Experiências brasileira e francesa em hospitais em debate
No último dia (17/5) do I Colóquio Franco-Brasileiro de Política Hospitalar, uma cooperação técnica entre a ENSP e a Escola de Altos Estudos em Saúde Pública da França (EHESP), ocorreram três mesas de apresentação e debate. Especialistas brasileiros e franceses trouxeram experiências importantes e desafios para a área hospitalar. Em pauta, temas como mudanças organizacionais em centros hospitalares de alta complexidade; como deve ser um hospital do futuro; e a construção de hospitais eficientes.

Na parte da manhã, a primeira mesa teve como tema Os processos de mudança organizacional em centros hospitalares de alta complexidade. O ortopedista do Instituto de Traumatologia e Ortopedia (Into/Ministério da Saúde), Tito Henrique de Noronha Rocha, apresentou a experiência desse hospital, que tinha 20.860 pessoas à espera de uma cirurgia em 2005. A nova sede, inaugurada em 2011, tem aproximadamente 70 mil metros quadrados de área, e a anterior contava apenas com 14 mil. Houve acréscimo de mais de 177 leitos, além do aumento de salas cirúrgicas e consultórios. Tito destacou que a transferência de pacientes, inclusive de Unidade de Terapia Intensiva, foi realizada sem nenhuma intercorrência, além do início das atividades na nova sede ocorrerem sem eventos adversos.
Para projeção da nova sede, foi contratada a consultoria especializada da Coppead (UFRJ) para definição da estratégia do novo Into, além de outras consultorias para mapeamento estratégico e reengenharia de processos operacionais. Também foi implementado um grupo de transição, composto de lideranças estratégicas, responsável pela operacionalização da mudança, e um grupo de Gestão de Crise para solução rápida de eventuais problemas na nova sede.

A experiência do Centro Hospitalar Universitário (CHU) da Ilha de Nantes, França, foi apresentada por Christiane Coudrier e Gilles Potel, ambos do CHU. Composto de sete hospitais, localizados em Nantes e arredores, o centro hospitalar era caracterizado por uma dispersão geográfica das atividades como hospital, escola e laboratórios de pesquisa, e três grandes hospitais saturados, além de forte concorrência privada. “O CHU dificilmente podia desenvolver atividades atraentes e bem pagas. Seus edifícios são obsoletos, de manutenção cara, porque foram projetados como hospitais no período de 1960 a 1980”, disse Christiane.
O novo Plano Diretor que previu a reestruturação do espaço teve como objetivos acompanhar um projeto médico inovador com a consolidação dos serviços em cinco unidades de saúde clínica; promover ligações entre o grupo de atendimento e cuidado ao paciente, ensino e pesquisa; procurar um local coerente com a intensidade das relações entre os polos de emergência, já que são 100 mil entradas de emergência anuais; usar plataformas técnicas; atentar para o fluxo de pacientes especializados com atendimento programático e marcado; reforçar a atração para o CHU em termos ambulatorial; ofertar serviços urbanos como hotéis, entre outros; e ainda melhorar o desempenho econômico do Centro Hospitalar.
Segundo Christiane, foram dez anos de estudo de cenários e viabilidade de investimento, custo e questões operacionais, e dois anos para validação do projeto, atividades, localização, dimensão e custo. Os princípios que conduziram o projeto foram: abrir o hospital à cidade e ao território, integrar assistência, ensino e pesquisa, inovar a relação entre pacientes e organizações, projetar um edifício modular visando à organização eficiente que antecipe o futuro, prever um projeto eco-responsável, e equilibrar a oferta de cuidados público-privadas de Nantes.

A profissionalização da gestão
A segunda mesa, A profissionalização da gestão e a formação dos dirigentes como estratégia fundamental no processo de mudança organizacional, trouxe o diretor-geral da Federação Internacional de Hospitais (FIH), Eric Roondenbeke. Segundo ele, os objetivos da FIH são profissionalizar a gestão dos serviços de saúde; aumentar as competências de gestão e de direção dos serviços de saúde e apoiar os quadros existentes e tentar melhorá-los; desenvolver um quadro internacional de identificação das competências universais de gestão e liderança; utilizar esse quadro para reforçar a formação, emprego e promoção dos gestores que trabalham na área da saúde; incentivar os formuladores de políticas de saúde para desenvolver uma verdadeira carreira na gestão da saúde; e promover o papel das associações de gestores de saúde.
A formação dos dirigentes hospitalares do SUS foi a questão debatida pelos pesquisadores da ENSP, Creuza da Silva Azevedo e Walter Mendes. De acordo com Creuza, não há desenvolvimento democrático sem administração profissional. Ela trouxe conceitos importantes para discussão do tema. “No Brasil, ‘mérito’ esteve identificado a um período autoritário, já a profissionalização é mais recente”, explicou. Em relação à gestão pública e autonomia, Creuza introduziu o conceito da discricionariedade, que é o aumento da capacidade de decisão. “Novos arranjos institucionais devem garantir autonomia. Fatores como a regulação e responsabilização devem ter ênfase no planejamento”, acrescentou.

