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25 anos de EAD: cibercultura e desafios da modalidade a distância pautam debate no primeiro dia de comemorações

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Publicado em:29/11/2023
Por Danielle Monteiro

A importância da qualidade da Educação a Distância, seus desafios, as mudanças provocadas pelas novas tecnologias e a Inteligência Artificial marcaram o debate do primeiro dia de celebrações dos 25 anos de EAD da ENSP, que iniciaram na manhã desta segunda-feira (27/11) com o tema Contribuição para uma educação sem distância na formação para o SUS.

Presente à mesa de abertura, o professor e pesquisador da Fiocruz Pernambuco, Domício Sá, abriu o evento recitando a poesia de cordel de sua autoria “Com Educação a Distância o saber chega mais perto”. Ex-coordenador do Curso de Qualificação de Gestores do SUS, Domício contou que a poesia foi pensada como estratégia de facilitação e indução à afinidade dos gestores com o curso, que, na época, tinha 400 participantes.

O diretor da ENSP, Marco Menezes, saudou a iniciativa e salientou a importância do EAD da ENSP, especialmente durante a pandemia, momento no qual, segundo ele, o acúmulo de conhecimento, a produção e a fortaleza da Educação a Distância, construídos por professores e trabalhadores ao longo desses 25 anos, contribuíram para o processo de mudança da modalidade presencial para à distância, não somente na ENSP, como também em toda a Fiocruz e em outras instituições de ensino do país, mantendo a qualidade do ensino e promovendo avanços necessários. “No atual contexto do nosso país, dado o momento de construção e reconstrução de políticas públicas, mais do que nunca é o momento de promovermos esses avanços. O tema do hibridismo esteve em vários debates realizados na Escola, não somente no aniversário da ENSP, mas também nas oficinas do lato e stricto sensu e, mais recentemente, no encontro da SBPC (Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Hoje se fala muito nesse tema, que é um grande desafio. E, mais uma vez, esse acúmulo da nossa Educação a Distância será muito importante”, afirmou.

Menezes também alertou que, dado o atual momento de discussão de políticas públicas e processos internos, é necessária uma atenção especial aos trabalhadores e trabalhadoras que atuam no dia a dia das tecnologias da educação, uma vez que existem particularidades em seu processo de trabalho, cujas demandas impõem um desafio para a instituição. “A equipe que tem construído o EAD ao longo desses 25 anos está sempre se atualizando e dialogando com as necessidades e os avanços que temos promovido na sociedade e na nossa Escola”, afirmou.

O diretor da ENSP citou a acessibilidade e a diversidade como avanços do EAD da Escola e como pautas estratégicas e prioritárias da agenda da ENSP. Ainda entre os aperfeiçoamentos da Educação a Distância da Escola, Menezes destacou o curso de Agroecologia e a extensão da cooperação com a Universidade do México e de outros países para a elaboração do curso de Diplomado na modalidade à distância. Por fim, o diretor da ENSP defendeu a articulação com as políticas públicas como uma estratégia para enfrentar os desafios do EAD e sugeriu maior interação entre as agendas da Educação a Distância, da Rede Brasileira de Escolas de Saúde Pública (RedEscola) e da Educação Permanente. 

Em seguida, a coordenadora-geral de Ensino da Fiocruz, Cristina Guilam, afirmou que o EAD responde às características do Brasil, que é um país tão grande, diverso e desigual, cujas desigualdades se refletem em vários aspectos, inclusive, nas possibilidades de formação. Ela defendeu o Ensino a Distância como uma estratégia muito adequada de ampliação do acesso à educação, em particular, o EAD da ENSP, por estar ancorado na seriedade e compromisso com a qualidade. “A pandemia nos impulsionou a entender mais sobre as ferramentas tecnológicas. Sou de uma geração que teve muita resistência ao Ensino a Distância, por considerar que ele seria de uma qualidade questionável e, ao longo dos anos, fomos largando essa resistência e entendendo que podemos fazer um Ensino a Distância com muita qualidade”, concluiu.

Vice-diretora de Ensino da ENSP, Enirtes Caetano definiu o evento como um momento de grande alegria para a Escola e destacou o Ensino a Distância como modalidade necessária ao Brasil, devido à diversidade do país e à presença internacional da Fiocruz na formação e qualificação de profissionais. “Temos uma missão, particularmente na ENSP, que é a de formação para o SUS. E para que ela seja cumprida, a modalidade a distância é necessária e temos aprendido muito. São 25 anos de história, muitos profissionais passaram por essa experiência, se formaram nessa casa e levaram sua experiência também para outras unidades da Fiocruz e isso também fala muito dessa potência que temos”, disse. 

Enirtes também destacou o hibridismo como uma modalidade que permite a operacionalização de uma série de ofertas educacionais da ENSP, inclusive no stricto sensu, e lembrou que, em 2017, houve uma mudança no regimento da Escola, a qual possibilitou que a concentração da modalidade EAD “se tornasse uma Coordenação de Desenvolvimento Educacional de um grupo muito experiente não somente na produção de material, mas também na orientação de tudo aquilo que poderia ser desenvolvido”. Segundo a vice-diretora, essa foi uma experiência preciosa para a Escola, que permitiu uma rapidez em uma adaptação necessária e urgente em um momento de paralização das atividades durante a pandemia. “Hoje estamos, mais do que em um momento de urgência, na possibilidade de incorporar isso. Hoje temos não somente a modalidade totalmente EAD, como outros formatos em que esse grupo vem entrando”, reforçou.

