Em texto publicado no Lancet, pesquisadores alertam para ausência de dados ocupacionais sobre a Covid-19
O texto reforça que a coleta de dados primários é essencial para auxiliar os gestores públicos no monitoramento de doenças e no planejamento de serviços e ações; ainda mais diante de crises globais de saúde como a gerada pelo SARS-CoV-2. Além disso, revela que, dois anos após o início da pandemia, há uma melhor compreensão de que o vírus afetou desigualmente subgrupos populacionais.
De acordo com os autores, apesar de o desemprego, a informalidade e alguns empregos classificados como essenciais serem associados a uma maior mortalidade por Covid-19, não há informações precisas e confiáveis sobre o número de casos relacionados ao trabalho e internações no Brasil. “Essa é uma lacuna de informação muito importante em um país onde o desemprego atingiu 13,5 milhões de pessoas e 38 milhões de trabalhadores não tinham carteira assinada ao final de 2021 (40,6% da população ocupada)”, avaliam.
O Brasil possui diversas bases de dados desagregadas que têm sido utilizadas por diversas instituições para estudar os impactos da Covid-19 em diferentes ocupações, como e-SUS Notifica, SIVEP-Gripe e SIM. No entanto, conforme revelaram os pesquisadores no Lancet, essas bases possuem mais de 90% de dados faltantes para variáveis ocupacionais, como indicadores de morbidade – ou com grande heterogeneidade entre os estados brasileiros para indicadores de mortalidade (SIM). Atualmente, as últimas informações disponíveis para trabalho e emprego datam de 2010. “A ausência de dados censitários pode gerar impactos de longo prazo na distribuição de recursos aos municípios, na representação parlamentar de cada estado e na implementação de programas governamentais como o novo Auxílio Brasil”, admitiram os autores lembrando os cortes severos que a pesquisa nacional sofreu em 2022.
Por fim, concluem que a falta de dados de saúde ocupacional no Brasil e em vários países do mundo dificulta a orientação de políticas públicas sobre restrições e flexibilização nos ambientes de trabalho. “O falso dilema entre saúde e trabalho imposto pelo governo brasileiro e o manejo errático da pandemia têm sido responsáveis por perdas humanas incalculáveis e deterioração das condições de vida e trabalho da população. Lacunas de dados impedem análises científicas precisas dos impactos da COVID-19 nos trabalhadores brasileiros”.
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