ENSP/Fiocruz participa do lançamento do Programa Brasil Saudável: Unir para cuidar
A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) marcou presença no lançamento do Programa Brasil Saudável: Unir para cuidar nesta quarta-feira (7/2), em Brasília. A cerimônia apresentou oficialmente o plano, um desdobramento das ações do Comitê Interministerial para a Eliminação da Tuberculose e de Outras Doenças Determinadas Socialmente (CIEDDS), criado em abril de 2023. Representaram a ENSP/Fiocruz no evento o chefe do Centro de Referência Professor Hélio Fraga (CRPHF), Paulo Victor Viana, além dos pesquisadores do CRPHF Margareth Dalcolmo, Alexandra Sanchez, Jorge Luiz da Rocha e Fátima Fandinho. Pesquisadora do Departamento de Endemias Samuel Pessoa da ENSP, Marly Cruz também esteve presente, assim como representantes de outras unidades da Fiocruz.
O chefe do Centro de Referência classificou o lançamento do programa Brasil Saudável como histórico. "Ressalto que esta iniciativa representa um marco significativo para todos os envolvidos no combate à tuberculose e outras doenças de determinação social. A estratégia de unir forças entre diversos ministérios para enfrentar a fome, a pobreza e reduzir as desigualdades sociais é não apenas um desafio formidável, mas também uma oportunidade única de sucesso no mundo", disse. Paulo Victor reafirmou ainda o compromisso do Centro de Referência, que há 40 anos luta contra a tuberculose. "Nosso comprometimento é para contribuir decisivamente e, em união com nosso corpo técnico de pesquisadores e trabalhadores, para que o governo brasileiro alcance esse objetivo essencial para a saúde pública do país".
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Jarbas Barbosa destacou os impactos socioeconômicos das doenças. “Trabalhar de maneira integrada é um caminho e mão dupla. Se nós não tivermos o apoio dos outros setores para remover as barreiras e fazer com que as pessoas tenham acesso, o esforço isolado da saúde não terá sucesso. Quando se reduz a tuberculose, o HIV, a hanseníase, reduz-se a necessidade de as famílias tirarem dinheiro do bolso para transportar e cuidar da pessoa [adoecida]. Ou seja, os mais pobres adoecem mais e, quando adoecem, se tornam ainda mais pobres. Por isso, a saúde também dá uma contribuição imensa, com esse programa, para que o Brasil possa avançar”. A cerimônia foi prestigiada ainda por representantes de diversos países: Nigéria, Quênia, Filipinas, Bolívia, Venezuela e Indonésia.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, também ressaltou que questões de saúde não são resolvidas só com ações de saúde. “Nós lembramos que essa ação envolve os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e deve envolver fortemente a sociedade civil”, salientou. A ministra Nísia completou: “A comunidade de saúde global não é só de governantes, gestores, mas de toda a sociedade, de movimentos sociais e de todas as pessoas que lutam pela eliminação de doenças que não são causadas só pela pobreza, mas pela desigualdade”. Secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, que estuda a tuberculose há 30 anos, também considerou que se trata de um momento histórico.
“Nós lutamos muito para estar aqui. É um momento de reconhecimento de que os determinantes sociais são tão mais importantes do que os agentes infecciosos na determinação e no impacto na vida das pessoas. Todo mundo que teve, alguma vez na sua vida, a presença de uma dessas pessoas afetadas pela tuberculose, pela hanseníase, pela doença de chagas, pela sífilis, pelo HIV e todas as outras doenças que nós estaremos eliminando com esse programa, sabe a falta que faz o prato de comida, a falta que faz não ter um dinheiro para chegar até a unidade de saúde, a falta que faz a própria medicação para aquele que não tem alimentação”, disse Ethel.
