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“O feminismo é uma lente para pensar o mundo”, defende Debora Diniz em palestra na ENSP

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Publicado em:08/03/2024
Por Danielle Monteiro

A celebração da luta feminina, os avanços necessários em prol da igualdade de gênero e o enfrentamento à violência  e outros efeitos do patriarcado foram os marcos da palestra Lutas Feministas, conduzida pela antropóloga referência em igualdade de gênero e saúde pública no Brasil, Debora Diniz, nesta sexta-feira (8/03), na ENSP. Realizada em alusão ao Dia Internacional da Mulher, a atividade encerrou a Semana de Abertura do Ano Letivo da Escola.

O evento iniciou com um poema recitado pela poetisa Carla Pepe em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Em seguida, a coordenadora de Pós-Graduação Scricto Sensu da ENSP, Joviana Avanci, salientou que o Dia Internacional da Mulher marca as lutas femininas enfrentadas há milênios e as necessidades de avanço nas políticas públicas voltadas a inserção das mulheres no mercado de trabalho, na vida acadêmica e em outros campos sociais: “Sabemos dos nossos desafios, enquanto mulheres, em conciliar todas as demandas da sociedade. As taxas de feminicídio são assustadoras, além de existir uma série de outras atrocidades que afetam as mulheres de forma desigual na sociedade’.

Coordenador de Pós-Graduação em Bioética, Ética aplicada e Saúde Coletiva da Fiocruz, Sergio Rego ressaltou que o programa é uma aventura no campo da pós-graduação, no sentido de juntar esforços, e homenageou as mulheres que participaram de sua criação: “Ao invés de instituições disputarem espaço, no programa elas se agregam para produzir conhecimento e saberes, sendo também esse um grande desafio que temos, do ponto de vista da gestão”. 

Representante da Universidade Federal Fluminense (UFF), a professora Rita Paixão destacou que o Dia Internacional da Mulher relembra as necessidades de avanços nas lutas femininas. “É uma obrigação nossa lembrar que ainda há muito a ser feito. E, a partir disso, surgem duas reflexões: O que tem sido feito e o que cada um de nós pode fazer?”, indagou.

Representante e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Simone Silva defendeu o debate das questões femininas para além da área acadêmica e a discussão da vida das mulheres dentro da academia: “Quando falamos da vida das mulheres, estamos discutindo o direito que temos à vida plena, a sonhar e a decidir sobre nossos corpos, desejos e vontades”.

Moderadora do encontro, a professora e pesquisadora da ENSP, Vera Marques, comentou sobre a pesquisa que ela está conduzindo a respeito da manifestação da violência de gênero nas casas legislativas brasileiras. “Fizemos uma série de entrevistas com mandatárias no país e confesso que ouvi relatos de violência tão inconcebíveis que, por diversas vezes, me doeram como soco no estômago. Violências por serem mulheres negras, jovens ou periféricas, ou com esses marcadores sociais se interseccionando. Se só de ouvir os relatos já senti socos no estômago, imagine o que é vivenciar a violência de gênero, cotidianamente, no desempenho do trabalho e os efeitos disso na saúde dessas mandatárias. Várias das entrevistadas associaram a atividade parlamentar com o ato de ir à guerra”, lamentou.

A presidente da Associação da Sociedade Brasileira de Bioética, Marisa Palacios, relembrou o nome da escritora francesa Marie Gouze, conhecida como Olympe de Gouges. Autora da Declaração dos Direitos da Mulher e Cidadã, lançado em 1791, Olympe foi uma das precursoras do feminismo: “A convocação à reflexão que Olympe faz naquele momento é também uma convocação que fazemos nesse momento. Ela continua atual, é de uma força muito grande”.

Em sua palestra sobre lutas das mulheres, Debora Diniz apresentou uma espécie de ‘manifesto’ em defesa de uma transformação feminista, em diálogo com a leitura do livro de sua autoria intitulado Esperança Feminista. “O feminismo é uma lente para pensar o mundo, ou melhor, são lentes, pois não há somente um feminismo, mas, sim, vários como nossas lentes para o mundo, em comum, em plural, nessa ampla diversidade e na certeza de um mundo em que mulheres negras morrem mais por aborto e adoecem mais no parto e em que as indígenas morrem mais que todas as outras mulheres”, declarou. 

Além das disparidades no que diz respeito à gestação e aborto, em sua fala Debora também chamou a atenção para a desigualdade salarial entre homens e mulheres, a violência sexual e de gênero na política, a forma pejorativa com a qual o termo feminismo é mencionado pelo patriarcado, assim como a circulação de notícias falsas e a suspeição da ciência. “Feminismo é sobre viver, exercer a liberdade ou sobreviver com dignidade”, defendeu.  

A antropóloga alertou, ainda, para os poderes opressores “que formam seus privilegiados para sua vantagens, reprimem brutalmente a desobediência, caçam livros de literatura, fecham hospitais de aborto legal para meninas violentadas, proíbem técnicas de reprodução assistida, impedem terapias de adequação hormonal ou impõem o charlatanismo de terapias de conversão sexual”. 

“Como desobedecer e sobreviver?”, indagou Debora. Segundo ela, para tal, é preciso “aprender a fazer perguntas, resistir a reproduzir as perguntas que nos antecederam. É necessário, ainda, segundo ela, “que pesquisadoras e pesquisadores aprendam o que outros perguntaram e estudem suas respostas, mas, ao mesmo tempo, duvidem de que as perguntas deles devem ser também as suas”.

Somos herdeiros e praticantes de um patriarcado racista, segundo Debora. Por isso, segundo ela, é preciso exercitarmos a ‘pergunta’ para desobedecer e sobreviver. “A desobediência se fortalece quando ocupa espaços de poder. Hoje é um dia de boas-vindas e celebração pela vida das mulheres. É um dia de boas-vindas a quem persegue essa trajetória de conhecimento e pesquisa em um espaço de poder desafiado por quem falsamente confunde dúvida com rejeição”, afirmou. 




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