Covid-19: encontro internacional propõe ações justas e igualitárias para sair da pandemia
Por Danielle Monteiro
A cooperação internacional está no cerne do marco estratégico da ENSP, por meio de sua Escola de Governo. Com isso, a instituição desenvolve uma série de ações em parceria com renomadas instituições de outros países. Uma delas foi o Encontro Internacional Covid-19: Saúde Coletiva e Pandemia, realizado virtualmente entre 22 e 24 de julho. Coordenado pela Universidade Andina Simón Bolívar (Equador), o evento teve a ENSP como um dos organizadores, entre outras universidades e institutos internacionais. A proposta foi elaborar um Programa de Ação em Rede, com sugestões de medidas estratégicas para uma saída mais justa e equitativa da pandemia. Idealizado pelo pesquisador da universidade equatoriana, Jaime Breihl, o encontro contou com a participação de representantes da Academia e de outras instituições de diversos países, além do Brasil, como Estados Unidos, Argentina, Colômbia, Uruguai, El Salvador e Índia.

Previamente à realização do evento, as quatro instituições brasileiras integrantes da comissão organizadora do Encontro Internacional Covid-19 elaboraram um documento com diversos temas e aspectos que revelam as variadas facetas da pandemia. Coordenado por Anamaria Tambellini, pesquisadora aposentada da ENSP, o compilado de artigos é o pontapé inicial para a constituição de um programa de pesquisa. Entre as temáticas levantadas, estão a Geografia da Saúde, o Sistema de Atenção Primária em Saúde, a Vigilância Popular em Saúde, Relações Internacionais em Saúde, Povos Indígenas, Planos de Contingência, entre outros. Além da ENSP, o grupo brasileiro é formado pela Escola Nacional Florestan Fernandes/Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e o Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná.
O encontro internacional foi dividido em três mesas-redondas: A pandemia no contexto de um capitalismo do século XXI sob a ótica da Academia crítica e das organizações populares; A crítica ao papel dos governos e setores públicos e privados de saúde em tempos de pandemia; e Apresentação de ações propositivas contra hegemônicas de ação. Pela ENSP, participaram como palestrantes o diretor da Escola, Hermano Castro, e o pesquisador do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh), Ary Miranda.
Em sua apresentação, o diretor da ENSP chamou a atenção para o contexto de grande desigualdade social em que se dá a pandemia: na América Latina existem 72 milhões de pessoas vivendo em situação de extrema pobreza, de acordo com dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). No Brasil, há 17,5 milhões de pessoas que vivem em aglomerados subnormais, sendo vários desses territórios constituídos por favelas.
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Em situação de pandemia, as desigualdades vêm ainda mais à tona, conforme observou o diretor da ENSP. Nas áreas onde a pobreza urbana é mais acentuada, a Covid-19 avança de forma mais rápida. “Isso porque esses territórios não contam com políticas públicas de qualidade que deem suporte à proteção coletiva. Além disso, as condições de vida dificultam muito a adoção de estratégias individuais de prevenção, por parte da população, largamente difundidas nas orientações de controle do novo coronavírus, como o distanciamento social”, destacou. Faz todo o sentido, já que moradores de regiões vulneráveis não possuem garantias mínimas de sobrevivência para enfrentar a pandemia, como acesso a uma renda mínima e segurança alimentar.
Hermano ainda atentou para a desigualdade e violência sofridas pelos povos indígenas em todo o Brasil, reforçadas em meio à pandemia e decorrentes de práticas opressoras de colonização e omissão do Estado. “Um terço dos povos indígenas já foram infectados pela doença, e a maioria dos óbitos ocorreram na Região Amazônica”, afirmou.
O desmatamento, segundo ele, é outra questão que merece atenção em tempos de pandemia, pois estudos têm apontado uma associação entre a depredação de florestas e a proliferação de doenças. “O crescimento da destruição da floresta amazônica pode ocasionar novas epidemias. A cada 1% de florestas desmatadas por ano, a malária aumenta em 23%”, alertou.
Assista, aqui, à cobertura completa do Encontro Internacional Covid-19: Saúde Coletiva e Pandemia.
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