Aleitamento materno como promotor da sustentabilidade é tema de seminário no Centro de Estudos do Dihs
*Por Isabelle Ferreira
Conferência discutiu benefícios ambientais, sociais e econômicos da amamentação.
Monoparentalidade, amparo à maternidade e ausência de rede de apoio foram alguns dos temas centrais debatidos na última edição do Centro de Estudos Giuliano de Oliveira Suassuna. Com o tema “Direito ao Aleitamento da Mulher Trabalhadora”, o seminário foi promovido pelo Departamento de Direitos Humanos e Saúde (Dihs) da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), na quinta-feira (7/8). O evento, transmitido pelo canal da ENSP no YouTube, integrou as comemorações pelos 10 anos do departamento.
O debate contou com a participação da enfermeira e doutoranda em Saúde Pública da ENSP/Fiocruz, Isis Leticia Brasil dos Santos, que atua no Núcleo de Saúde do Trabalhador (Nust/CST) da Fiocruz e no Serviço de Apoio à Amamentação do Hospital Federal de Bonsucesso. “O direito de amamentar é um direito à vida e à saúde. Promover, proteger e apoiar o aleitamento é, portanto, promover direitos humanos”, defendeu a pesquisadora em sua apresentação. Também participaram da atividade as pesquisadoras do Dihs, Vania Reis Girianelli e Rita de Cássia Vasconcelos da Costa, como mediadoras.
Aleitamento materno e sustentabilidade
Isis Santos destacou que a Semana Mundial de Aleitamento Materno de 2025 aborda o aleitamento como ferramenta de sustentabilidade e compromisso com o futuro do planeta. Ela reforçou a importância do Agosto Dourado, mês instituído pela Lei Federal nº 13.435/2017 para promover e conscientizar sobre os benefícios do leite materno – considerado o “padrão ouro” em qualidade e nutrição.
A especialista salientou a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Unicef e do Ministério da Saúde do Brasil sobre o aleitamento exclusivo até os seis meses e complementado até os dois anos. A prática é reconhecida por sua eficácia no combate à desnutrição infantil, principalmente em contextos de vulnerabilidade.
Ela também citou dados da revista científica 'The Lancet', que classificam a amamentação como um investimento inteligente na saúde e na economia. Segundo a publicação, o aleitamento adequado poderia evitar anualmente a morte de 823 mil crianças com menos de cinco anos e 20 mil mulheres por câncer de mama.
Prejuízos da não amamentação
A enfermeira alertou para os impactos da não amamentação, que incluem perdas econômicas estimadas em US\$ 302 bilhões por ano – ou 0,49% do PIB global –, além de aumento nos custos com doenças evitáveis, como diarreia, pneumonia e diabetes tipo 2.
Fatores como a publicidade agressiva de fórmulas infantis, falhas no sistema de saúde, legislação insuficiente (como a curta licença-maternidade/paternidade) e falta de estrutura nos ambientes de trabalho agravam a situação. “A entrada da mulher no mercado de trabalho está estritamente relacionada com a queda do aleitamento materno em nível global”, afirmou.
Isis destacou ainda a situação das mulheres sem vínculo formal de trabalho, que muitas vezes não conseguem garantir o aleitamento exclusivo por ausência de direitos trabalhistas. “O direito de amamentar é um direito à vida e à saúde. Promover, proteger e apoiar o aleitamento é, portanto, promover direitos humanos”, reforçou.
Como garantir o direito à amamentação?
Para Isis Santos, a garantia do aleitamento começa no pré-natal, com orientações claras, e deve continuar após o parto, inclusive com suporte contínuo na Atenção Básica. “É fundamental garantir a amamentação na primeira hora de vida – a chamada ‘hora de ouro’”, ressaltou.
Ela apontou ações essenciais nos ambientes de trabalho, como:
* Criação de espaços adequados para ordenha e armazenamento do leite;
* Licença-maternidade compatível;
* Campanhas de conscientização para trabalhadores e empregadores.
Isis também alertou para a mastite, inflamação causada pela interrupção abrupta da amamentação, frequentemente relacionada ao retorno ao trabalho sem condições adequadas.
A enfermeira encerrou sua participação reforçando que a amamentação é um direito fundamental, e que cabe ao Estado, à sociedade e à família garantir sua efetivação. “Precisamos assegurar o direito da trabalhadora de amamentar e da criança de ser amamentada pelo tempo que desejarem”, concluiu.
Ao final, a doutoranda declamou o poema de sua autoria “Quero amamentar, mas preciso trabalhar”, em reflexão ao tema central do seminário.
Leia o poema na íntegra:
*Quero amamentar, mas preciso trabalhar*
Me disseram que nos seis primeiros meses a criança só o peito deve mamar.
Como faço se, antes disso, para o trabalho devo voltar?
Por que não posso com meu bebê ficar?
Ninguém me falou como faço para meu leite tirar e guardar.
Acho que vou ter que parar de amamentar.
Se largo o trabalho, os outros meninos não poderei alimentar.
Dizem que o leite do peito é o melhor para o bebê.
Sou má porque vou deixar de dar?
Quero trabalhar e meu seio não para de vazar.
O que fazer com a dor do seio quente e duro?
Não me contaram que no trabalho devo ordenhar.
A dor não é só no peito, é na alma de quem queria seu bebê aconchegar e amamentar.
Quero amamentar, mas preciso trabalhar.
*Estagiária sob supervisão da equipe de jornalismo do Informe ENSP.
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