Fiocruz apresenta resultados inéditos sobre gestação, parto e nascimento no RJ
Pesquisa destaca que 18% das mulheres apresentaram sintomas de depressão e aproximadamente dois terços relataram ter sofrido pelo menos um tipo de violência obstétrica
Por Danielle Monteiro
Os resultados foram publicados em uma série com sete artigos na Revista de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Coordenada pela ENSP/Fiocruz, a pesquisa teve o apoio do Ministério da Saúde (MS), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e do Fundo Newton. A primeira edição do estudo, publicada há dez anos, é conhecida como um marco na produção de conhecimento sobre saúde materno-infantil no país.
A pesquisa envolveu 29 maternidades públicas e privadas localizadas em 18 municípios fluminenses. Foram entrevistadas 1.923 mulheres durante a internação para o parto ou por perda fetal e obtidas informações de cadernetas da gestante e de prontuários de puérperas e recém-nascidos. A coleta de dados ocorreu entre 2021 e 2023. Gestores e profissionais de saúde também contribuíram para a avaliação da estrutura e dos processos assistenciais dos serviços de obstetrícia e neonatologia.
Nascer no Brasil 2
O 'Nascer no Brasil 2 - Pesquisa Nacional sobre Perda Fetal, Parto e Nascimento' foi realizado uma década após o lançamento de sua primeira edição, que apontou alto índice de cesarianas no sistema de saúde nacional.
O lançamento dos resultados fez parte das celebrações dos 125 anos da Fiocruz e dos 71 anos da ENSP
O estudo teve como objetivo dimensionar o panorama da saúde obstétrica, com base em informações sobre as condições socioeconômicas das mulheres, os fatores de risco gestacionais, o acesso e a qualidade dos serviços de saúde, além das condições do parto e do nascimento e os principais desfechos maternos e neonatais, oferecendo um acompanhamento ampliado do cenário da assistência à saúde sexual e reprodutiva no país. As análises exploram diferenças regionais, comparando a atenção ao parto na capital fluminense, na Região Metropolitana e no interior, e entre hospitais públicos e privados, apresentando um panorama das desigualdades no acesso e na qualidade do cuidado.
Em uma próxima etapa, prevista para ser lançada em 2026, o Nascer no Brasil 2 vai revelar dados sobre gestação, parto e nascimento de todo o país.
"Em sua segunda edição, a pesquisa incorporou novos temas e ampliou a amostra em alguns locais, o que garante representatividade, além de criar um retrato sobre as formas de gestar, parir e cuidar no estado", afirmou a médica, coordenadora do estudo e pesquisadora da ENSP, Maria do Carmo Leal
"O lançamento não apenas simboliza um momento importante de divulgação dos resultados e diálogo com a sociedade, mas também reforça a urgência de qualificar a atenção à gestação e ao parto e nascimento como um caminho essencial para a redução da mortalidade materna no país”, disse a enfermeira, coordenadora-adjunta do estudo e pesquisadora da ENSP, Silvana Granado
Violência obstétrica
Aproximadamente dois terços das mulheres relataram ter sofrido pelo menos um tipo das violências investigadas. A dimensão de toques vaginais inadequados foi a mais relatada (46%), seguido por negligência (31%), abuso psicológico (22%), estigma e discriminação (8%) e abuso físico (3%). Foi constatada desigualdade na ocorrência do problema, com maior vulnerabilidade entre mulheres em condições socioeconômicas desfavoráveis.
Também foram observadas disparidades relacionadas ao estigma e discriminação de acordo com algumas características demográficas, como cor de pele preta e mulheres sem companheiro, bem como abuso físico e toques vaginais inadequados entre mulheres com idade acima de 35 anos e escolaridade inferior a 12 anos de estudo. Mulheres primíparas, que entraram em trabalho de parto, com trabalho de parto prolongado e que tiveram parto vaginal também apresentaram maiores prevalências de violência obstétrica em algumas das dimensões investigadas.
Perfil das puérperas
Os dados apontaram que um em cada dez partos aconteceu em adolescentes, enquanto o dobro ocorreu em mulheres com idade materna avançada, ou seja, 35 anos ou mais. Segundo as coordenadoras do estudo, os resultados indicam maior complexidade e requerem melhor qualificação do serviço público. “As faixas etárias extremas da vida reprodutiva estão associadas ao aumento de risco de complicações obstétricas e perinatais. Já a gravidez na adolescência demanda atenção diferenciada em razão dos maiores riscos de óbito perinatal, parto prematuro e restrição do crescimento fetal, especialmente nas mais jovens”, explicam.



