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Proqualis 15 anos: Letramento em saúde conecta pacientes, famílias, profissionais e organizações

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Publicado em:19/07/2024
Por Barbara Souza

Disseminar informação sobre saúde, torná-la acessível e possibilitar a apropriação de conhecimento pelo maior número de pessoas possível. Esse é um processo fundamental para a qualidade do cuidado e segurança do paciente e, por isso, foi tema de um dos debates do evento de comemoração do aniversário de 15 anos do Proqualis, programa institucional da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz). Marcada por homenagens e por uma vasta programação científica, a celebração foi realizada nesta quarta-feira (17/7), no auditório da ENSP. 


A mesa intitulada “O papel do Proqualis na ampliação da literacia sobre Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente para profissionais e gestores da saúde” contou com especialistas no tema de diferentes instituições. A editora científica do Proqualis, Carla Gouveia, abriu a mesa com uma síntese da história do programa, destacando as iniciativas voltadas para a disseminação e divulgação de conhecimento científico. “No portal são publicados artigos e documentos a partir de um trabalho sistemático de identificação e seleção das melhores evidências disponíveis a fim de auxiliar no letramento de profissionais e gestores sobre qualidade e segurança do paciente”, explicou Carla. Ela citou ainda o Glossário que oferece a tradução de termos essenciais da temática, além de iniciativas como webinários periódicos, cursos para aprimorar a formação e produtos de comunicação. “Há livros e matérias jornalísticas publicados, além da presença do Proqualis nas redes sociais. Nossa ideia é sempre aumentar a capilaridade e o alcance do conteúdo oferecido no portal”.
 
+ Confira a cobertura das outras mesas:

Líder do grupo de estudos e pesquisas Promoção em Comunicação, Educação e Literacia para a Saúde no Brasil, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Rosane Aparecida de Sousa apresentou as definições de literacia em saúde, articulando o conceito com a segurança do paciente. “Deve estar situado, principalmente, no âmbito das ações de promoção da saúde desenvolvidas pelos profissionais que atuam no contexto saúde coletiva”, afirmou Rosane. A professora reforçou a necessidade de incluir usuários e cuidadores no desenvolvimento de competências para tomar boas decisões ligadas à saúde. “É um desafio diante do bombardeio de desinformação através, por exemplo, de mídias sociais. A literacia dá autonomia para o autocuidado, garante capacidade de fazer escolhas. A partir do acesso ao conhecimento e com condições de aplicá-lo, as pessoas fazem julgamentos melhores e tomam decisões seguras quanto aos cuidados de saúde, à prevenção de doenças e à promoção da saúde”, explicou.

A palestrante da UFTM destacou ainda a importância de sempre se considerar os determinantes sociais e a educação dentro dessa temática. “Sem isso não tem como pensar saúde”. De acordo com Rosane, é preciso discutir Literacia em Saúde durante o processo de formação dos profissionais, para que eles entendam os limites e potenciais de entendimento e participação dos pacientes. Além disso, ela também abordou a literacia para a saúde das organizações. “A Literacia em Saúde está no centro do planejamento e das atividades de segurança do paciente. As falhas de comunicação e a falta de informação, como não informar ao paciente sobre o local de uma cirurgia ou sobre a prescrição de medicamentos, estão entre as maiores causas de eventos adversos. As falhas de comunicação também ocorrem entre os membros de equipes de saúde, o que resulta em administração de remédios equivocadamente ou em realização de cirurgias no lado errado do corpo, por exemplo”. Por fim, ela destacou o uso da Linguagem Simples. “Muitas vezes, um folheto ou um cartaz que elaboramos na nossa instituição faz toda a diferença, dependendo da forma, da linguagem e das imagens que colocamos. Isso é valioso”.

“O problema não está em ‘pessoas ruins’ trabalhando com os cuidados de saúde. ‘Pessoas boas’ trabalham em sistemas ruins, que precisam ser mais seguros. Os erros são causados por sistemas, processos e condições defeituosos que levam as pessoas a cometer erros ou a não conseguir evitá-los”. A professora da Universidade Federal de Goiás e coordenadora da Rede Brasileira de Letramento em Saúde (Rebrals), Virgínia Visconde Brasil, focou sua palestra na reflexão sobre a necessidade de tornar as informações em saúde acessíveis a todos. Ela explicou que sistemas e organizações acumulam muitas informações, em plataformas de difícil acesso na qual “navegam os treinados”. Segundo sua crítica, os usuários estão “do outro lado do abismo, recebendo muitas informações sobre assuntos que não entendem, mas a respeito dos quais precisam tomar decisões”.


Como construir uma ponte para conectá-los? Virgínia afirmou que profissionais e gestores superestimam a compreensão das pessoas e as culpabilizam, ao passo que superestimam suas próprias habilidades de ser claros na escrita, na fala e nos sistemas. “É fundamental oferecer condições para que as pessoas melhorem seu próprio letramento, se apropriando do conhecimento. Isso acontece em todos os ambientes, pois qualquer lugar pode ser um espaço onde as pessoas são influenciadas”. A professora da UFG sublinhou que “o baixo letramento é uma barreira invisível à prestação de cuidados de saúde, com implicações para os indivíduos, serviços e sistemas de saúde”. Na palestra, ela falou ainda sobre Letramento em Saúde Organizacional e sobre a estratégia de “Abordagem universal de precaução”, que defende ser necessário assumir que todos podem ter baixo Letramento em Saúde.

A mesa foi moderada por Sabrina da Costa Duarte, professora da Escola de Enfermagem da UFRJ e assessora técnico-científica do Proqualis. “Há uma necessidade de refletir e de se colocar no lugar do outro de forma empática acerca dos conhecimentos que são necessários, considerando que vamos também ocupar esse lugar [de não conhecer] em algum momento. Então, precisamos trazer esse tipo de reflexão para o nosso dia a dia, para a nossa prática dentro das universidades, dentro da academia, dentro das instituições, dos centros de pesquisa: refletindo sobre um melhor letramento e também de uma melhor comunicação”. 

Assista à mesa no canal do Proqualis no Youtube:




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