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Dispositivos eletrônicos para fumar: implicações para a Política Nacional de Controle do Tabaco

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Publicado em:06/07/2021

Um estudo que objetivou estimar a prevalência de uso de dispositivos eletrônicos para fumar (DEF) e explorar o fluxo lógico esperado do potencial impacto dos DEF na iniciação de cigarro convencional, alerta sobre o possível impacto negativo da disseminação desses dispositivos sobre a exitosa experiência do Brasil no combate ao tabagismo. Em artigo publicado no Cadernos de Saúde Pública, os pesquisadores Neilane Bertoni e André Salém Szklo revelam que mais da metade dos indivíduos que já utilizaram DEF na vida, ou que usam atualmente, nunca usaram cigarros convencionais. “Os achados vão em sentido oposto ao argumento da indústria do tabaco de que o público-alvo dos DEF são fumantes adultos”. Outro fator preocupante apontado pela pesquisa é que usuários de dispositivos apresentaram maior consumo abusivo de álcool.

O estudo utilizou dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2019, que entrevistou 52.443 indivíduos de 18 anos ou mais das 26 capitais brasileiras e do Distrito Federal. Foram calculados as prevalências pontuais e os intervalos de confiança (IC95%) de uso atual e na vida de DEF em cada capital brasileira, e avaliado o perfil dos usuários destes dispositivos.

Estimou-se a prevalência de uso na vida em 6,7% (IC95%: 6,13-7,27) e uso atual em 2,32% (IC95%: 1,97-2,68). São 2,4 milhões de indivíduos que já usaram DEF e 835 mil que usam atualmente. Cerca de 80% das pessoas que já usaram DEF têm entre 18 e 34 anos. A prevalência de uso diário e uso dual entre jovens de 18 a 24 anos foi quase 10 vezes a prevalência nas faixas etárias superiores. A proporção de mulheres e de indivíduos com escolaridade mais elevada foi maior no grupo de jovens que faz uso exclusivo de DEF do que entre os que usam cigarros convencionais exclusivamente.

Observa-se que o Distrito Federal foi a capital que apresentou a maior prevalência de uso de DEF, sendo 12,81% (IC95%: 9,96-15,66) para uso na vida e 4,93% (IC95%: 3,44-6,41) para uso atual. São Paulo, contudo, é a capital que apresenta o maior quantitativo de usuários de DEF, sendo seguida pelo Distrito Federal e Rio de Janeiro. Essas três capitais, conjuntamente, têm cerca de 60% dos usuários atuais de DEF.


Os DEF foram introduzidos no mercado no início dos anos 2000, na China. Em pouco tempo, novos modelos surgiram, com grande apelo tecnológico e de design moderno, como o Juul, e cigarros de tabaco aquecido (heat-not-burn - HNB), dentre os mais difundidos, o Glo e o IQOS.


Conforme o artigo, toda essa “novidade tecnológica” vem chamando a atenção dos jovens e inclusive dos nunca fumantes. Nos Estados Unidos, por exemplo, a prevalência de uso de cigarros eletrônicos vem apresentando rápido crescimento. Em 2011, a prevalência de uso entre os estudantes do Ensino Médio era de 1,5% e em 2014 saltou para 13,4%. Em 2019, já ultrapassava a prevalência de cigarros convencionais (27,5% vs. 5,8%).


Assim, salientam os pesquisadores, a ideia de que os DEF seriam apenas uma ferramenta para a redução de danos, voltada para o público de fumantes, vem perdendo forças, uma vez que seu uso está sendo disseminado também em outros subgrupos populacionais. “Além disso, o uso de DEF como estratégia de redução de danos não é bem estabelecido na literatura científica, e uma revisão sistemática apontou que artigos financiados pela indústria do tabaco tendem a apresentar resultados mais favoráveis do que os que não recebem este tipo de financiamento”.


Ainda, acrescenta o artigo, parte dos usuários de DEF fazem uso dual desses produtos, ou seja, utilizam também os cigarros convencionais, sendo expostos às substâncias tóxicas liberadas por ambos os produtos. Ao contrário do que a indústria do tabaco tenta disseminar, os DEF não são inócuos, pois contêm ou geram substâncias cancerígenas e/ou que causam danos aos pulmões e sistema cardiovascular, como o óxido de propileno, a acroleína, metais pesados e ainda compostos inorgânicos do arsênio.


Desde 2009, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da RDC nº 46/2019, proíbe a comercialização, a importação e a propaganda de quaisquer DEF no Brasil, por falta de evidências científicas robustas sobre a segurança no uso destes dispositivos e a eficácia deles na cessação do tabagismo. Apesar disso, o primeiro estudo de representatividade nacional a abordar esse tema no Brasil mostrou que, em 2015, a prevalência do uso de cigarros eletrônicos foi de 0,43% (IC95%: 0,26-0,59) na população de 12 a 65 anos, ou seja, cerca de 650 mil pessoas. Na população jovem (12 a 24 anos), a prevalência do uso estimada foi de 0,71% (IC95%: 0,28-1,15). Outro estudo realizado em três capitais brasileiras apontou que o uso de cigarros eletrônicos, tanto entre fumantes quanto entre não fumantes, aumentou entre 2012 e 2017.


Monitorar a prevalência de DEF é crucial para entender também o panorama do uso de cigarros convencionais, dado que a iniciação do uso de cigarros convencionais é quatro vezes maior entre os usuários de DEF, dizem os autores.


Os pesquisadores consideram que novos estudos sobre este tema podem servir, portanto, para apontar as ações legislativas, educacionais e de tratamento necessárias para impedir um aumento na morbimortalidade associada ao uso do cigarro convencional e/ou DEF no país.


Acesse o artigo Dispositivos eletrônicos para fumar nas capitais brasileiras: prevalência, perfil de uso e implicações para a Política Nacional de Controle do Tabaco na íntegra.





Fonte: Artigo

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