Entrevista: Pesquisa da ENSP busca promover alimentação saudável nas Escolas em prol da saúde das crianças
Está no ar mais uma edição da série de entrevistas sobre os projetos selecionados pelo Edital de Pesquisa 2021, lançado pela VDPI/ENSP. Desta vez, o tema é o ambiente alimentar escolar no Brasil. Na entrevista, a coordenadora do estudo Letícia Cardoso, fala sobre a pesquisa 'Impacto da Regulamentação do Ambiente Alimentar Escolar'. Pesquisadora da ENSP, atualmente, Letícia atua como coordenadora-geral de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis, do Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis, da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, do Ministério da Saúde.
No bate papo com o 'Informe ENSP', ela detalha como a pesquisa, que tem como vice-coordenadora, Marina Araújo, também pesquisadora da Escola, pretende contribuir para melhorar e criar novas medidas que protejam a saúde das crianças e promovam uma alimentação saudável nas Escolas. O estudo analisará como as regulamentações impactam o ambiente alimentar escolar de Escolas privadas de três cidades brasileiras: Porto Alegre, Niterói e Recife. O projeto prevê a criação de um aplicativo que avaliará o consumo alimentar de crianças escolares.
+ Confira a entrevista completa!
Informe ENSP: Qual o principal objetivo da pesquisa 'Impacto da Regulamentação do Ambiente Alimentar Escolar' ?
Letícia Cardoso: O objetivo do projeto é avaliar o impacto das medidas de regulamentação do ambiente alimentar escolar sobre diferentes dimensões: disponibilidade de alimentos, preço e publicidade, bem como entender a percepção dos estudantes sobre o seu ambiente alimentar escolar. Além disso, o projeto prevê testar a usabilidade, com o usuário final, de um aplicativo para celular ou tablet denominado Consumo Alimentar no Domicílio e na Escola (CADE), desenvolvido para avaliar o consumo alimentar de crianças escolares.
Informe ENSP: Como a pesquisa será desenvolvida e como se deu a escolha das três cidades?
A cidade de Porto Alegre possui Projeto de Lei, desde 2021, que proíbe a venda e a publicidade de alimentos ultraprocessados em escolas privadas e públicas. Niterói teve Projeto de Lei aprovado no início de 2023, pela Câmara de Vereadores, e Recife ainda não apresenta nenhuma regulamentação vigente.
Desta forma, a intenção é comparar o ambiente alimentar entre estas cidades. Para isso, escolhemos Escolas de forma aleatória que representam bem todas as Escolas particulares dessas cidades.
Em Niterói, está sendo realizada a coleta de dados em 67 Escolas. Recife está conduzindo o estudo em 138 Escolas, e Porto Alegre em 54. Serão coletadas informações sobre o ambiente alimentar escolar, incluindo o que tem nas lanchonetes, máquinas de venda automática, além dos lugares ao redor das Escolas onde as pessoas compram comida.
Estamos convidando também, estudantes entre 13 e 17 anos de idade, de quinze Escolas sorteadas em cada cidade para responder algumas perguntas sobre o que acham sobre o seu ambiente alimentar escolar, consumo alimentar, prática de atividade física, entre outros aspectos sociodemográficos.
Vamos solicitar ainda, para vinte pais ou responsáveis por crianças de 4 a 9 anos de idade, testarem o aplicativo CADE e fazerem uma avaliação. A coleta de informações vai acontecer em dois momentos, uma que já está em andamento, iniciada em agosto de 2023, com previsão de finalização em dezembro, e outra no segundo semestre de 2024. Além disso, serão pesquisadas as leis estaduais e municipais de cada cidade para entender quais regras existem sobre o ambiente alimentar escolar, seja sobre algo que já foi implementado ou sobre algo que está em discussão.
Informe ENSP: Quais os resultados esperados com essa pesquisa?
Letícia Cardoso: Com este estudo, esperamos alcançar resultados novos e confiáveis, do ponto de vista acadêmico. Queremos entender como as regulamentações impactam sobre o ambiente alimentar escolar de escolas privadas, tanto no aspecto da comunidade quanto do estudante. Esperamos que os resultados possam ajudar a melhorar ou criar novas medidas para proteger a saúde das crianças e promover uma alimentação saudável na Escola.
Informe ENSP: Quais contribuições o projeto de pesquisa traz para sociedade?
Letícia Cardoso: Este projeto vai ajudar a conhecer sobre o ambiente alimentar escolar nas Escolas particulares e descobrir se há ou não impacto na regulação desse ambiente sobre a percepção do aluno e seu consumo alimentar. Esses resultados servirão para uma melhor orientação junto aos governantes na implementação ou reformulação de medidas existentes para proteção da saúde da criança e do adolescente e promoção da alimentação adequada e saudável.
Além disso, queremos treinar mais pessoas, como professores e pesquisadores, para trabalhar com os governantes e fazer mudanças que ajudem a prevenir a obesidade infantil. Isso vai ajudar a cuidar melhor da saúde das nossas crianças e adolescentes.
Informe ENSP: Como o projeto pretende contribuir para a implementação de medidas regulatórias no ambiente alimentar escolar?
Letícia Cardoso: As universidades parceiras - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), além das organizações Aliança de Controle do Tabagismo (ACT) e o Instituto Desiderata - estão trabalhando conosco neste projeto, queremos que as pessoas que tomam as decisões sobre o ambiente alimentar escolar e sobre as leis que protegem as crianças, estejam bem informadas.
Pretendemos conversar com gestores de saúde e da educação, com pessoas que ajudam o governo a tomar decisões importantes, com legisladores que fazem as leis, com ativistas que defendem os direitos das crianças e com organizações que promovem uma alimentação saudável. Vamos falar também, com pais, professores e todos da sociedade, porque a saúde das crianças é um assunto importante para todos.
O objetivo é utilizar todas as informações que encontrarmos na pesquisa para ajudar a influenciar as decisões dos legisladores, escrevendo documentos técnicos e fazendo sugestões para melhorar as leis que afetam o ambiente alimentar escolar e a saúde das crianças.
Equipe da pesquisa participando do estudo piloto. A esquerda, a frente, Letícia Tavares, professora da UFRJ; a esquerda, atrás, Ana Carolina Castro, egressa da ENSP; a direita, atrás, Maria Luiza, estagiária do projeto; e, a direita, a frente, Isyara, egressa da ENSP.
Nenhum comentário para: Entrevista: Pesquisa da ENSP busca promover alimentação saudável nas Escolas em prol da saúde das crianças
Comente essa matéria: