Exclusão social é fator determinante para o uso de crack

Ainda em sua fala, o psiquiatra citou que 80% dos usuários encontrados nas cenas de uso de crack não completaram o ensino médio e 50% deles vivem em situação de rua. “O uso da droga e exclusão entram num processo viciosos”. Antecedendo a fala de Leon Garcia, o diretor da Escola Nacional de Saúde Pública, Hermano Castro citou como o processo de exclusão na sociedade leva à precarização. “Estamos vivendo um momento de grande retrocessos em todas as áreas, e as mazelas que a sociedade vive tem impacto direto sobre as drogas e o álcool.”
Coordenando o seminário, o psicólogo Francisco Netto, membro do Programa Institucional de Álcool, Crack e outras Drogas da Fiocruz e mestre em Saúde Pública pela ENSP, contextualizou o programa, iniciado em 2014, e destacou que o crack surgiu num amplo contexto de pânico social e midiático, que gerou grande estigmatização dos usuários. “O crack, por exemplo, teve toda questão epidemiológica envolvida que o álcool nunca teve”, lembrou Francisco Netto. Ele citou, ainda, a Pesquisa Nacional sobre Crack, que, de maneira quantitativa, apresentou o número de usuários da droga nas grandes capitais e seus perfis: maioria homens, negro, poliusuários, e que gostariam de receber tratamento por vontade própria. “A grande questão hoje é se o que nós temos para oferecer é o que realmente eles precisam."
Confira, no vídeo abaixo, as falas de Leon Garcia, Francisco Netto e Hermano Castro.
Ricardo Visser falou sobre a questão do uso laboral da droga. De acordo com ele, dentro da pesquisa foi realizado um estudo, desenvolvido em uma comunidade pesqueira do Leste Fluminense. A intenção foi apresentar um contraponto à experiência mais tradicional do usuário de crack excluído socialmente. “Foi realizada uma etnografia com alguns pescadores da região que faziam uso de crack, mas não apresentavam os clássicos traços patológicos e tão estigmatizantes dos usuários de crack do mundo urbano. Essa pesquisa ajuda também a desmitificar essa ideia estigmatizante do usuário de crack urbano e daquilo que a mídia fala”, afirmou ele.
Para finalizar o seminário, a médica de Família e Comunidade e integrante do projeto Consultório na Rua em Manguinhos, Valeska Holst Antunes, enfatizou a situação de que “usuário de crack e morador de rua não são sinônimos”. Segundo ela, a população de moradores de rua é bastante diversa, e existe uma prevalência muito maior no uso de álcool entre essa população. Valeska citou três desafios que, segundo ela, são fundamentais para o cuidado da população de moradores de rua: tempo, ou seja, políticas públicas que resolvam rapidamente o problema; estratégia de redução de danos; e flexibilização de regras para reproduzir mudanças.
Confira, no vídeo abaixo, as falas de Roberto Torres Dutra, Ricardo Visser e Valeska Holst.
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