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Agroecologia para a promoção emancipatória da saúde em territórios indígenas

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Publicado em:23/11/2023

O Núcleo Ecologias e Encontros de Saberes para a Promoção Emancipatória da Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Neepes/ENSP) está participando ativamente do 12 º Congresso Brasileiro de Agroecologia, que acontece nos Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro. Na manhã desta quarta-feira, 22 de novembro, o pesquisador do Neepes Juliano Palm, apresentou o trabalho 'Povos originários, agriculturas tradicionais e agroecologia: diálogos interculturais para fortalecer a produção de alimentos em territórios indígenas', no espaço Tapiris de Saberes, no contexto do eixo 'Construção do Conhecimento Agroecológico'. O projeto é fruto do trabalho desenvolvido desde 2017, em parceria com indígenas Munduruku e a Associação Pariri, que lutam pela defesa do território, a segurança e soberania alimentar, contra os impactos do garimpo ilegal na região do Médio Tapajós, no Pará, onde estão localizadas as aldeias desta etnia. 

Juliano Palm, o pesquisador do Neepes, apresentando o trabalho 'Povos originários, agriculturas tradicionais e agroecologia: diálogos interculturais para fortalecer a produção de alimentos em territórios indígenas', no espaço Tapiris de Saberes, no contexto do eixo 'Construção do Conhecimento Agroecológico', durante o 12º CBA.

No contexto da saúde coletiva, o trabalho defende a promoção da saúde frente a contextos de vulnerabilização, entre eles a insegurança alimentar. A pesquisa buscou fortalecer a produção de alimentos com base na ecologia de saberes, a partir de um diálogo intercultural com as práticas e saberes dos povos originários. Segundo Juliano Palm, autor do estudo junto com Marcelo Firpo (Neepes), Marina Fasanello (Neepes), Diogo Rocha (Neepes), Jairo Saw (Cacique Munduruku), e Juarez Saw (Cacique Munduruku), a questão transversal que inspirou a pesquisa foi como realizar um diálogo respeitoso entre conhecimentos agroecológicos e tradicionais do povo Munduruku que torne visível sua sabedoria, sem que isso produza epistemicídios, ou seja, a degradação de saberes e práticas tradicionais. 

“A partir do exercício de uma ecologia de saberes, enfatizamos a importância de diálogos interculturais que promovam interações entre sistemas de conhecimentos e práticas agroecológicas com as dos povos originários com o objetivo de fortalecer a produção de alimentos e a segurança e soberania alimentar e nutricional em territórios indígenas”, explicou ele.  

Com esta perspectiva, o Neepes tem realizado, em conjunto com o povo Munduruku, uma pesquisa que busca refletir sobre as possibilidades de fortalecer a produção de alimentos nas aldeias do Médio Tapajós (PA), enfrentando os dilemas da insegurança alimentar com base em diálogos interculturais. “É a partir dos aprendizados com este projeto de pesquisa que apresento as reflexões que têm sido realizadas no âmbito do Núcleo acerca das possibilidades de se criar condições para um diálogo respeitoso entre conhecimentos agroecológicos e cosmologias de povos originários, mais especificamente em relação a alimentação e agriculturas tradicionais”, destacou Juliano.  

Segundo ele, com base na ideia de ecologia de saberes, buscou-se fortalecer a produção de alimentos a partir de diálogos interculturais envolvendo a cosmovisão Munduruku, com suas práticas e saberes tradicionais sobre agricultura e alimentação; conhecimentos de pesquisadores do campo agroecológico e aprendizados de outras experiências de produção de alimentos em diferentes territórios indígenas que possam inspirar ações no âmbito dos planos agroecológicos que estão sendo construídos nas aldeias do Médio Tapajós.  

