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Direitos humanos: debatendo mídia e movimentos sociais

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Publicado em:26/10/2012

Tatiane Vargas

 

"As palavras tem um sentido absolutamente fundamental na medida em que são nodos de redes de coordenações de ações, e não representantes abstratos de uma realidade independente. Trata-se, portanto, de examinar em profundidade, de forma cirúrgica, a questão das palavras e a questão dos conceitos, que são exatamente o território que a mídia e os movimentos sociais se enfrentam, ou seja, pelo vigor de seus discursos essas duas forças são conflitantes", apontou o professor adjunto do Departamento de Expressão e Linguagem da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Evandro Vieira Ouriques. Evandro, jornalista e cientista político, estava presente na última mesa (24/10) do VII Seminário Internacional e XI Seminário Nacional Direito e Saúde, organizado pelo Grupo de Direitos Humanos e Saúde Helena Besserman (Dihs/ENSP).

 

A mídia e os movimentos sociais foi o tema escolhido para finalizar o seminário. Além do professor da Eco/UFRJ, Evandro Vieira Ouriques, a mesa contou ainda com as exposições da coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde Pública, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), Inezita Soares de Araújo, e do coordenador da Gestão da Tecnologia da Informação da Vice-Presidência de Gestão e Informação da Fiocruz, Álvaro Funcia Leme. A atividade teve a coordenação do pesquisador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/ENSP/Fiocruz), Paulo Amarante.

Direitos humanos: debatendo mídia e movimentos sociais

 

Evandro iniciou sua palestra A mídia e os movimentos sociais e o movimento político de emancipação na comunicação explicando que sua exposição abordaria a questão da mídia e os movimentos sociais sobre a perspectiva de um possível movimento psicopolítico de emancipação na comunicação. Para ele, a psicopolítica é a aproximação entre as ciências da pisque e do social. “Essa palestra será proferida por uma pessoa que tem uma percepção dos sistemas de pensamento como sendo em grande parte uma renovação dele”, descreveu. O professor avaliou a situação atual que vivemos analisando trechos de matérias publicadas sobre a reunião - realizada em setembro de 2012 - da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) e enfatizou: “Essa análise é para demonstrar um pouco de onde nós estamos enfiados.”

Direitos humanos: debatendo mídia e movimentos sociaisPara o professor, a questão é que a maior parte de nós, ou a maior parte do nosso tempo, não somos nós mesmos; representamos um caldo de valores que nos foram impregnados. “Olhamos através do que a mídia nos ensina, e por isso os movimentos sociais acabam muitas vezes encontrando as portas fechadas.” De acordo com ele, o que neutralizamos como sendo nosso pensamento são construções históricas que nós naturalizamos. Uma solução para isso, segundo ele, é mudar o território mental para que se possa efetivamente mudar o fluxo de pensamentos. “Se somos alvos de operações psicológicas, precisamos mudar a sinergia da ação”, aconselhou.

Evandro ressaltou que é preciso enfrentar o cânone do desenvolvimento – palavra que, segundo ele, está ligada à sequência da evolução, crescimento e riqueza, fatores que movem a teoria do progresso por meio da força globalizante do estado mental em rede chamado capital. “Capitalismo não existe, o que existe é o estado mental capital em rede, ou seja, o meu canalha, é conectado em rede com o seu canalha, com o canalha de todos nós. Chamamos isso de capitalismo e não conseguiremos nunca superar, pois não importa o lugar, pois o capitalismo esta dentro de nós.” Encerrando sua exposição, o cientista político expôs que as palavras descrevem ações do mundo e constituem confiança, fator fundamental para resgatar os direitos humanos e saúde. “Direitos humanos é instauração da comunicação, e saúde é comunicação”, concluiu.

 

A visibilidade da mídia, nomeação e o papel das imagens

 

Como a mídia oferece e não oferece visibilidade, foi um dos temas propostos pela coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde Pública do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), Inezita Soares de Araújo. Segundo ela, a nomeação é uma das maneiras pelas quais é possível dar visibilidade a determinado assunto. A coordenadora explicou, por exemplo, que, quando nomeamos um indivíduo chamando-o carente, estamos julgando o que falta a esse indivíduo, e não o que ele realmente possui.

 

Direitos humanos: debatendo mídia e movimentos sociaisInezita citou que nomeação é a disputa do poder simbólico e questionou que ser nomeado confere existência. Porém, que tipo de existência é essa? Para ela, a visibilidade dos nomeados nem sempre é positiva. “O efeito nefasto de certas formas de nomeação pode produzir um efeito diferente quando ela se dá por meio de um processo arbitrário. A invisibilidade, por exemplo, está claramente associada às classes econômicas mais baixas”. A coordenadora explicou que as doenças negligenciadas são as que atingem a parcela mais baixa da população. Por fim, Inezita enfatizou que, atualmente, possuímos uma comunicação negativa, negligenciada e produtora de desigualdades, e reafirmou que “saúde é um direito de cidadania”.

 

Abordando outro ponto de vista da comunicação, o das imagens, o coordenador da Gestão da Tecnologia da Informação da Vice-Presidência de Gestão e Informação da Fiocruz, Álvaro Funcia Leme, iniciou sua palestra fazendo um questionamento. Será que a internet e as mídias sociais representam uma nova ágora? (As ágoras eram espaços abertos em Roma destinados à tomada de decisões). O coordenador citou que o fenômeno da internet vem alcançando uma enorme profundidade. E ainda não existe muita noção, pois estamos no centro disso.

 

Direitos humanos: debatendo mídia e movimentos sociaisÁlvaro dividiu sua exposição em três tópicos: em que medida essas transformações podem alcançar a saúde; direito como campo de compreensão; e o ambiente da comunicação. “As relações sociais estabelecidas por nós também são fatores de saúde e doença”, destacou. Para Álvaro, o fenômeno pelo qual passamos atualmente já atinge a saúde e está diretamente ligado à comunicação. É importante saber como operam neste contexto as mídias sociais, elas são diferentes da comunicação institucional. Por fim, o coordenador destacou que as mídias sociais superam em volume de informação todas as informações de todas as mídias monodirecionadas em 30%.



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