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Evento no Hélio Fraga/ENSP destaca o papel do farmacêutico no enfrentamento à tuberculose

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Publicado em:30/09/2025


No Dia Internacional do Farmacêutico (25/9), mais de 70 profissionais de saúde participaram do I Simpósio de Assistência Farmacêutica em Tuberculose, realizado no Centro de Referência Professor Hélio Fraga (CRPHF/ENSP/Fiocruz). O encontro reuniu farmacêuticos, gestores e representantes do Ministério da Saúde para discutir cuidado farmacêutico, novos medicamentos, farmacovigilância, logística e gestão de medicamentos pelo SITE-TB.

Abertura: protagonismo do Hélio Fraga em evidência

Na abertura, o vice-coordenador do CRPHF, Jorge Rocha, destacou o protagonismo crescente do farmacêutico no SUS. Ele relembrou a trajetória do Hélio Fraga na formulação de esquemas terapêuticos e na logística de medicamentos para todo o país, ressaltando que a atuação do farmacêutico deixou de ser secundária.


 “Aqui no Hélio Fraga, o farmacêutico não apenas dispensa medicamentos, mas participa do cuidado, apoia a adesão ao tratamento e contribui para o sucesso terapêutico. Essa atuação é hoje fundamental”, afirmou.

O cuidado farmacêutico como estratégia contra a TB

A chefe do Serviço de Farmácia, Aline Gerhardt, apresentou um panorama da tuberculose no Brasil e no mundo. Em 2023, mais de 10,8 milhões de pessoas adoeceram e 1,25 milhão morreram da doença. No Brasil, foram mais de 80 mil casos novos e 6 mil óbitos, com taxa de sucesso terapêutico de apenas 66%.

Ela destacou a alta incidência entre pessoas pretas e pardas (65,8%) e o grande desafio da tuberculose drogarresistente (TB-DR), que tem baixos índices de adesão. Segundo Aline, o enfrentamento passa pelo fortalecimento do cuidado farmacêutico clínico, que inclui acompanhamento individual, comunicação ativa e integração com a equipe multiprofissional:

“Precisamos romper com o modelo tradicional e garantir consultórios farmacêuticos nas unidades, além de formação clínica sólida. O cuidado farmacêutico é também escuta, orientação e vínculo”, defendeu.

Experiências da Farmácia Assistencial do Hélio Fraga

A farmacêutica Sabrina Batista apresentou a experiência da Farmácia Assistencial, inaugurada em 1997 e certificada pela ONA. A unidade atende em média 126 usuários por mês, em especial pacientes com TB resistente, e realiza acompanhamento clínico detalhado.

Entre as práticas, destacam-se: Conciliação medicamentosa para identificar interações e riscos; Entrevista clínica e orientação individual; Uso de embalagens personalizadas com pictogramas, folders educativos e lembranças simbólicas para estimular a adesão; Comunicação via WhatsApp para suporte direto aos usuários; Monitoramento de adesão: em agosto de 2025, 89% dos pacientes apresentaram boa adesão.


Sabrina também destacou o Ambulatório Itinerante em Nova Iguaçu, que leva atendimento até os territórios e já reduziu o absenteísmo e custos para os pacientes, ampliando as taxas de cura. “A empatia e a escuta ativa são tão importantes quanto o medicamento. O cuidado humanizado faz diferença para que o paciente conclua o tratamento”, afirmou.

Novos medicamentos e farmacovigilância: inovação e segurança

A responsável técnica do CRPHF, Erica Fernandes, apresentou os avanços no tratamento da TB resistente, com a incorporação ao SUS de três medicamentos: Bedaquilina (2020), Delamanida (2020), Pretomanida (2023). Esses fármacos compõem esquemas como o BPaL (Bedaquilina, Pretomanida e Linezolida), o mais recente de todos, totalmente oral, de seis meses de duração e com taxas de cura acima de 85%.

Érica reforçou a necessidade de farmacovigilância para monitorar possíveis efeitos adversos - como hepatotoxicidade, cardiotoxicidade e neuropatias - e garantir a segurança do paciente. O CRPHF mantém ações de farmacovigilância desde 2013, com retomada em 2019, de forma ativa, por meio de análise de prontuários e entrevistas; e passiva, com notificações espontâneas de profissionais.

De janeiro a agosto de 2025, foram 43 eventos adversos notificados no Sistema VigiMed. Como produtos dessas ações, o Centro já desenvolveu o curso EAD de farmacovigilância, um Guia em fase final de revisão e um livro sobre interações medicamentosas.

“Segurança do paciente é a base do cuidado. Sensibilidade, ética e conhecimento técnico caminham juntos na nossa atuação”, destacou Erica.

Logística nacional de medicamentos: acesso garantido

A farmacêutica Roberta Farache apresentou o trabalho da Central de Abastecimento Farmacêutico (CAF/CRPHF), que abastece 417 unidades de saúde em todo o Brasil com medicamentos para TB resistente.

Entre 2014 e 2025, a CAF processou em média 980 pedidos anuais, com prazos de entrega geralmente em até 15 dias. O processo segue protocolos rigorosos de conferência, armazenamento climatizado e transporte especializado.

“A logística vai muito além da entrega. É parte da estratégia de cuidado, pois garante acesso e continuidade do tratamento”, afirmou Roberta.


SITE-TB e desafios da gestão

Os farmacêuticos da CGTM/MS, Marcela Martins e Faber Johansen, apresentaram o SITE-TB, sistema que registra e acompanha casos de TB resistentes ou que exigem esquemas especiais. O sistema controla o uso racional dos medicamentos, previne desabastecimentos e permite monitorar adesão e desfechos terapêuticos.


Entre os desafios, estão: atrasos em pedidos e dispensações; falta de integração entre gestores de caso e de medicamentos; dados desatualizados e rotatividade de profissionais.

Como soluções, a CGTM aposta em capacitações periódicas, melhoria da comunicação e criação de fluxos internos nas unidades.

Encerramento ressalta valorização da profissão

Erica Fernandes encerrou o encontro destacando a importância de momentos de troca e reflexão para reafirmar o valor da profissão. “Cuidamos de medicamentos que salvam vidas. Isso vai muito além de armazenar ou distribuir. Estamos cuidando de vidas todos os dias.” Ela incentivou a continuidade do evento nos próximos anos, como espaço de valorização e fortalecimento da atuação farmacêutica.


Um marco para a Assistência Farmacêutica em TB

O I Simpósio de Assistência Farmacêutica em Tuberculose reforçou o papel estratégico do farmacêutico no SUS. Ao reunir profissionais da assistência, da gestão e da formulação de políticas, o encontro destacou que o futuro do enfrentamento à TB depende de uma atuação técnica, humanizada e integrada - do cuidado clínico à logística, da farmacovigilância à gestão de medicamentos.

Em um cenário de novos desafios epidemiológicos e terapêuticos, o farmacêutico reafirma seu lugar essencial na linha de frente do cuidado em saúde.

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