Aniversário da ENSP: desafios da Educação marcam primeiro dia de debates
Por Danielle Monteiro
As comemorações do aniversário de 66 anos da ENSP iniciaram na manhã desta terça-feira (1/9) com um debate on-line sobre a polêmica temática Volta às aulas, com base no olhar de alunos, professores e da própria Fiocruz. Para abrir a semana de comemorações, foi apresentado um vídeo com lembranças de aniversários antigos da ENSP, com falas de importantes figuras da Escola. Em seguida, gestores da Fiocruz e representantes de associações deram início ao painel Desafios e caminhos da saúde em tempos de pandemia, tema escolhido para o aniversário.
À abertura da mesa, a representante do Fórum dos Estudantes da ENSP, Amanda Amorim Thomaz, citou a instituição como um centro de formação de qualidade e lembrou que a história da Escola remete ao próprio conceito de saúde pública. “A ENSP sabe que a formação dos estudantes deve ser detalhadamente bem formulada, com erros e acertos que vão se moldando ao longo do caminho, mas sempre com seriedade; e não poderia ser diferente neste momento de grave crise sanitária. A Escola tem estado presente no nosso dia a dia mesmo à distância e nós, no dela. E essa troca mostra que a única forma de superarmos a crise é estando e criando juntos, entendendo todas as partes envolvidas. E há que se entender que o resultado alcançado não é individual, mas sim coletivo”, afirmou.
Diretor do Sindicato dos Servidores de Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública (Asfoc - SN), Paulo Garrido ressaltou que a pandemia revelou a centralidade da saúde enquanto instrumento de questionamento acerca da forma como o mundo se organiza e como objetivo prioritário de qualquer projeto de país. Centralidade essa que, muitas vezes, segundo ele, foi relegada para segundo plano e esquecida nos projetos econômicos. “Falar da centralidade da saúde é falar de um projeto de país inclusivo, democrático, sustentável e soberano”, frisou.
O diretor da ENSP, Hermano Castro, atentou para o forte impacto da pandemia na vida social do país e da população, reforçou que o Brasil não fez o distanciamento social necessário para salvar milhões de vidas e citou, como um dos principais desafios atuais, o retorno às atividades escolares. “Entendemos que a escola é atividade essencial; não deveríamos abrir ouras atividades não essenciais, como shoppings e afins”, defendeu. Em seguida, o diretor da ENSP apresentou um vídeo em homenagem aos profissionais de Saúde da Escola, que estão na linha de frente no combate ao novo coronavírus.
A vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira, frisou que a ENSP, durante toda a sua trajetória, se expandiu, diversificando sua atuação, e lutou em defesa da saúde pública, do SUS, da democracia e dos direitos sociais. “A cada momento, a ENSP enfrenta novos desafios, se renova e, em tempos de pandemia, tem ajudado a enfrentar essa crise que estamos vivendo”, afirmou.
Assista, abaixo, ao vídeo comemorativo do aniversário de 66 anos da ENSP:
Desafios da Educação no enfretamento da Covid-19: olhares cruzados
Os desafios da Educação no enfrentamento à Covid-19, com base no olhar de alunos, professores e da Fiocruz, pautaram a manhã do primeiro dia de debates em comemoração ao aniversário de 66 anos da ENSP.
Coordenadora da mesa, a vice-diretora de Ensino da ENSP, Lucia Dupret, ressaltou que o debate sobre a volta às aulas precisa ser construído em conjunto com os diversos atores envolvidos com a área da Educação. “A pergunta principal não é quando voltaremos às aulas, mas, sim, em que condições voltaremos. Acreditamos que as decisões devem considerar a saúde pública, os indicadores, os riscos e os benefícios para a Educação, mas, sobretudo, os interesses e as contribuições dos estudantes, professores e de todos os trabalhadores e profissionais da área”, defendeu.
Professor da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher trouxe ao debate o olhar do Ensino Superior sobre o retorno às atividades escolares. Ele defendeu que a universidade não pode deixar de se perceber interpelada pela pandemia e chamou a atenção para a forte ideologia, chamada Novo Normal, que “tenta afastar o pensamento crítico da catástrofe que atinge a vida humana”. Além de entender as características biológicas e clínicas do novo coronavírus, é preciso, segundo ele, compreender os determinantes da pandemia: como ela se propagou no mundo, em que contextos, as desigualdades que ela revelou e suas diversas consequências na saúde humana. “Diante de um quadro tão complexo, o primeiro grande esforço das universidades deve ser ‘renuclear’ os estudantes. É importante que os estudantes sejam protagonistas dessas interpelações e, sobretudo, é necessário pensarmos, junto com eles, estratégias pedagógicas para enfrentarmos essa profunda guerra cultural, que incide sobre o senso comum por meio da difusão do irracionalismo e negacionismo”, defendeu.
Em seguida, o olhar dos professores acerca do retorno às atividades escolares foi apresentado pelo presidente do Sindicato dos Professores do Munícipio do Rio de Janeiro e Região (SinproRio) e representante dos professores do setor privado de Educação, Oswaldo Teles. Ele criticou o mercantilismo presente no setor privado no Brasil e alertou para os diversos problemas impostos aos professores frente à pandemia, tais como demissão em massa e redução e suspensão de salários. Dentro dessa discussão, existe também, segundo ele, a equivocada crença de que o setor privado está mais preparado para a volta às atividades escolares do que o público. “Mais de 50% das escolas privadas não têm condição de retornar às aulas e não possuem estrutura necessária, como espaço aberto e ventilação. O setor privado possui maior dificuldade do que o setor público em relação a esses aspectos. Nossa avaliação, hoje, é que não há condições de retorno”, atentou.
Doutoranda em Epidemiologia em Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), Tatiane Bahia fez uma apresentação sobre as perspectivas dos alunos em relação ao retorno das aulas presenciais, chamando a atenção para os desafios impostos pelo ensino remoto, indo além de problemas como a falta de acesso a equipamentos e a realidade heterogênea dos alunos da ENSP. A manutenção de um ambiente favorável ao ensino e o acolhimento com equidade, de forma a atender os diferentes perfis dos alunos da Escola, além das necessidades de comunicação e adequação dos estudantes à nova realidade, são alguns dos pontos que, segundo Tatiane, não podem ser deixados de fora na discussão.
O debate encerrou com a apresentação da diretora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Anakeila de Barros Stauffer, acerca do olhar da Fiocruz em relação à volta às aulas. A diretora destacou a importância da educação pública para o conjunto da classe trabalhadora, como espaço de defesa, luta e resistência pela garantia de direitos de professores e alunos. “A educação pública tem como função socializar o conhecimento historicamente produzido, assim como fomentar a produção de conhecimento que possibilitará compreender as distintas concepções sobre o mundo político. É necessário pensarmos que tipo de escola nós temos e os desafios impostos, sobretudo neste momento de pandemia”, reforçou.
Os debates em comemoração aos 66 anos da ENSP se estendem até esta sexta-feira (4/9). Todas as atividades acontecerão de forma on-line e serão transmitidas no canal da ENSP no Youtube. Não é necessário se inscrever para assistir.
Confira, aqui, a programação completa do aniversário de 66 anos da ENSP.
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