Por fim, o coordenador de Desenvolvimento Educacional e Educação à distância da ENSP, Maurício De Seta, destacou e agradeceu o apoio de instâncias da ENSP ao EAD da instituição, como a Direção atual e anterior da Escola, a Vice-direção de Ensino da ENSP e a Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz. Ele também salientou a importância do trabalho dos coordenadores dos departamentos, tutores, orientadores de aprendizagem e coordenadores dos cursos nessa trajetória de 25 anos de EAD da ENSP, “que fazem com que a Escola seja reconhecida em todo o Brasil pela modalidade EAD, com mais de 65 mil egressos, mantendo a qualidade do ensino da instituição ao longo de seus 69 anos de história”. 

Desafios contemporâneos para a modalidade a distância, a educação e a tecnologia

O debate do primeiro dia de comemorações dos 25 anos de EAD da Escola foi em torno da cibercultura e os atuais desafios contemporâneos para a modalidade a distância, a educação e a tecnologia, em palestra proferida pela professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), Maria Lucia Braga, e o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Sérgio Roberto Franco. 

Mediadora da mesa, a assessora pedagógica da Coordenação de Desenvolvimento Educacional e Educação à distância (CDEAD/ENSP), Ana Paula Abreu Fialho, ressaltou que a forma como a ENSP enxerga o EAD é singular em comparação com outras instituições. “No Dia de Comemoração Nacional da Educação a Distância, vale a pena reforçarmos a importância de que o EAD seja de qualidade, é por isso que brigamos e trabalhamos tanto aqui”, disse.

Em sua apresentação, a professora Maria Lucia traçou um histórico sobre o surgimento do EAD até a chegada da internet. Ela chamou a atenção para um número elevado de submodelos e estratégias educacionais que têm se desenvolvido em torno e paralelamente ao EAD e que atualmente culminam na utilização da Inteligência Artificial para fins educativos. 

A professora tem como enfoque de seus estudos a aprendizagem ubíqua, a qual ela define “como qualquer ambiente em que os estudantes podem se tornar totalmente imersos em processos de aprendizagem, produzindo estímulos que os atraem sem que seja necessário o emprego de sua atenção ativa”. É para essa dimensão, segundo ela, que aponta a evolução dos dispositivos móveis: tornar absolutamente ubíquo e pervasivo o acesso à informação, comunicação e aquisição de conhecimento, provocando consequências inestimáveis nos processos de aprendizagem. 

Para Maria Lucia, o U-learning é uma aprendizagem que independe de qualquer incorporação em modelos de ensino-aprendizagem, de caráter mais formal, ou seja, é uma aprendizagem que pode se dar a qualquer momento, bastando, para isso, uma consulta nas redes quando se busca uma informação. “Isso não significa que o potencial da aprendizagem ubíqua não possa ser incorporado em modelos de ensino, tampouco significa que tudo em que clicamos é aprendizagem”, advertiu. Segundo a professora, o que se deve evitar, a todo o custo, quando se fala de tecnologia, é o equívoco de que as tecnologias se bastam, pois tal crença pode levar à aplicação de tecnologias novas para um uso antigo dentro de um receituário obsoleto. 

A professora acredita que a cultura do livro, assim como a midiática, entre outas, vão passar por mutações introduzidas pela Inteligência Artificial (IA). Ela também alertou para a ausência de projetos temáticos, coletivos e robustos de aplicações da IA à Educação, que possam chegar, inclusive, à fase da avaliação e autocorreção. 

Em seguida, em sua fala, o professor Sérgio Roberto Franco apresentou um breve histórico da Educação a Distância e destacou que a Educação brasileira está assumindo um caráter multimodal, chamando a atenção para as resistências institucionais, ideológicas e corporativas, e administrativa-orçamentárias em relação à EAD. Sérgio defendeu a necessidade de definições de conceitos, atores e tecnologias compatíveis e disponíveis ao se elaborar um projeto pedagógico, e alertou para as diferenças nos conceitos de Educação a Distância, Ensino Remoto Emergencial, Ensino Híbrido, Educação Aberta, Ensino, Aprendizagem e Educação. 

Ao abordar a complexidade que envolve o conceito de Aprendizagem, o professor explicou que aprender é não somente ‘saber fazer’, mas também ‘compreender’: “Não há como pensar formação superior sem amalgamar o ‘saber fazer’ e o ‘compreender’. E esse é o grande desafio que temos. Não basta fazer boa Educação entregando conteúdo, por isso, um projeto pedagógico de EAD é extremamente importante para chegarmos na qualidade do que fazemos em termos de Educação”. 

Por fim, o professor atentou para a ‘massificação’ versus ‘capilarização’ dentro do contexto da qualidade educacional, alertando que a Educação a Distância é importante para se fazer a capilarização do conhecimento da Ciência, mas não para se fazer massificação. “O papel da EAD é fazer com que a Educação chegue. E aí entra a questão da qualidade educacional”, concluiu. 





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