda pela saúde aumentará, e a fragilidade do SUS será mais evidente. Para ela, o pós-pandemia será no campo das políticas de recuperação da economia.
Em seguida, a coordenadora expôs a atuação da Associação Brasileira de Saúde Coletiva desde o início da pandemia, destacando importantes documentos publicados pela Abrasco, como a carta enviada ao ministro sobre o risco de disseminação da Covid-19 nas unidades básicas de saúde, além de outros documentos como o Manifesto da Frente pela Vida “A maior calamidade da nossa história, o Brasil não pode se calar”, a “Carta aberta da Frente pela Vida e Conselhos de Saúde ao povo brasileiro”, entre outras importantes colaborações. Por fim, Gulnar pontuou alguns desafios para o SUS diante da crise da saúde agravada pela pandemia de Covid-19.
Observatório Covid-19 Fiocruz
O pesquisador da ENSP e coordenador do Observatório Covid-19 Fiocruz, Carlos Machado, fez sua apresentação baseado na experiência dos trabalhos que vêm sendo desenvolvidos pelo Observatório e, também, com base na sua trajetória na saúde coletiva. Iniciando sua fala, Carlos fez uma breve contextualização sobre os aspectos singulares e estruturantes da pandemia de Covid-19. Em seguida, falou acerca dos casos e óbitos na pandemia e atual situação do Rio de Janeiro.
“Estamos vivendo uma segunda onda, que começou em fevereiro, e a ter o dobro de óbitos, por exemplo, da pior fase que ocorreu entre maio e agosto de 2020. Em março de abril de 2021, chegamos a ter o triplo de óbitos. Sendo assim, mesmo com uma queda, nas duas últimas semanas, em termos de casos, óbitos e taxa de ocupação de leitos, que são alguns dos indicadores, continuamos num nível muito elevado, numa situação gravíssima”, alertou ele.
Encerrando sua apresentação, Carlos falou sobre as múltiplas faces das intervenções e cuidados na pandemia de Covid-19. O coordenador expôs o estudo Modelagem da pandemia Covid-19 como objeto complexo (notas samajianas), de Naomar de Almeida Filho, que apresenta três planos de emergência e suas respectivas interfaces hierárquicas, sendo eles: subindividual (sistémico/tissular/celular/molecular); individual (clínico/pessoal); e coletivo (epidemiológico/populacional/social). Por fim, Carlos Machado apresentou os boletins das semanas epidemiológicas 44 e 45, do Observatório Covid-19, trazendo o conceito de sindemia.
Confira, abaixo, o vídeo com a palestra na íntegra:
Sobre o Observatório
O Observatório Covid-19 Fiocruz tem como função produzir informações para ação. Seu objetivo geral é o desenvolvimento de análises integradas, tecnologias, propostas e soluções para enfrentamento da pandemia por Covid-19 pelo SUS e pela sociedade brasileira. O Observatório está estruturado de modo colaborativo, permitindo que as iniciativas e os trabalhos já desenvolvidos nos diversos laboratórios, grupos de pesquisas e setores da Fiocruz, no âmbito de suas competências e expertises, desenvolvam suas atividades de forma ágil, em redes de cooperações internas e externas, para a produção e divulgação de materiais para o enfrentamento da pandemia. Sua dinâmica de trabalho envolve a produção de informações, dashboards, análises, desenvolvimento de tecnologias e propostas.
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