No campo agroecológico, Palm explicou que a dimensão cosmológica tem sido ressaltada, em diferentes trabalhos, como uma questão estratégica a ser aprofundada em processos de pesquisa. “Ao estabelecer um diálogo intercultural com o povo Munduruku, as metodologias sensíveis co-labor-ativas buscam promover a co-produção e a co-presença para fazer pesquisa junto com (e não apenas para), e isso envolve, entre outras, questões intergeracionais e intergeneracionais na configuração das atividades”, detalhou.  

Para o autor do trabalho, em diálogo com aspectos citados acima, foi possível aprender na convivência com os Munduruku nos últimos anos, a reflexão acerca das alternativas que possam fortalecer a agricultura e a criação de animais, de forma a respeitar o convívio harmonioso dos Munduruku com a floresta, o rio, as diversas plantas e animais. 

“A partir destas considerações chegamos à versão atual do projeto de pesquisa que estamos desenvolvendo com o povo Munduruku, com foco no fortalecimento da produção de alimentos nas aldeias do Médio Tapajós. Organizamos o projeto em torno de cinco focos de atuação. Em cada um destes focos de atuação buscamos avançar em estratégicas que permitam viabilizar diálogos interculturais envolvendo o conhecimento tradicional Munduruku em relação a agricultura e alimentação. Esta questão tem orientado a realização do projeto do Neepes com o povo Munduruku, em que partimos das experiências interdisciplinares, interculturais e intersetoriais de pesquisa colaborativa acumuladas nos últimos anos em diferentes territórios, em especial com o povo Munduruku”, finalizou ele. 

Os cinco focos de atuação do projeto são: 

Sistematização de experiências de produção de alimentos entre os Munduruku;  

Construção participativa de planos agroecológicos nas aldeias do Médio Tapajós;  

Construção de rede sociotécnica colaborativa envolvendo pesquisadores do campo agroecológico vinculados a diferentes instituições;  

Desenvolvimento de ações-piloto nas aldeias, relacionadas aos planos agroecológicos;  

Processos e produtos gerados como subsídios para formação e comunicação. 

Sobre o Núcleo Ecologias e Encontros de Saberes para a Promoção Emancipatória da Saúde da ENSP

O Neepes adotou, recentemente, uma mudança em seu nome, passou de Núcleo Ecologias, Epistemologias e Promoção Emancipatória da Saúde, para Núcleo Ecologias e Encontros de Saberes para a Promoção Emancipatória da Saúde, como explica o coordenador, o pesquisador da ENSP, Marcelo Firpo, no vídeo publicado nas redes sociais da ENSP.

Segundo ele, a mudança foi adotada com o intuito de destacar o objetivo epistemológico de produção de conhecimentos mais estratégico, resgatando e trazendo para a academia o encontro de saberes. Confira o vídeo na íntegra e acompanhe a ENSP nas redes sociais.

Promoção emancipatória da saúde e agroecologia são os principais pilares do Neepes, neste contexto, o Núcleo atua dando apoio e sistematização as lutas por saúde, dignidade, e direitos territoriais, envolvendo quatro dimensões de justiça: sanitária, ou por saúde; social; ambiental/territorial; e cognitiva/histórica.  

Nos últimos, o Neepes tem desenvolvido vários projetos de pesquisa, com destaque para o Mapa de Conflitos envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil; projeto de cooperação com os indígenas Munduruku do Médio Tapajós no Pará que lutam pela defesa do território, a segurança e soberania alimentar contra os impactos do garimpo e de projetos de “desenvolvimento”; projeto com os Sem Teto da Bahia e organizações que atuam com favelas no RJ em lutas por moradia digna, agricultura urbana e práticas comunitárias de cuidado; projeto sobre narrativas audiovisuais com coletivos indígenas do Nordeste (Tingüi-Botó e Xukuru) que atuam com agroecologia e cuidados tradicionais; cooperação com outros povos e comunidades como tradicionais de matriz africana, camponeses, pescadoras/es e quilombolas. 

Saiba mais sobre o Núcleo no site neepes.ensp.fiocruz.br



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