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Pesquisa sobre contaminação de gestantes e bebês indígenas por mercúrio inicia coletas em quatro aldeias do povo Munduruku

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Publicado em:31/10/2023
Por Barbara Souza

A equipe do ‘Estudo Longitudinal de Gestantes e Recém-Nascidos Indígenas Expostos ao Mercúrio na Amazônia’, coordenado pelo pesquisador da ENSP/Fiocruz Paulo Basta, realizou seu primeiro trabalho de campo entre os dias 9 e 21 de outubro. Nas Terras Indígenas Munduruku e Sai Cinza, 25 gestantes indígenas foram entrevistadas e matriculadas na pesquisa que vai avaliar se elas estão sendo contaminadas pelo mercúrio resultante do garimpo ilegal e se, no caso de contaminação, haverá consequências para os bebês. A pesquisa está no âmbito do 'Projeto Proteção de Povos Indígenas e Tradicionais do Brasil', financiado pelo Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha por intermédio do WWF. 



Composto por quatro médicos, uma farmacêutica, uma bióloga, uma psicóloga, um geógrafo e um técnico em logística, o grupo de pesquisadores visitou as aldeias Missão São Francisco, Sai Cinza, Katõ e Karapanatuba. A equipe contou com a participação de 19 profissionais de saúde, sendo 12 indígenas, que participaram do curso ‘Vigilância e monitoramento de populações expostas ao mercúrio no Brasil: aspectos práticos’. 

A capacitação de profissionais de saúde de nível médio e de nível superior, incluindo enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, técnicos de enfermagem e agentes indígenas de saúde, foi um dos preparativos para esta etapa da pesquisa. Realizado em março, o curso aprimorou ações já desenvolvidas pelas Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI) do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Rio Tapajós e possibilitou ainda a estruturação de um sistema de vigilância de base comunitária que irá acompanhar gestantes e recém-nascidos no âmbito da pesquisa. Para isso, foram doados equipamentos e insumos às EMSI que atuam nas aldeias abrangidas pelo estudo.

As 25 indígenas grávidas entrevistadas neste primeiro trabalho de campo representam 10% do total previsto para o acompanhamento nos próximos dois anos. O pesquisador Paulo Basta explicou que “a equipe de supervisão deverá realizar visitas trimestrais às comunidades incluídas no estudo para avaliar as gestantes e seus recém-nascidos, bem como para promover o aperfeiçoamento e manutenção do sistema de vigilância de base comunitária que foi instituído neste mês de outubro”. A próxima visita está agendada para o período de 4 a 16 de dezembro. Além de seguirem com as atividades nas quatro aldeias recém-visitadas no alto rio Tapajós, na próxima missão será iniciado o trabalho de entrevistas com as gestantes das aldeias Praia do Índio, Praia do Mangue, Laranjal e Sawré Myubu, localizadas na região do médio rio Tapajós.


Estão previstos quatro momentos de interação entre a equipe de pesquisadores e as gestantes participantes do estudo, um a cada trimestre da gestação e outro no momento do parto. A cada encontro, serão realizadas entrevistas sobre: a história obstétrica, condições clínicas pré-existentes, situação socioeconômica das famílias e alimentação, com destaque para o consumo de pescados, já que os peixes são considerados o principal veículo de exposição ao mercúrio. 


“Além das entrevistas, serão aferidas medidas de peso e estatura da gestante e serão coletadas amostras de cabelo da gestante para avaliação da exposição pré-natal ao mercúrio, células da mucosa oral para avaliação de polimorfismos genéticos em enzimas responsáveis pela metabolização do mercúrio no corpo humanos, e amostras de sangue venoso para realização dos exames previstos no protocolo de atenção pré-natal do Ministério da Saúde, a saber: hemograma completo, tipagem sanguínea e fator Rh (quando for detectado fator Rh negativo, será realizado o teste de Coombs indireto) sorologia para sífilis, HIV, toxoplasmose, Hepatites B e C”, detalhou Paulo Basta, que acrescentou que também serão realizados testes rápidos para dosagem dos níveis de glicemia casual e hemoglobina das mulheres. 


A pesquisa conta com o apoio de laboratórios de instituições parceiras. As amostras de cabelo e de células da mucosa oral das gestantes participantes serão analisadas no Laboratório de Pesquisa de Ciências Farmacêuticas (LaPesF) do Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), aos cuidados da Dra. Jamila Perini. Já as amostras de sangue, no Hospital Municipal de Jacarecanga (PA) e de Itaituba (PA), “como parte de um fluxo de encaminhamento de amostras que deverá ser incorporado à rotina das ações desenvolvidas pelas EMSI no território”, explicou o pesquisador.

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