Outubro Rosa: um panorama do câncer de mama no Brasil e no mundo
Danielle Monteiro
Outubro chega com a cor dos afetos, da beleza, da feminilidade e, sobretudo, da luta mundial contra uma das doenças que mais acometem mulheres em todo o mundo. Ao longo do mês, são promovidas diversas ações com o objetivo de conscientizar sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama e, mais recentemente, sobre o câncer de colo do útero. E a ENSP, por mais um ano consecutivo, segue engajada nesta campanha.
Quando o câncer de mama é diagnosticado na fase inicial, as chances de cura aumentam e a necessidade de retirada dos seios (mastectomia) reduz significativamente. Daí a importância da conscientização sobre o autoexame e realização periódica da mamografia, principalmente por mulheres acima de 40 anos, já que a incidência da doença aumenta consideravelmente a partir dessa idade.
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Quais são as causas e como se prevenir do câncer de mama?
O câncer de mama é provocado pelo crescimento descontrolado de células na região dos seios que adquirem características anormais, ocasionadas por uma ou mais mutações em seu material genético. Como existem vários tipos da doença, ela pode evoluir de formas diferentes. Alguns podem se desenvolver rapidamente, já outros têm o crescimento mais lento. O câncer de mama também atinge homens, mas é raro, com incidência de apenas 1% do total de casos.
Não existe uma única causa para a doença, mas sim um conjunto de fatores de risco para desenvolvê-la. O principal deles é a idade, pois quatro de cinco casos ocorrem após os 50 anos. Outros se referem a fatores comportamentais (sedentarismo, obesidade e consumo excessivo de bebidas alcóolicas), reprodutores e hormonais (primeira menstruação antes dos 12 anos; primeira gravidez após os 30 anos; não ter tido filho; menopausa após 55 anos; ter feito reposição hormonal depois da menopausa; exposição a hormônios sintéticos) e genéticos (história familiar de câncer de ovário; histórico de câncer de mama na família, caso de câncer de mama em homens na família; e alteração genética nos genes BRCA1 e BRCA2). Estes últimos representam somente de 5% a 10% dos casos. No entanto, se a mulher apresentar mais de um, já é considerado risco elevado para a doença. Porém, segundo o Inca, ter um ou mais fatores de risco para o câncer de mama não significa necessariamente que a mulher irá desenvolver a doença.
A prevenção do câncer de mama se faz com a realização mensal do autoexame, a partir dos 20 anos de idade, entre o quarto e o sexto dia após o fim do fluxo menstrual. A mamografia, que deve ser feita anualmente, é também uma poderosa ferramenta no combate à doença, principalmente entre mulheres acima dos 40 anos de idade, mesmo que não tenham sinal ou sintoma. Segundo o INCA, a mortalidade diminui em cerca de 20% nas mulheres entre 50 e 69 anos que realizam o exame a cada dois anos.
Hábitos como a prática de exercícios físicos e a alimentação saudável também ajudam a reduzir as chances de desenvolver o câncer de mama. E, claro, é muito importante estar atenta a sintomas como nódulos palpáveis na mama ou região das axilas, alterações na pele do seio, região da mama com aspecto parecido a uma casca de laranja e saída de secreção. Existe tratamento para o câncer de mama, oferecido, inclusive, pelo SUS.
Saiba mais aqui sobre as causas, sintomas, prevenção, diagnóstico e tratamento para o câncer de mama.
Casos aumentam no Brasil e mundo
De acordo com pesquisa realizada pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), o câncer de mama é um dos três tipos de maior incidência no mundo, juntamente com o de pulmão e o colorretal, sendo o que mais acomete mulheres em 154 países dos 185 analisados. Em média 2 milhões de mulheres são diagnosticadas com a doença em todo o mundo. O Inca estima, para 2020, cerca de 66.280 mil novos casos e 17.572 mil óbitos de mulheres no Brasil.
Os números devem crescer em comparação com 2019. Mas quais são as causas desse aumento? A explicação está no envelhecimento da população, ocorrido nas últimas décadas, segundo a pesquisadora da ENSP, Inês Echenique. A idade é um dos fatores de risco para a doença, pois ela apresenta maior incidência em mulheres acima dos 60 anos. “Vale destacar também, como fatores associados ao incremento na incidência de câncer de mama, as mudanças no estilo de vida das mulheres, como idade mais elevada na primeira gestação, baixa paridade, sedentarismo, ingestão de dietas ricas em gorduras, consumo excessivo de álcool, entre outros”, explica Inês.
Além de mais chances de desenvolver o câncer de mama, mulheres com mais de 60 anos apresentam elevada taxa de mortalidade pela doença, de acordo com resultados de estudo realizado pela pesquisadora. Divulgada na revista Ciência e Saúde Coletiva, a pesquisa, que analisou as taxas de mortalidade pela doença em dois estratos de idade (< 60 anos e ? 60 anos) no estado do Rio de Janeiro, mostrou razões de taxas 7 a 8 vezes maiores nas mulheres daquela faixa etária. A boa notícia é que, apesar da elevada incidência, foi observado declínio nas taxas de mortalidade por câncer de mama em idosas na região.
