Aprovada em mestrado na ENSP, estudante do Maranhão faz rifa para custear ida ao Rio e é acolhida pela Fiocruz
Por Barbara Souza
Em meio às comemorações do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, a movimentação de uma estudante do Maranhão aprovada num mestrado da ENSP repercutiu na Fiocruz. Camila Nunes Santos Lima passou no processo seletivo para a próxima turma do Mestrado Acadêmico em Saúde Pública e Meio Ambiente da Escola. Mas a jovem de 25 anos, formada em Biologia, não tinha certeza se conseguiria cursar. A distância entre São Luiz e o Rio de Janeiro, onde serão realizadas as aulas, preocupou a estudante, que resolveu fazer uma rifa para arrecadar dinheiro e conseguir comprar a passagem de avião, além de garantir sua permanência na cidade pelo menos no início do curso. “Eu estou desempregada, trabalho aqui em São Luiz (MA) dando aulas de reforço. Como não tenho renda fixa, fiquei com medo de não conseguir dinheiro suficiente para pagar a passagem”, contou Camila, que ficou sabendo da aprovação no dia 8 de fevereiro. As aulas começam no dia 6 de março.
Camila Nunes vai pesquisar possíveis bioindicadores em manguezais. Foto: Acervo pessoal
Grande parte do que preocupava a jovem bióloga já foi resolvido. Ao tomar conhecimento do caso, que chegou a ser noticiado em portais do Maranhão, a Fiocruz criou um canal unificado para dar apoio e orientar a estudante. As orientações partem da Coordenação Geral de Educação (CGE/VPEIC), do Centro de apoio ao Discente (CAD), da direção da ENSP e da coordenação do Programa de Saúde Pública e Meio Ambiente da Escola. Camila foi informada a respeito das políticas de acesso e permanência de estudantes em situações como a dela. Dados os critérios do programa, ela será contemplada com bolsa de estudos no valor vigente e determinado pelas agências de fomento, a ser paga a partir de maio. Além disso, Camila poderá solicitar vaga gratuita no alojamento do Centro de Referência Hélio Fraga, onde são alojados estudantes da Fiocruz. Ela também poderá se candidatar ao edital de Auxílio Permanência, um auxílio de R$ 400,00 mensais por 24 meses.
A Coordenadora Geral de Educação (CGE/VPEIC) da Fiocruz, Cristina Guilam, reforça que a instituição está fortemente comprometida com a inclusão e sustentabilidade de alunos em situação de vulnerabilidade. “Já há alguns anos, a Fiocruz compromete parte de seu orçamento com bolsas, complementando as ações da Capes, CNPq e Fundações de Amparo à Pesquisa. Além disso, em 2022, aprovamos a Política de Apoio ao Discente e criamos o edital para o auxílio permanência, entendendo que não basta aprovar alunos de baixa renda: é preciso dar condições para sua sustentabilidade nos cursos de mestrado e doutorado”, disse. As ações listadas por Cristina Guilam fazem parte de um ideário político institucional de contribuição para a redução das desigualdades sociais. “A trajetória de Camila deve ser extremamente valorizada. Desejamos que ela e tantos outros realizem seu sonho de fazer pós graduação, frequentar nossa instituição e contribuir para o aperfeiçoamento da cidadania”, concluiu.
A jovem iniciou a carreira científica na graduação no Maranhão. Foto: Acervo pessoal
A Vice-diretora de Ensino da ENSP, Enirtes Caetano, enfatizou o valor que alunos como Camila agregam aos cursos e à instituição. "A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca é muito sensível à história de vida da Camila e destaca o valor que a aluna traz para o Programa de Pós Graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente. Não temos dúvida que a Educação transforma vida e impulsiona sonhos. Nós temos o compromisso com o enfrentamento da desigualdade, favorecendo uma série de iniciativas que contribuem para o crescimento formativo e profissional", disse.
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente, Enrico Saggi se disse agradecido pelo empenho da estudante e também pela disponibilidade da Fiocruz em garantir que ela faça parte de seu corpo discente. “Esse interesse dos alunos em estarem aqui demostra a potência que é a instituição e o quão importantes são os estudos ambientais para a saúde pública em todos os estados do país. Ficamos muito felizes também com a repercussão que a notícia gerou, por meio da força das redes sociais, e agradecemos o esforço da instituição em ajudá-la, pois se preocupa em receber as pessoas em vulnerabilidade”.
Orientada pela professora Rachel Ann Hauser-Davis, Camila vai pesquisar o potencial de uma planta como bioindicador da poluição por metais nos manguezais, ecossistema que abriga uma população que ela deseja que seja beneficiada pelos futuros resultados do estudo. Na graduação, a maranhense estudou componentes terapêuticos das plantas e a formulação de um sabonete à base de extratos da folha do guajiru. “Sempre gostei muito de poder contribuir. Durante minha graduação em Biologia, trabalhei num núcleo de estudos em agroecologia. Lá, estudávamos plantas nativas de uma região aqui de São Luiz para identificar potenciais terapêuticos e repassar as conclusões à comunidade que mora ao redor. O mesmo fazíamos em relação a alguns frutos. Eu me apaixonei por essa possibilidade de contribuir. Por isso, eu gostei muito do programa de Saúde Pública e Meio Ambiente, já que nele há essas interconexões da saúde humana e o ambiente”.
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