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Seminário discutirá lutas por moradia digna, alimentação e bem viver nas periferias urbanas

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Publicado em:21/03/2023
Entre os dias 21 a 23 de março o Núcleo Ecologias, Epistemologias e Promoção Emancipatória da Saúde (NEEPES/ENSP) organizará o seminário Lutas por moradia digna, alimentação e bem viver nas periferias urbanas: experiências dos Sem Teto em Salvador e do CEM no Rio de Janeiro. O seminário fecha o ciclo de pesquisa de dois anos com o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto da Bahia (MSTB), com foco em duas ocupações em Salvador, e o Centro de Integração na Serra da Misericórdia (CEM) que atua numa favela do Complexo do Alemão. 

O seminário público de encerramento do projeto ocorrerá dia 23/3, às 14 horas, no auditório da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. "Nele, com a presença de representantes do MSTB e CEM, aprofundaremos o debate coletivo em relação aos principais resultados, organizados em diferentes materiais e com esforços em diferentes linguagens (quatro cadernos interculturais, pílulas audiovisuais e teaser de documentário)", explicou o coordenador do Neepes, Marcelo Firpo. Ainda de acordo com ele, será apresentada uma síntese das discussões realizadas no dia anterior sobre os principais desafios e desdobramentos futuros da pesquisa.

+ Mais informações sobre o evento através dos e-mails neepes.inovatss@gmail.com ou neepes.secretaria@gmail.com.

O projeto de pesquisa Conexões entre agroecologia, moradia digna e cuidado na construção de territórios urbanos sustentáveis e saudáveis em tempos de Covid-19: potencialidades para a redução de vulnerabilidades e a promoção emancipatória da saúde no Rio de Janeiro e em Salvador, foi financiado pelo Edital Inova/Fiocruz Territórios Sustentáveis e Saudáveis no contexto da pandemia Covid-19.

Segundo Firpo, e o pesquisador Juliano Palm, a história de construção do projeto expressa muito dos esforços metodológicos que têm sido realizados no âmbito do Neepes, de construir metodologias sensíveis co-labor-ativas, em que são centrais os diálogos interculturais e o produzir conhecimentos junto com os sujeitos das experiências territoriais, dos movimentos sociais, da academia e de diferentes organizações engajadas nas lutas por saúde, dignidade e direitos territoriais. Tais lutas fazem parte da promoção emancipatória da saúde, que articula a busca por diferentes justiças: social, sanitária, ambiental/territorial e cognitiva/histórica. 

"A construção do projeto se deu, principalmente, a partir dos diálogos que a equipe do Neepes foi aprofundando com integrantes do CEM e do MSTB que participaram do Encontro de Saberes do Neepes de 2019, que teve como título O Campo na Cidade: resistências, (re)existências e interculturalidades no cuidado e na alimentação. Um dos objetivos dos Encontros de Saberes organizados pelo Neepes é compartilhar os trabalhos desenvolvidos no período anterior, aprofundar questões de pesquisas com parceiros e assim ir refletindo coletivamente sobre a agenda futura de pesquisas do Núcleo", explicou Firpo. 

No Encontro de 2019 três questões ficaram muito latentes: como garantir que alimentos agroecológicos, “comida de verdade”, chegue aos sujeitos em contextos de forte vulnerabilização social? Como trabalhar com as práticas comunitárias e tradicionais de cuidado com a saúde nestes contextos? Como lutas por moradia digna e por cidades inclusivas e democráticas podem construir práticas de sustentabilidade e proteção ambiental mais populares nas periferias urbanas? Ao aprofundar estas questões, ainda mais no contexto da pandemia de Covid-19, foi se chegando à versão final do projeto, com a participação direta de sujeitos e lideranças do CEM e MSTB em sua elaboração.

O objetivo principal do projeto foi apoiar e sistematizar conhecimentos e práticas de promoção emancipatória da saúde protagonizados pelo CEM e pelo MSTB. Para desenvolver este objetivo, o projeto foi estruturado com base em cinco eixos temáticos transversais: i) articulação entre os conceitos de promoção emancipatória da saúde (PES) e territórios sustentáveis e saudáveis (TSS), e diálogos interdisciplinares e interculturais; ii) agroecologia e alimentação saudável; iii) moradia digna, proteção ambiental e bem-viver nas periferias; iv) ações comunitárias, autocuidado e prevenção à Covid-19; v) comunicação com a sociedade, intra e interterritoriais.

O projeto evidenciou que, apesar de todas as vulnerabilizações que se desdobram nos espaços marcados por diversas formas de violência e exclusões radicais, em suas experiências o CEM e MSTB têm conseguido articular diversas frentes de luta, que em seu conjunto promovem processos emancipatórios envolvendo lutas por saúde, dignidade e direitos territoriais com sujeitos que vivem nos territórios de atuação. As ações desenvolvidas nos territórios foram fundamentais para diminuir os efeitos negativos que poderiam se desdobrar da pandemia de Covid-19.

Os diálogos interculturais e esforços interdisciplinares realizados ao longo da pesquisa contaram com a forte participação de bolsistas territoriais que participaram de oficinas de formação, preparação, aplicação e análise de questionários, dentre outras atividades. Temas como saúde, alimentação, moradia e proteção ambiental envolveram lutas contra diferentes formas de opressão, a exemplo das bandeiras do feminismo e contra o racismo, e estão presentes nos resultados do projeto, com destaque para quatro cadernos interculturais, pílulas audiovisuais e um documentário a ser ainda editado, além de artigos acadêmicos. Todas as ações foram realizadas junto com os movimentos e organizações parceiras, e os resultados serão utilizados por eles, assim como grupos acadêmicos e instituições que trabalham com temas afins.

O projeto envolveu vários parceiros acadêmicos (como o NIDES/UFRJ e o ISC/ UFBA), além de movimentos sociais e ONGs envolvidos em Redes, como a Teia dos Povos (na Bahia) e a Rede CAU de agricultura urbana no Rio de Janeiro. Essas redes têm sido estratégicas para aproximar movimentos e lutas sociais do campo e das cidades, a exemplo da luta contra o agronegócio e os agrotóxicos na produção e distribuição de “alimentos de verdade”, ou ainda a incorporação de saberes e práticas ancestrais em práticas comunitárias de (auto)cuidado, incluindo plantas medicinais e a farmácia viva. Nos dois territórios o papel da mulheres e suas lutas por direitos têm sido fundamentais, assim como a atuação de artistas e poetas populares dos territórios.

"Percebemos, assim, que apesar do conjunto de ausências que historicamente foram sendo impostas aos sujeitos que vivem nos contextos periféricos das cidades do Rio de Janeiro e Salvador, as experiências do CEM e MSTB expressam emergências que apontam para uma transição paradigmática frente à crise civilizatória em curso com a qual nos deparamos na contemporaneidade", concluiu. 


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