Instituído por decreto publicado também nesta quarta, o Programa seguirá as seguintes diretrizes: enfrentamento da fome e da pobreza para mitigar vulnerabilidades; redução das iniquidades e ampliação dos direitos humanos e proteção social em populações e territórios prioritários; intensificação da qualificação e da capacidade de comunicação dos trabalhadores, movimentos sociais e organizações da sociedade civil sobre os temas abordados pelo Programa; incentivo à ciência, tecnologia e inovação; e ampliação de ações de infraestrutura e saneamento básico e ambiental. A partir dessas diretrizes, a expectativa é que os grupos mais vulnerabilizados tenham menos risco de adoecimento e que as pessoas atingidas pelas doenças e infecções possam realizar o tratamento de forma adequada, com menos custos e melhores resultados na rede de profissionais e serviços de saúde. O CIEDDS identificou 175 cidades que são consideradas prioritárias por possuírem altas cargas de duas ou mais doenças ou infecções determinadas socialmente e, por isso, fundamentais para a pauta da eliminação enquanto problema de saúde pública.
A eliminação das doenças determinadas socialmente enquanto problemas de saúde pública está alinhada às diretrizes e metas da Agenda 2030 – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidas e à iniciativa da Opas para a eliminação de doenças nas Américas. Assim, as ações do Programa vão além do setor saúde, dialogando com outros setores do governo relacionados à moradia, renda, ao acesso ao saneamento básico e à educação, entre outras políticas públicas. Entre 2017 e 2021, as doenças determinadas socialmente foram responsáveis pela morte de mais de 59 mil pessoas no Brasil.
O Comitê Interministerial tem como meta inicial a eliminação, enquanto problema de saúde pública, de sete doenças determinadas socialmente (Doença de Chagas, Esquistossomose, Filariose Linfática, Geo-Helmintíase, Malária, Oncocercose, Tracoma), a eliminação da transmissão vertical de outras cinco (Aids/HIV, Doença de Chagas, Hepatite B, HTLV, Sífilis) e, ainda, alcançar as metas operacionais de controle de mais quatro doenças (Hanseníase, hepatites, HIV e Tuberculose). No caso da TB, a meta é reduzir a incidência para menos de 10 casos por 100 mil habitantes e o número de mortes para menos de 230 óbitos por ano. O CIEDDS é composto pelo Ministério da Saúde; Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome; Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania; Ministério da Educação; Ministério da Igualdade Racial; Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional; Ministério da Justiça e Segurança Pública e Ministério dos Povos Indígenas, para promover ações que contribuam para a eliminação da tuberculose e de outras doenças determinadas socialmente enquanto problemas de saúde pública no país até 2030.
Doenças de Determinação Social
A condição de saúde de cada pessoa é diretamente influenciada pelos fatores ambientais, sociais e econômicos em que ela se insere. Assim, em um país como o Brasil, marcado pela diversa e extensa dimensão territorial e por profundas desigualdades sociais, é comum que algumas doenças afetem mais ou somente pessoas em áreas de maior vulnerabilidade social. São as chamadas de doenças de determinação social. Eliminar tais doenças exige políticas públicas estruturais e ações amplas, que envolvam não apenas o tratamento da condição, mas o acesso à saúde, medidas de saneamento, inclusão social, educação, moradia, entre outros. Tal medida tem que ser tratada, portanto, como uma política de Estado.
Conceitos da OMS de eliminação e erradicação de doenças
Eliminação enquanto problema de saúde pública: definida como o atendimento de metas e de objetivos gerais mensuráveis com relação a uma determinada doença. O processo de documentação da eliminação é denominado de validação.
Eliminação de transmissão: definida como a redução para zero da incidência de infecção causada por um agente patogênico específico em uma zona geográfica, em decorrência de esforços deliberados, com risco mínimo de reintrodução. O processo da documentação da eliminação da transmissão é denominado de verificação.
Erradicação: definida como redução permanente para zero de um agente patogênico específico em decorrência de esforços deliberados sem risco de reintrodução. O processo de documentação é chamado de certificação.
Assista à cerimônia na íntegra:
*Com informações do Ministério da Saúde
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