Artigo de pesquisadores da ENSP discute a comunicação no Conselho Nacional de Saúde
“Capacidade de comunicação das entidades do CNS nos meios digitais: há assimetrias expressivas entre os segmentos?”, publicado no periódico Ciência & Saúde Coletiva de março de 2023, discute a capacidade de comunicação das entidades representadas no Conselho Nacional de Saúde nos meios digitais. O resumo estendido do artigo ganhou menção honrosa no 4° Congresso Brasileiro de Política, Planejamento e Gestão da Saúde, em 2021. O estudo é produto da dissertação de mestrado, defendida na ENSP em 2020, de Bruno Cesar Dias, sob orientação de Assis Mafort Ouverney, coordenador do Departamento de Ciências Sociais (DSC/ENSP/Fiocruz).
No artigo, os pesquisadores abordam a emergência das redes sociais e a necessidade trazida por elas de as entidades que compõem o CNS divulgarem suas ideias e se fazerem presentes na sociedade em rede. O estudo teve como objetivo analisar em que medida essas entidades estão inseridas no meio digital e verificar se havia diferenças expressivas na capacidade de comunicação entre os segmentos representados no conselho.
De acordo com os autores, o processo deflagrado pelo Movimento da Reforma Sanitária, com a criação de diversas organizações voltadas ao debate e à mobilização pelo direito à saúde, expressa o fortalecimento da autonomia associativa, da liberdade de expressão e da comunicação alternativa da sociedade civil no setor saúde.
Fundadas no final da década de 1970, entidades como o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes); a Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco); o Movimento Amigos de Bairro de Nova Iguaçu (MAB) e o Movimento de Saúde da Zona Leste (MSZL), entre outras, engendraram uma crescente participação social de lideranças e segmentos identificados com o setor saúde e que se encontravam excluídos do debate institucional.
A emergência da Internet e das redes sociais trouxe novas necessidades para essas organizações divulgarem suas ideias e se fazerem presentes na sociedade em rede. A pesquisa inédita trouxe resultados da análise dos processos e das estratégias de comunicação das entidades titulares do Conselho Nacional de Saúde, gestão 2018-2021. Para obter esses dados, um inquérito foi aplicado às áreas de comunicação de 42 entidades entre setembro de 2019 a fevereiro de 2020. Foram obtidas 34 respostas. Os resultados mostram a existência de 3 níveis de desenvolvimento no trabalho de comunicação entre essas entidades. Ao final, discute-se os resultados à luz dos modelos da poliarquia e da democracia digital, e são apontados novos passos para uma comunicação e participação efetivamente democráticas.
Na discussão, os autores buscam refutar uma visão idílica da democracia digital: “diante de uma realidade complexa, apenas a existência e o pleno funcionamento da comunicação alternativa ou das demais instituições não são suficientes para assegurar que um regime político seja realmente democrático”, escreveram.
Para eles, ainda que os indicadores apontem para uma maior ocupação dos espaços virtuais por segmentos sociais e comunidades, é necessário que haja também uma maior capacidade de vocalização no debate político e que tais entidades apresentem níveis de desenvolvimento de comunicação avançados e intermediários, gerando um melhor e maior diálogo social ; e mesmo assim, é necessário olhar o fenômeno sem as utopias que marcaram o surgimento da Internet.
No trabalho, os autores propõem ainda aumentar o incentivo e qualificação dos comunicadores populares e das entidades com menos recursos; editais para equipamentos e articulação em rede entre as entidades integrantes do CNS para troca de materiais e produções centradas no direito à saúde e à comunicação.
Esses são alguns dos elementos de política pública voltada à valorização e ao fortalecimento da comunicação do controle social da saúde, com vistas a ampliar a capacidade comunicativa e técnica dessa parcela significativa da sociedade civil. “É preciso desatar as amarras para um melhor arrasto dessa rede que comunica saúde e direitos”, declaram os pesquisadores.
Acesse a íntegra do artigo em: https://doi.org/10.1590/1413-81232023283.02892022
Sobre os autores:
Bruno Cesar Dias é jornalista, foi coordenador de Comunicação da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) e atualmente é doutorando do programa de pós-graduação em Saúde Pública da ENSP/Fiocruz, e pesquisador do Observatório da Gestão Estadual do SUS, projeto vinculado ao Centro de Centro de Estudos Estratégicos (CEE/Fiocruz).
Assis Luiz Mafort Ouverney, economista, é coordenador do Departamento de Ciências Sociais da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio (DCS/ENSP/FIOCRUZ), e pesquisador do CEE da FIOCRUZ.
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