Por meio do Cesteh/ENSP e da VPAAPS, Fiocruz inicia estudo na Cidade dos Meninos, em Duque de Caxias (RJ)
O Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP/Fiocruz), junto com a Vice-presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), iniciou o alinhamento do Plano de Trabalho do Termo de Execução Descentralizada (TED), firmado entre o Ministério da Saúde (MS) e a Fiocruz, para a elaboração de medidas para o fortalecimento e aperfeiçoamento das ações da política da vigilância em saúde ambiental e da atenção integral à saúde das populações expostas a substâncias químicas na Cidade dos Meninos.
Situada no município de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, a Cidade dos Meninos sofre com a exposição a substâncias químicas há anos, desde quando as atividades industriais do Instituto de Malariologia, ligado ao Governo Federal, foram encerradas no local, em 1961. Este fato provocou o descarte irregular de toneladas de resíduos de produtos cancerígenos na área, como o hexaclorociclohexano (HCH) e o diclorodifeniltricloroetano (DDT). Esse descarte afetou os moradores locais. Segundo integrantes da Associação de Moradores, na Cidade dos Meninos há casos de câncer que podem estar associados à exposição aos resíduos.
Por isso, o estudo proposto pelo Cesteh, VPAAPS e Ministério da Saúde será voltado para a avaliar a infraestrutura de saúde, assim como o monitoramento e avaliação ambiental, visando ampliar a qualidade do atendimento oferecido à população.
Primeiros passos
O projeto — cujas etapas já foram apresentadas a pesquisadores, integrantes do MS e moradores locais — teve, agora, o início dos estudos. Como ponta pé inicial, foi organizado um seminário com a participação do coordenador técnico-científico dos estudos, Alexandre Pessoa, que apresentou estudos já realizados na Cidade dos Meninos que confirmam a exposição humana a substâncias HCH pelos níveis elevados no sangue e leite materno de moradores locais. Os dados apontam também que, com exceção da área foco, não existe mais exposição ambiental dispersa na área. “A vegetação acabou fazendo um “bunker”, o que isolou a substância de outros espaços”, salientou o professor.
O atual projeto irá refazer toda análise ambiental para traçar estratégias de atuação no território, junto à comunidade local.
Olhar para Duque de Caxias
Mesmo com todo esse contexto e a luta pela saúde e bem-estar da população da Cidade dos Meninos, o historiado Hudson Guilherme de Oliveira busca mostrar que nem só de contaminação vive a área. Para isso, foi criada a exposição 'Caxias Verde: olhares de encantamento', um grande mosaico fotográfico que expõe as belezas naturais, sítios arqueológicos e a fauna dentro do município, desconhecidos pela população. Segundo o historiador, a ideia é sensibilizar a população da emergência de preservação desses locais ameaçados pela expansão e exploração industrial, logística e imobiliária. “Muitos desses locais estão na Cidade dos Meninos. Se a Cidade tem contaminação e não pode abrigar a população que aqui está, porque que para construir empreendimento, como o autódromo pode?”, indagou.
História da Cidade dos Meninos
A Cidade dos meninos é uma área de cerca de 20 hectares, de propriedade da União, localizada no município de Duque de Caxias, Região Metropolitana do Rio de Janeiro. No ano de 1946 abrigou as instalações de um complexo de assistência social e educacional para crianças e adolescentes. Após quatro anos, em 1950, parte das edificações que existiam ali foram cedidas para abrigar o Instituto de Malariologia ligado, à época, ao Ministério da Educação e Saúde. O espaço foi adaptado para a instalação de uma Fábrica de Inseticidas organoclorados que funcionou até 1961. Quando cessaram as atividades desta fábrica, ficaram no local cerca de 350 toneladas de resíduos tóxicos, abandonadas a céu aberto, o que impactou e ainda impacta a vida de diversos moradores locais.