A doença é a segunda localização de câncer mais incidente na população feminina no Brasil e na maioria dos países. Isso porque houve mudanças no ciclo reprodutivo feminino, como idade da primeira menstruação e da menopausa, paridade e idade da primeira gravidez. “Essas alterações podem aumentar o tempo de exposição a hormônios como estrogênio e a progesterona ao longo da vida e, consequentemente, contribuir para o risco de câncer de mama, uma vez que esses fatores têm um importante papel no seu desenvolvimento”, explica Inês.
Acesse aqui artigos e matérias da ENSP sobre o câncer de mama.
Regiões brasileiras mais desenvolvidas apresentam maior mortalidade
A mortalidade por câncer de mama apresenta uma curva ascendente no mundo e representa a primeira causa de morte por câncer nas mulheres brasileiras, segundo o Inca. Curiosamente, o Sul e o Sudeste, apesar de serem as regiões mais desenvolvidas do Brasil, apresentam as maiores taxas de mortalidade do país, com 14,76 e 14,64 óbitos/100.000 mulheres em 2018, respectivamente, de acordo com dados do instituto. “Fatores relacionados à falta de conhecimento da doença pela população e à escassez de acesso ao diagnóstico podem levar à não identificação de casos e consequente subnotificação nas demais regiões do Brasil”, esclarece Inês.
Outro fator que explicaria os resultados é a maior contingência de mulheres com mais de 60 anos e prevalência de fatores de risco no Sul e Sudeste, já que, nessas regiões, as mudanças no estilo de vida e comportamento se manifestam de forma mais acentuada. “Por outro lado, as diferenças nas taxas de mortalidade entre as diferentes regiões brasileiras se tornaram menores em anos mais recentes”, observa a pesquisadora.
Os dados reafirmam a importância do acesso aos serviços de saúde e da qualidade da assistência ofertada na redução da mortalidade pela doença. “A mesma pesquisa realizou uma análise da tendência temporal das taxas de mortalidade por câncer de mama padronizadas por idade, nas cidades de Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo, nas quais foi observada redução dessas taxas desde o ano 2000. Os autores comentam que esse achado foi corroborado por aqueles de um outro trabalho e que, possivelmente, refletem avanços no acesso ao diagnóstico e tratamento”, reforça Inês.
Dificuldades no acesso ao diagnóstico e tratamento
Apesar de avanços, o acesso aos serviços de saúde pública ainda é um dos gargalos no combate ao câncer de mama. No Rio de Janeiro, por exemplo, segundo estudo divulgado em 2018 pelo Programa de Navegação de pacientes (PNP), somente 30% das mulheres conseguiram iniciar o tratamento no prazo de 60 dias, determinado por lei; e 90% relataram dificuldade na regulação para hospitais feita em postos de saúde. Após o diagnóstico, as mulheres aguardaram em média dois meses para a primeira consulta com mastologista, cinco meses para operar, e de dois a três meses para iniciar a quimioterapia.
Segundo a pesquisadora da ENSP, as dificuldades no acesso ao diagnóstico e tratamento existem porque o sistema de regulação da assistência, que deveria promover a equidade no acesso às ações e aos serviços de saúde, é ainda fragmentado, com baixa interlocução entre as esferas federais, estaduais, municipais e particulares conveniadas ao SUS. “A estruturação do modelo atual adotado pelo SUS exige uma série de encaminhamentos entre os diversos serviços de saúde da rede, de acordo com os níveis de complexidade. Mas, conforme apontam algumas pesquisas, o sistema não possibilita meios para que a mulher percorra este fluxo em curto espaço de tempo, de forma a impedir o avanço da doença e o mau prognóstico. Esses encaminhamentos muitas vezes aumentam os intervalos de tempo, principalmente por atrasos nos agendamentos entre as diversas etapas diagnósticas e terapêuticas”, explica.
Covid-19: um entrave para o diagnóstico precoce e tratamento do câncer de mama
Se a falta de articulação entre as diversas esferas dos serviços de saúde já era um problema para o diagnóstico precoce do câncer de mama, a Covid-19 chegou para agravar esse cenário. Segundo estudo realizado pelo IBOPE Inteligência em setembro em algumas capitais brasileiras, 62% das participantes aguardam o fim da pandemia para retomar consultas médicas e exames de rotina. A pesquisa também cita a desinformação, os mitos e as fake news, que aumentaram consideravelmente durante a pandemia, como um dos principais entraves para o público feminino. Foi constatado que 63% desconhecem a amamentação como um fator protetivo contra a doença e 37% acreditam que o câncer só é desenvolvido por quem já teve caso na família. “Por outro lado, estudos mostram que a telemedicina passou a ser utilizada com mais frequência nos contatos com os pacientes”, observa Inês.
Outras pesquisas recentes revelam que a pandemia afetou diversos aspectos do cuidado oncológico rotineiro, desde o rastreamento e exames diagnósticos em casos suspeitos ao tratamento cirúrgico ou de quimioterapia dos casos já conhecidos. Interrupções do cuidado aconteceram em todos os países atingidos, especialmente nos meses iniciais da epidemia, conforme relata a pesquisadora da ENSP: “Em uma pesquisa realizada com pacientes oncológicos, alguns relataram terem eles mesmos decidido interromper a rotina de cuidados médicos por medo do contágio, mas a maioria informou ter sido comunicada pelo hospital/clínica sobre a interrupção do atendimento”.
Assista abaixo a depoimentos de profissionais da saúde e mulheres que venceram o câncer de mama:
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