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Covid-19 nas favelas: baixa testagem e ausência de dados preocupam especialistas

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Publicado em:19/02/2021
O desequilíbrio no acesso aos testes de Covid-19 no município do Rio de Janeiro, a reorganização dos processos de trabalho nas unidades de saúde e as iniciativas para enfrentamento da pandemia nas favelas cariocas foram os temas que marcaram o lançamento do 3º Boletim Socioepidemiológico Covid-19 nas Favelas. Realizado no último dia 11/2, o evento on-line apresentou os dados de síndrome gripal (SG) no município e revelou que o mês de abril foi o pico da pandemia no primeiro semestre de 2020, com 111 mil casos notificados de SG e 21.500 confirmações de Covid-19. A retomada do crescimento do vírus ocorreu em novembro, com 119 mil casos de síndrome gripal e 18.200 casos de Covid-19. Acesse a publicação no Observatório Covid-19 Fiocruz.


O webinar foi coordenado pela pesquisadora Bianca Leandro, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), e ocorreu logo após o Dia Estadual de Mobilização para o Enfrentamento da Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro (10/2). O 3º Boletim mostra que foram notificados, até agosto de 2020, 12.863 casos de síndrome gripal entre os 20 bairros da tipologia Sem Favelas; 153.307 casos para os 78 bairros de Concentração Baixa; 67.584 casos para os 42 de Concentração Mediana; 14.897 para os 12 de Concentração Alta; e 8.229 para os sete de Concentração Altíssima. 

Já a taxa de incidência geral de SG foi maior nos bairros sem concentração de favelas, seguida pelas categorias de Concentração Baixa e Mediana. Os bairros de Bonsucesso, São Cristóvão e da Gávea apresentam em todos os meses e, na maioria das vezes, as maiores taxas de incidências. Esses bairros, segundo o estudo, indicaram uma permanência no adoecimento por Síndrome Gripal. 

Testagem desigual e inadequada

O pesquisador da ENSP André Perissé explicou que, em decorrência da baixa realização de testes pelo serviço público de saúde, muitas pessoas com sintomas leves ou moderados de Covid-19 não realizaram o teste para confirmar a doença. Por essa razão, foram notificadas no sistema de informação em saúde como casos de Síndrome Gripal. Segundo ele, esse dado permite estimar a magnitude da Covid-19 em um contexto de baixa testagem e demora para o conhecimento do número real de infectados por Covid-19.

Périssé informou ainda que apenas 33% dos registros do banco de Síndrome Gripal continham a informação com o resultado do teste. A maioria dos casos (67%) não apresentou informação sobre a testagem ou ainda aguardava os resultados. Além disso, os dados mostram o uso inadequado dos testes, tendo em vista que foram realizados testes sorológicos em maior quantidade que o PCR (PCR é o teste indicado para o diagnóstico da covid-19 nas fases sintomáticas da doença, ou seja, quando as pessoas estão apresentando sintomas).

“Os bairros sem concentração de favelas são os que apresentam a mais alta taxa de incidência de síndrome gripal e também têm mais acesso aos testes para diagnosticar a Covid-19 (46%). Já nos bairros classificados como Altíssima Concentração de favelas, esse percentual de testagem é de apenas de 16%. O acesso ao teste para Covid-19 no município do Rio de Janeiro reflete o processo de segregação social da cidade, e bairros classificados como Alta e Altíssima Concentração de favelas têm mais dificuldade para realizar os testes confirmatórios da Covid-19”, admitiu o pesquisador alertando que os dados sobre SG nas favelas compreendem o período entre o início da pandemia e o início de agosto de 2020, porque, a partir desta data, o Ministério da Saúde deixou de informar dados sobre bairro ou CEP dos usuários. 



A assistente social Luanda Café, da Clínica da Família do Caju, falou sobre a atuação dos profissionais de saúde na linha de frente da Covid-19 e todo o processo de reorganização do atendimento nas unidades de saúde. “Os profissionais da atenção básica ofertaram suas vidas em prol do trabalho. Desde o inicio da pandemia, tivemos uma ruptura abrupta das nossas rotinas individuais e coletivas”, admitiu.

A palestrante apresentou três diretrizes estratégicas para readequação da atenção à saúde na pandemia: criação de estratégias articuladas com a coordenação da Área Programática para repensar novos protocolos em toda a região; a readequação do atendimento na própria clínica; e o alinhamento com a coordenação de saúde mental para dar suporte aos pacientes em isolamento e apoiar profissionais em condições adversas de trabalho. No fim, elogiou empenho da equipe de enfermagem, dos técnicos, dos profissionais de limpeza e segurança e os agentes comunitários de saúde durante todo esse período.

Pesquisador da ENSP e coordenador técnico do Dicionário de Favelas Marielle Franco, Marcelo Fornazin apresentou o projeto como uma iniciativa para favorecer a preservação da memória e identidades coletivas dos moradores das favelas.  Afirmou ainda que o Dicionário é uma plataforma virtual que visa estimular e permitir a coleta e construção coletiva do conhecimento existente sobre as favelas, por meio da articulação de uma rede de parceiros que se dedicam a esse tema, com 700 verbetes sobre favelas do Rio de Janeiro e Brasil. 

Fornazin apresentou a seção Coronavírus nas Favelas, que reune pesquisas, reportagens, fotos, vídeos, comentários, artigos, ensaios e reflexões acadêmicas sobre os impactos do coronavírus na vida das favelas. “Pretendemos fortalecer o enfrentamento ao vírus nos locais”, revelou.

O pesquisador também alertou para a dificuldade no acesso aos dados para realização de pesquisas e transparência com a sociedade. “Faltam registros, testes, mudam a forma de distribuir os dados, mudam os painéis, vazam dados q deveriam ser protegidos. Há uma falta de confiança da sociedade nos dados oficiais produzidos pelo poder público”.



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