Luto pelos profissionais de saúde
A pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca Maria Helena Machado e os pesquisadores Eleny Guimarães Teixeira e Neyson Pinheiro Freire, que fazem parte do estudo Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19 no Brasil, escreveram artigo, publicado no jornal O Globo, de quarta-feira (7 de abril), em que detalham o perfil das mortes de médicos e da equipe de enfermagem que estão atuando na linha de frente da covid-19. De acordo com o texto, até fevereiro de 2021, foram 1292 profissionais mortos: 622 (48,1%) médicos, a maioria homens (88%) e acima dos 60 anos (75%); 200 enfermeiros (16,5%) e 470 (36,4%) de auxiliares e técnicos. O levantamento revela que, nos três primeiros meses de 2021, ocorreu um crescimento exponencial dos óbitos: a cada dia morreram cinco desses profissionais. Confira. Luto pelos profissionais de saúde - O Globo 7/4/2021
Médicos e equipe de enfermagem choram os mais de 1.300 mortos pela COVID-19 em um ano de pandemia no Brasil. Há medo e insegurança. A Força de Trabalho está exposta. Adoece pela COVID-19. As relações de trabalho são frágeis, terceirizadas e sem garantias mínimas. Vidas perdidas, famílias destruídas. A política de Estado é cruel.
Estamos falando de um contingente de 1292 profissionais mortos: 622 (48,1%) médicos, a maioria homens (88%) e acima dos 60 anos (75%); 200 enfermeiros (16,5%) e 470 (36,4%) de auxiliares e técnicos. A maioria de mulheres (50% e 69%, enfermeiros, auxiliares e técnicos, respectivamente). A equipe de enfermagem morre mais jovem que os médicos, 70% entre 36 e 60 anos, em plena atividade produtiva. Essa diferença poderia ser explicada, em parte, pela atividade profissional dos médicos que pode se estender até a oitava ou nona décadas de vida A cor e raça deixaram seu matiz: morreram mais pretos e pardos, 51% de enfermeiros e 47,6% de auxiliares/técnicos. Não há informação sobre cor/raça em relação aos médicos. No ranking da morte dentre médicos e enfermagem, as maiores perdas foram no Rio de Janeiro, São Paulo, Pará, Amazonas, Mato Grosso e Paraná.
Em 2020, no mês de maio, registrou-se o maior número de óbitos entre profissionais de saúde destas categorias. Em junho, julho e agosto houve uma relativa estabilidade, seguida por um declínio progressivo, porém muito lento. Em outubro, notificou-se o menor número de óbitos nos profissionais de saúde. A flexibilização das medidas de distanciamento, do uso de máscaras, a abertura das atividades econômicas e o sustentado discurso negacionista repercutiram no aumento significativo de infectados e de óbitos.
O período do Natal e do Ano Novo prenunciava um 2021 marcado pela tragédia sanitária e humana que se abate sobre o país. Diversas instituições da área da saúde e dos direitos humanos estimaram um 2021 sem precedentes. Entidades representativas de categorias se manifestam a favor do uso de medicamentos com evidências científicas contrárias, publicadas nos melhores periódicos do Brasil e do mundo, cujo acesso se tornou gratuito desde o início da pandemia. Entidades ignoram, ainda hoje, essas evidências. Apelam para a autonomia dos profissionais. Mas como se denomina conduta que expõe pessoas à efeitos adversos graves, por vezes letais, e sem qualquer benefício? A Bioética é chamada a se manifestar.
Nos três primeiros meses de 2021 ocorreu um crescimento exponencial dos óbitos: a cada dia morrem cinco destes profissionais. Na população geral, registra-se 3.000/dia. O Brasil é hoje o 2º país em óbitos, sucedendo apenas os EUA. As estimativas são sombrias. O colapso do sistema de saúde nos espreita todos os dias. Ele amanhece conosco. O medo e morte versus esperança e vida.
Autores
Eleny Guimarães Teixeira, médica e pesquisadora
Maria Helena Machado, socióloga e pesquisadora Fiocruz
Neyson Pinheiro Freire jornalista e pesquisador
Fonte: Tabulações especiais (CFM, COFEN, março 2021). Elaborado e publicado: Inventário de Óbitos de Profissionais de Saúde por Covid-19 no Brasil (FIOCRUZ, 2021).
Foto: Breno Esaki/SES-DF
Seções Relacionadas:
Coronavírus Coronavírus e a saúde do trabalhador Trabalhadores da Saúde na Covid-19
Coronavírus Coronavírus e a saúde do trabalhador Trabalhadores da Saúde na Covid-19
Nenhum comentário para: Luto pelos profissionais de saúde
Comente essa matéria:
Utilize o formulário abaixo para se logar.



