Outubro Rosa: conheça os principais desafios na luta contra o câncer de mama no Brasil
Por Danielle Monteiro
Outubro é o mês de relembrar a importância e a necessidade de prevenção do câncer de mama e de colo do útero, motes da campanha Outubro Rosa. O câncer de mama é o que mais mata mulheres no Brasil. De acordo com dados do Inca, somente em 2020, surgiram 66.280 mil novos casos no país. Quando a doença é diagnosticada na fase inicial, as chances de cura aumentam, e a necessidade de retirada dos seios (mastectomia) reduz. Daí a importância de conscientizar sobre a realização periódica da mamografia. Aliás, você já fez seus exames este ano?
As dificuldades enfrentadas por mulheres com câncer de mama são várias, passando pelo estigma que ainda paira sobre a doença, o confronto com a própria finitude, o abalo na autoestima, além da necessidade de ter que lidar com um tratamento complexo, com riscos e efeitos colaterais, e, ainda, precisar reorganizar toda sua vida para enfrentar as várias dimensões do adoecimento. Se não bastasse ter que enfrentar todas essas questões, as pacientes ainda precisam encarar o que, atualmente, é um dos maiores entraves na luta contra a doença no país: a dificuldade de acesso ao diagnóstico e respectivo tratamento.
Conforme dados do Inca, a realização dos dois principais procedimentos de investigação diagnóstica, em mulheres de 50 a 69 anos, usuárias do SUS, vem aumentando no país ao longo dos anos; no entanto, ainda está aquém da necessidade estimada para a cobertura plena da população feminina usuária exclusivamente do sistema público de saúde. Os maiores déficits de PAG – procedimento padrão e menos invasivo para a abordagem de lesões suspeitas da mama – estão concentrados nas regiões Centro-Oeste e Norte.
Segundo a médica sanitarista Maria do Espírito Santo Tavares (Santinha) e a sanitarista da Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede do Inca, Mônica de Assis, além dos vários gargalos na investigação diagnóstica – fase em que a mulher precisa fazer uma biópsia para confirmar a doença –, existe um déficit dos serviços que realizam os procedimentos diagnósticos, principalmente a punção por agulha grossa (PAG) e a biópsia cirúrgica, o que retarda ainda mais a confirmação da doença. Sem contar com a dificuldade de acesso rápido aos hospitais de tratamento.
Para as especialistas, as principais causas da redução da oferta de serviços são a escassez de profissionais capacitados para fazer a punção por agulha grossa e a carência de médico patologista. Em decorrência da demora no SUS, muitas mulheres acabam pagando para fazer a biópsia em serviços privados. Então, como superar esse nó crítico? “Cada gestor do SUS, nos municípios e estados, precisa organizar a rede assistencial a fim de eliminar as barreiras de acesso. E o nível federal deve prosseguir com a expansão dos hospitais que tratam do câncer”, sugerem as médicas.
Em entrevista ao Informe ENSP, a pesquisadora da ENSP Inês Echenique explicou que as dificuldades no acesso ao diagnóstico e o tratamento do câncer de mama ocorrem, principalmente, por causa da pouca interlocução entre as esferas federais, estaduais, municipais e particulares conveniadas ao SUS: “A estruturação do modelo atual adotado pelo SUS exige uma série de encaminhamentos entre os diversos serviços de saúde da rede, de acordo com os níveis de complexidade. Mas, conforme apontam algumas pesquisas, o sistema não possibilita meios para que a mulher percorra esse fluxo em curto espaço de tempo, de forma a impedir o avanço da doença e o mau prognóstico. Esses encaminhamentos, muitas vezes, aumentam os intervalos de tempo, principalmente por atrasos nos agendamentos entre as diversas etapas diagnósticas e terapêuticas.”
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Agrotóxicos e câncer de mama: entenda essa correlação
Agricultoras que lidam com pesticidas sem equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados podem desenvolver subtipos mais agressivos de câncer de mama, com menos opções de tratamento, segundo estudo liderado por pesquisadores da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), em Francisco Beltrão (PR), ao longo dos últimos seis anos.
Grande parte das agricultoras da região passam um longo intervalo de tempo, anualmente, em contato com pesticidas sem proteção. São elas que, em geral, assumem a tarefa de preparar o ativo para o filho ou o marido aplicar. Assim, acabam se contaminando por meio da pele e do aparelho respiratório.
A exposição aos agrotóxicos e a falta de uso de equipamentos de proteção adequados podem explicar por que, no sudoeste do Paraná, onde foi realizado o estudo, predominam os subtipos mais agressivos de câncer de mama (entre 60% e 70%), com pior prognóstico e mais resistentes à quimioterapia.
Hábitos saudáveis: uma das principais formas de prevenção
A adoção de hábitos saudáveis pode reduzir em 13% a incidência de câncer de mama e poupar mais de R$ 100 milhões do SUS. A conclusão é da pesquisa elaborada pela Coordenação de Prevenção e Vigilância (Conprev) do Inca, apresentada durante webinar de abertura do Outubro Rosa deste ano e transmitida pela TV Inca. O estudo aponta que aproximadamente 13% dos casos de câncer de mama em 2020 no Brasil (cerca de 8 mil ocorrências) poderiam ser evitados pela redução de fatores de risco relacionados ao estilo de vida, em especial à inatividade física. Os dados ainda revelam que quase 13% dos gastos federais do SUS em 2018 com o tratamento de câncer de mama (R$ 102 milhões) seriam poupados com a redução de fatores de risco comportamentais, como adoção da atividade física.
Confira mais dados do estudo divulgado pelo Inca no seminário virtual
Não existe uma única causa para o câncer de mama, mas, sim, um conjunto de fatores de risco para desenvolvê-lo. O principal deles é a idade, pois quatro de cinco casos ocorrem após os 50 anos. Outros se referem a fatores comportamentais (sedentarismo, obesidade e consumo excessivo de bebidas alcoólicas), reprodutores e hormonais (primeira menstruação antes dos 12 anos; primeira gravidez após os 30 anos; não ter tido filho; menopausa após 55 anos; ter feito reposição hormonal depois da menopausa; exposição a hormônios sintéticos) e genéticos (história familiar de câncer de ovário; histórico de câncer de mama na família, caso de câncer de mama em homens na família; e alteração genética nos genes BRCA1 e BRCA2).
A prevenção do câncer de mama se faz com a realização de mamografia uma vez ao ano, principalmente por mulheres acima dos 40 anos, mesmo que não tenham sinal ou sintoma. Segundo o Inca, a mortalidade diminui em cerca de 20% nas mulheres entre 50 e 69 anos que realizam o exame a cada dois anos. E, claro, é muito importante estar atenta a sintomas como nódulos palpáveis na mama ou região das axilas, alterações na pele do seio, região da mama com aspecto parecido a uma casca de laranja e saída de secreção.
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