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Cuidado com populações vulnerabilizadas é tema de debate na celebração de 15 anos do Proqualis

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Publicado em:19/07/2024

Por Bruna Abinara

A naturalização da falta de acessibilidade e a precariedade do cuidado com as populações vulnerabilizadas foram os destaques da terceira mesa-redonda do evento de celebração dos 15 anos do Proqualis, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz). O evento foi realizado nesta quarta-feira, dia 17 de julho, no auditório térreo da Escola.  

Participaram da conversa sobre “Segurança do paciente e qualidade do cuidado com foco em populações vulnerabilizadas a pesquisadora da ENSP/Fiocruz e coordenadora da Especialização em Direitos Humanos da Pessoa com Deficiência da ENSP, Laís Silveira Costa; e o médico do Consultório na Rua, da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Laio Victor de Cardoso. A mediação foi feita pela pesquisadora do Departamento de Administração e Planejamento em Saúde (DAPS/ENSP) e coordenadora geral adjunta do Proqualis, Marina de Noronha.  

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Segundo a pesquisadora Laís Silveira Costa, os espaços de poder foram ocupados majoritariamente por pessoas sem deficiência que não têm a preocupação de envolver a diversidade humana. Quando ignoramos essas formas variadas de estar no mundo, deixamos muitas pessoas de fora.  Costumamos achar que a única forma de andar é com as pernas, que a única forma de falar é com a voz e que a única forma de enxergar é com os olhos, mas estamos enganados”, declarou.  

Para que a sociedade consiga atender às necessidades das populações vulnerabilizadas, Laís ressaltou que é preciso, em primeiro lugar, estabelecer uma comunicação com elas. No entanto, a falta de acessibilidade comunicacional resulta na invisibilização e na marginalização das pessoas com deficiência. “Não há pacto de cuidado se só falamos com nós mesmos”, afirmou.  

A pesquisadora explicou que uma desumanização dos pacientes com deficiência. Nesse sentido, Laís disse que os serviços de saúde oprimem as pessoas a partir da deficiência delas. “Quando ignoramos que os corpos funcionam de formas diversas, nós criamos riscos para a saúde daquelas pessoas”, ressaltou. Por isso, ela defendeu o fim da hierarquia social dos corpos, que determina quais corpos e formas de existência têm mais valor.  

A pesquisadora destacou ainda que pessoas sem deficiência precisam reconhecer que são parte do sistema de opressão e exclusão. Laís criticou o uso da falta de acessibilidade como estratégia para enfraquecer o movimento e impedir as pessoas com deficiência de ocuparem seus lugares de direito na sociedade. “Dizemos que não temos acessibilidade porque não temos recurso, mas nós escolhemos onde investir e quem podemos deixar de fora”, concluiu. 

Em seguida, o médico Laio Victor de Cardoso denunciou a precariedade do cuidado com pessoas em situação de rua. Segundo o médico do Consultório na Rua, as pessoas chegam às ruas em consequência da produção de pobreza e desumanização no Estado brasileiro. Para ele, pensar a saúde dessa população é também pensar a saúde da população negra, uma vez que 83,7% das pessoas em situação de rua são negras, de acordo com dados do Censo da População em Situação de Rua de 2022. “O racismo e a experiência da escravidão definiram a forma como se relacionam sujeitos, instituições e forças estatais. É importante que eu, como agente do SUS, não esqueça disso declarou. 

O médico reforçou que o problema da população em situação de rua é produzido sócio racialmente, assim como a desassistência é programada. Ele contou que, mesmo nos casos em que há um esforço sanitário para garantir a equidade, essas pessoas enfrentam mais dificuldades no acesso aos serviços. “As inovações no repertório técnico da saúde que têm por objetivo mitigar as inequidades atingem por último as pessoas as quais elas são direcionadas”, afirmou 

Para
Laio, a precariedade do cuidado e a escassez são aceitos nos serviços para a população em situação de rua, que também precisa encarar mais desafios em relação aos atendimentos. Armazenamento de medicamentos e exames, registros de prontuário eletrônico rotineiramente apagados pelas unidades de atendimento, longas esperas para consultas são apenas alguns dos obstáculos elencados pelo médico
 

Por fim,
Laio questionou em nome de quem são realizados os esforços sanitários. “Uma coisa é cuidar da doença da pessoa, outra coisa é cuidar da doença do ambiente para que ele não contamine as pessoas da vizinhança”, declarou. Para o médico, o vínculo de cuidado deve entender os pacientes em situação de rua como cidadãos, com dores reais que podem ser tratadas. 
 

Para encerrar a mesa, a moderadora lembrou que as populações vulnerabilizadas são muitas. Marina ressaltou que é preciso refletir sobre quais são as políticas públicas voltadas para essas pessoas, como elas são aplicadas e quem elas invisibilizam. Para a pesquisadora, é imprescindível conhecer e respeitar as diversas culturas e linguagens para garantir um atendimento de qualidade.

Assista ao evento na íntegra no canal do Proqualis no Youtube




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