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Artigo aborda barreiras de acesso à testagem e tratamento do HIV no município de Curitiba

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Publicado em:30/07/2021

No Brasil, mais da metade das novas infecções por HIV, em 2018, ocorreu entre as populações mais vulneráveis: profissionais do sexo, pessoas que usam drogas, homens gays e outros Homens que fazem Sexo com Homens (HSH), pessoas trans, pessoas privadas de liberdade, e seus parceiros. O artigo Barreiras de acesso para HSH à testagem e tratamento do HIV no município de Curitiba, parte de uma pesquisa mais ampla, de Vanda Lúcia Cota, sob orientação de Marly Marques da Cruz, coordenadora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Saúde Pública da ENSP, revelou que as estratégias do projeto 'A Hora é Agora' (AHA) convergiram para aumentar a visibilidade do Centro de Orientação e Aconselhamento (COA) entre os HSH e também aumento da testagem, abordagem mais adequada ao aconselhamento e atendimento.



Conforme relata o artigo, a pergunta que motivou o estudo foi se o projeto AHA, desenvolvido no COA de Curitiba, modificou o acesso dos HSH à testagem do HIV e à vinculação dos usuários diagnosticados HIV+ aos serviços de saúde, com vistas ao tratamento precoce do HIV/Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida).



O AHA foi uma iniciativa voltada à prevenção e controle do HIV entre homens gays e outros HSH, explica o artigo, principalmente entre os jovens de 14 a 29 anos, que teve início em dezembro de 2014 e término em dezembro de 2017. O projeto visava a ampliar o acesso à testagem, oferecendo testes rápidos de punção digital em uma unidade móvel, ou trailer, posicionada em local estratégico, proximidade a zonas de sociabilidade, frequentado pelo público alvo; na Organização Não Governamental (ONG) Grupo Dignidade, de atendimento a lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT); na unidade de saúde pública COA; e pela incorporação da testagem do HIV no Consultório na Rua de Curitiba.



Além disso, segundo o artigo, com o apoio da plataforma virtual (https://www.ahoraeagora.org/) denominada e-Testing, a população-chave do projeto (HSH) pôde receber o teste de fluido oral em domicílio ou retirar na farmácia popular do Ministério da Saúde para realização do auto teste. “O projeto objetivava, ainda, fortalecer a vinculação dos casos positivos para o HIV com os serviços de saúde de atenção ao HIV em Curitiba via ‘linkagem’, facilitando o acesso ao tratamento antirretroviral e garantindo o acompanhamento dos usuários, por meio do ‘linkador’ – neologismo derivado da palavra em inglês linkage”. O linkador era um membro da equipe do AHA que auxiliava os usuários com resultados reagentes para o HIV com o objetivo de dar início ao tratamento em serviços de saúde pública da atenção primária. Trata-se de um profissional selecionado e capacitado para apoiar os usuários no momento em que descobriam que eram soropositivos, além de facilitar seu acesso aos serviços de saúde e responder às eventuais dúvidas sobre HIV e Aids, incentivando sempre a sua autonomia.


O COA foi implantado em Curitiba em 1992 pela gestão estadual, e em 1995 passou a ser administrado pela gestão municipal de Curitiba. Quando o Ministério da Saúde modificou o nome dos COA para Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), Curitiba optou por manter o nome COA, entendendo que já havia sido criado uma identidade do serviço por seus usuários. Ele é atualmente considerado um Serviço de Atenção Especializada (SAE) que disponibiliza testagem de HIV, sífilis e hepatites B e C, aconselhamento, atendimento médico ambulatorial às Pessoas que Vivem com HIV/Aids (PVHA) e é uma Unidade Dispensadora de Medicamentos (UDM). O COA conta com uma equipe de psicólogos aconselhadores, enfermeiros, farmacêuticos, médicos e assistentes administrativos.

Apesar de o COA ser uma importante referência para as populações mais vulneráveis e atender a um bom número de HSH, ainda existem barreiras de acesso dessa população aos serviços de saúde devido ao estigma a esse grupo social. A maioria dos HSH deseja privacidade e sigilo quando se trata de sua orientação ou prática sexual e nem sempre é respeitada. Além disso, há necessidade de abordagem mais adequada a esses grupos vulneráveis à infecção pelo HIV para que haja uma maior vinculação e adesão ao tratamento, que têm sido mais baixas. Trata-se de estudo original no Brasil, porque revela as barreiras e facilitadores encontrados pelos usuários no momento do diagnóstico HIV+ em um serviço de saúde do SUS, a partir de um projeto de intervenção e pesquisa – o AHA.


A principal barreira mencionada pelos HSH para o acesso ao COA foi o horário de atendimento, que não é uma barreira específica do COA, mas da maioria dos serviços públicos que funcionam em horário comercial. Os profissionais citaram também o número reduzido da equipe do COA, que não consegue atender a demanda, e, muitas vezes, precisa pedir ao usuário para retornar no dia seguinte.

Quanto às barreiras para se chegar aos HSH de Curitiba, os profissionais de saúde e gestores citaram o acesso, a localização, humanização, falta de recursos humanos capacitados nos serviços e preconceito. O COA está localizado em uma região central de Curitiba, com fácil acesso aos terminais de ônibus, embora algumas pessoas tenham dificuldade para pagar o transporte das áreas periféricas até o centro.

Segundo os profissionais de saúde, houve também uma preocupação com a falta de humanização no serviço e de pessoas capacitadas para o atendimento dos HSH e outras populações vulneráveis, incluindo servidores preconceituosos. Estudo realizado com HSH em Brasília revelou que o acesso ao serviço público de saúde é limitado, não há privacidade. “Com isso os indivíduos são submetidos ao estigma, à violência, no mínimo simbólica, ou então a um serviço orientado ao público heterossexual. Ou seja, são serviços pouco humanizados e acolhedores por desrespeitarem a diversidade social e sexual dos grupos mais vulneráveis”.


Os usuários entrevistados, de acordo com o artigo, citaram a falta de informação, o medo, a vergonha e a homofobia como barreiras para se chegar aos HSH de Curitiba. As entrevistas evidenciaram a necessidade de comunicação e informação sobre o tema HIV/Aids para os HSH e outras populações-chave, além de destacarem a falta de materiais informativos e as poucas campanhas existentes na mídia.

Informações sobre o tratamento são também fundamentais para que as pessoas tenham conhecimento antes mesmo de um possível diagnóstico, apontou o artigo. As autoras recomendam que o Ministério da Saúde e as secretarias de saúde possam desenvolver mais ações nessa área para a população em geral, sem focar nas populações-chave como tentativa de diminuir o estigma. “Ações com o Ministério da Educação, como o extinto projeto Saúde e Prevenção nas Escolas poderiam surtir efeito, pois focam justamente na população jovem, onde a epidemia predomina”.

Ainda sobre o estigma, o estudo observou que é importante educação permanente e rodas de conversa com a rede de atenção básica, incluindo também tópicos como sexo, sexualidade, gênero e vulnerabilidades. “Além disso, cabe melhor mediação e interação com as organizações da sociedade civil e com os canais de comunicação para tematizar questões sensíveis para os jovens gays e outros HSH que precisem melhorar o acesso e o cuidado para uma vida sexual mais saudável”, finalizou.

O artigo foi publicado na revista Saúde em Debate, disponível aqui.





Fonte: Artigo revista Saúde em Debate
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