Para obtenção de uma massa crítica de dirigentes, é preciso adotar programas de desenvolvimento diretivo combinando recrutamento, remuneração, carreira e formação. Ela disse que a função diretiva é um lugar de interface entre gestão do espaço político, gestão estratégica e gestão operacional.
Ela citou a experiência exitosa da ENSP, que oferece formação para gestores. São cursos de aperfeiçoamento em Gestão em Saúde a distância; aperfeiçoamento em Gestão Hospitalar; especialização em Gestão Hospitalar; e pós-graduação em Saúde Coletiva – mestrado e doutorado.

Roland Ollivier, da EHESP da França, expôs dados sobre uma pesquisa realizada em 2011 com líderes e gestores de hospitais. Segundo ele, as habilidades para formação desses profissionais devem considerar a amplitude da mudança da área geográfica do hospital, os ciclos de transformação nas organizações cada vez mais curtos, a eficiência da investigação em curso e o aumento da responsabilidade social.
Roland citou três grandes competências a serem desenvolvidas, ou seja, gerenciar e controlar a conduta de mudança, garantir a mobilização dos atores e organizar a cooperação entre os atores. Outra percepção importante da pesquisa é que 75% dos entrevistados consideraram como atitudes e valores primordiais dos dirigentes de hospitais a capacidade de lidar com a equipe.
O diretor de Ensino da EHESP, Phillipe Marin, descreveu os princípios da Escola, cujo recrutamento se dá por concurso com quatro provas escritas e três provas orais. A relação candidato-vaga externo é de cerca de 500 candidatos para cerca de 35 vagas, e interno de cerca de 300 candidatos para 20 vagas.
A formação desses profissionais tem três dimensões na formação: cultural, humana e profissional. São três métodos de implantação de formação: dimensão acadêmica e profissional, aprendizagem e desenvolvimento da lógica de habilidades gerenciais individuais, e papel de tutoria e treinamento. A perspectiva é fortalecer a formação conjunta com outras partes interessadas nas decisões em instituições entre presidentes de polos líderes, diretores e gerentes seniores de atendimento.
O Hospital do Futuro
A última mesa do evento, na parte da tarde, intitulada O Hospital do Futuro, iniciou com o diretor-geral da Federação Internacional de Hospitais, Eric de Roodenbeke, que, dessa vez, falou sobre a construção de hospitais eficientes.

Ele apresentou 12 fatores-chave a respeito da situação de saúde dos países que pesquisou. São eles: aumento do envelhecimento da população, melhorias de condições de vida e de habitação, futuro aumento do número de migrantes de diferentes culturas, hospitais mais abertos à vida social da cidade, preocupações ambientais e aumento dos custos dos serviços de utilidade pública, mudanças de tecnologia da informação remodelando as organizações de saúde, medidas de segurança do paciente, aumento da capacidade hospitalar prevendo desastres naturais, cuidado centrado no paciente, prever volume mínimo de qualidade e custos e acesso igualitário ao cuidado, carência de profissionais de saúde, estar pronto à necessidade de mudança, e, finalmente, gestores de hospitais devem melhorar a expressão de necessidades baseadas em evidências e priorizar os fatores que afetam a prestação de cuidados.
O projeto arquitetônico do Complexo dos Institutos Nacionais de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente e de Infectologia (CIN) da Fiocruz foi exposto pelo assessor da presidência e coordenador técnico do projeto. Leonardo Lacerda explicou que essa ideia surgiu da necessidade de adequar a estrutura dos institutos, não havendo condições de manter onde estavam cada uma das unidades.

Estão previstas estratégias de eficiência energética e sustentabilidade. O prédio contemplará áreas de assistência, pesquisa, ensino, gestão, alojamento, creche, almoxarifado, estacionamento e central de utilidades. O custo do projeto está previsto para cerca de R$140 milhões. Em fase de projetos de infraestrutura, licitações e aprovações de órgãos públicos, as obras devem ser iniciadas em meados de 2014.
Ao fim do evento, formou-se uma mesa de perspectivas de cooperação 2013-2014 com representantes do Ministério da Saúde do Brasil, ENSP, instituições francesas, Embaixada e Consulado da França no Brasil. De acordo com a declaração de intenções entre Ministérios da França e do Brasil, será assinado um acordo prevendo vários temas de cooperação na área de saúde.

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