Encontro Nacional: mulheres com deficiência protagonizam debate sobre direitos e inclusão em Brasília
Valorização e empoderamento das mulheres com deficiência. Reforço de redes de apoio. Enfrentamento à violência. Combate ao capacitismo. Essas foram algumas das marcas do 'Encontro Nacional de Mulheres com Deficiência: Protagonismo Sem Limite', realizado em Brasília nos dias 25 e 26 de março. O evento foi organizado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, por meio da Secretaria da Pessoa com Deficiência, em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) e o Fundo de População das Nações Unidas no Brasil (UNFPA).
A pesquisadora Laís Costa representou a ENSP e, na abertura do encontro, reforçou a importância da produção de conhecimento aliada à participação ativa das mulheres com deficiência. “A gente reconhece a importância de avançar com as políticas universais a partir da perspectiva da interseccionalidade e dos marcadores sociais. Entendemos que, em qualquer lugar que olhamos, a criança, a menina e a mulher com deficiência são mais vulnerabilizadas, mais vitimizadas e desacreditadas. Então, o que a gente tem feito é produzir conhecimento científico e atuar na formação, fazendo isso sempre ao lado das próprias pessoas com deficiência”, pontuou.
A ministra Macaé Evaristo também marcou presença no encontro. Ela destacou que as desigualdades sociais e estruturais afetam a vida das mulheres de diversas formas, especialmente quando se trata de mulheres negras, com deficiência e de outros grupos e marcadores sociais. “Sabemos que a nossa sociedade se faz sobre uma construção histórica, patriarcal, patrimonialista, racista e capacitista. Então, quando nós estamos falando de mulheres nas suas diferentes mulheridades, sabemos que as violações de direitos vão existir com intensidades diferenciadas. Portanto, esse encontro se reveste de uma importância fundamental para denunciar o capacitismo, a intolerância, a violência e ajudar a construir políticas públicas”, disse.
Já a secretária nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, Anna Paula Feminella, ressaltou que o encontro nacional é uma oportunidade para compartilhar reflexões e conhecer a luta recente pelo protagonismo das pessoas com deficiência, contada pelas próprias protagonistas. "Nós estamos aqui, cada vez mais firmes, com a certeza de que não estamos sós. Quem quer nos impedir o acesso à vida pública não conhece a força da coletividade, não sabe que muitas de nós renascemos todos os dias. Viemos das favelas, dos quilombos, dos territórios ribeirinhos e do isolamento. Somos aquelas que foram esquecidas, mas que se atreveram a estar em todos os ambientes. Agora, lutamos por equidade, nos unimos por uma vida digna e por um mundo justo para todas as pessoas", destacou.
A pesquisadora Laís Costa ao lado da ministra Macaé Evaristo e da secretária Anna Paula Feminella. Foto: Clarice Castro/MDHC
Presidente da ENAP, Betânia Lemos sublinhou a importância de o evento ser realizado 10 anos após a primeira edição: "Foram necessários dez anos para que pudéssemos estar aqui de novo. Isso é muito simbólico, sobretudo porque entendemos que a administração pública funciona com a participação da sociedade civil". A representante do UNFPA no Brasil e Diretora de País para o Uruguai e o Paraguai, Florbela Fernandes, destacou a necessidade de combater as múltiplas formas de discriminação enfrentadas por mulheres com deficiência. "A discriminação e a violência contra mulheres com deficiência estão relacionadas a desigualdades de gênero, ao capacitismo e a outras dinâmicas de poder que impedem o pleno exercício de seus direitos", afirmou.
A administradora Ana Paula Trindade, moradora de Boituva, no interior de São Paulo, e mulher com deficiência visual, também destacou a relevância do encontro como espaço de escuta e troca de experiências. “Eu acho imprescindível ter diferentes lugares de fala, porque cada mulher tem uma vivência diferente, de acordo com sua territorialidade. Precisamos ouvir essas mulheres e entender o que as afeta nos lugares onde estão inseridas”, afirmou, ao relatar os desafios de acessibilidade em sua cidade.
Na manhã de terça-feira (25/3), o painel 'Agenda Internacional e Protagonismo Político' reuniu referências: Regina Atalla, Catia Brito e Vitória Bernardes, além da mediadora Laíssa Costa. À tarde, nomes de peso para tratar da violência contra meninas e mulheres com deficiência: Camila Aragão, Ewelin Canizares, Thais Becker e a mediadora Neusa Maria. Houve ainda uma roda de conversa sobre o caso de Sônia Maria de Jesus, com Rosana Lago, Nayara Falcão e Josefina Serra, além de uma homenagem à Izabel Maria Loureiro Maior.
Já na quarta-feira (26/3), o tema foi 'Interseccionalidade'. Mediado por Jéssica Borges, o painel teve como palestrantes Anahí Guedes de Mello, Sol Terena e Walleria Suri. Em seguida, o assunto em debate foi "Perspectivas sobre Ética do Cuidado e Saúde da Mulher", com participação de Isadora Nascimento, Juliana Paiva e Karla Garcia Luiz, que contaram com Mila D’Oliveira como mediadora. E ainda: a advogada Priscilla Selares apresentou o Fórum Nacional de Gestores e Gestoras de Políticas para Pessoas com Deficiência às presentes.
Interseccionalidade, diversidade de vivências e entraves ao acesso a políticas públicas foram debatidos por mulheres de todo o Brasil durante os dois dias. O Encontro Nacional foi uma oportunidade de fortalecer a articulação entre movimentos sociais de pessoas com deficiência, instituições públicas e outros órgãos.
*Com informações do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania
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