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Abrascão 2022: mesa aborda a comunicação como direito democrático à saúde

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Publicado em:24/11/2022
Por Tatiane Vargas

A mesa “A voz do usuário: Comunicação como direito democrático à saúde”, realizada nesta segunda (21/11), trouxe para a discussão a importância do papel do usuário na construção de políticas e práticas de saúde que envolvam comunicação. Na ocasião foram apresentadas experiências de pesquisas que contaram com a participação de usuários e de que forma essa participação reflete na saúde dos usuários. A mesa foi coordenada pelo editor e repórter da Revista Radis, Adriano De Lavor, que destacou a importância de se pensar a comunicação de forma ampla e em todo o processo de construção de políticas ou práticas de saúde.



A criação do Blog Libertando a Mente

A primeira experiência apresentada foi a construção do Blog Libertando a Mente, por usuários de Centros de Atenção Psicossiocial e moradores de comunidades. O projeto foi desenvolvido de forma conjunta pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental (Laps) e pelo Laboratório Internet, Saúde e Sociedade (Laiss), ambos da ENSP, com usuários do Centro de Atenção Psicossocial Carlos Augusto Magal (CAPS Magal). Aprovado no edital para projetos de divulgação científica, ofertado pela VPEIC/Fiocruz, a pesquisa teve duração de um ano, e foi realizada entre 2018 e 2019, com a participação de dez usuários do CAPS, em sua maioria homens. 

Segundo a jornalista Bruna Ribeiro, membro do grupo que desenvolveu o projeto, o Blog foi criado como uma ferramenta digital de articulação e espaço de fala. Os encontros eram realizados no Laiss, e os participantes receberam bolsas mensais de cem reais. Como resultado, foi criado o Blog Libertando a mente, com um total de 19 postagens, com conteúdos pautados e livres. O Blog funcionou, segundo a jornalista, como uma ferramenta para o combate à invisibilização. “O projeto permitiu a aproximação entre usuários, construindo espaços de diálogos entre eles, seus familiares e a sociedade, além de ajudar a construir novas relações desses indivíduos com o território”, finalizou ela.



Violência na comunicação Digital

Fruto da tese de doutorado “Violência na comunicação digital: representações do jornalismo, redes sociais on-line e perspectivas inclusivas”, defendida por Adriano da Silva, no âmbito do Programa de Saúde Pública da ENSP, e do artigo “LGBTI+fobia virtual: notas sobre uma etnografia em comunidades virtuais no Facebook", foi apresentada pesquisa sobre os principais elementos dos discursos  LGBTIfóbicos em comunidades virtuais do Facebook. O objetivo da pesquisa foi compreender como esses espaços virtuais, mediados por dispositivos tecnológicos de comunicação, têm sido utilizados como catalisadores de discursos de natureza LGBTIfóbica. 

Segundo Adriano, foram analisadas duas comunidades virtuais no Facebook, ambas abertas (públicas), com presença de interação e atualização nas postagens. As comunidades foram: “Brasil sem ideologia de gênero” e “Não a Ditadura Gay”. Na primeira, o sentido da ideologia de gênero, de acordo com Adriano, equivalia a ameaça a vida e a família, denominando-a como “Cultura da morte. Já na comunidade “Não a ditadura Gay”, o movimento LGBTI, em especial os gays, são vistos como opressores, tal como representado numa ditadura, que silencia a liberdade religiosa. 

Foram observados aspectos comuns às duas comunidades, segundo o autor do estudo. Entre elas, o contexto de observação – diante do processo político eleitoral polarizado no Brasil; as interações feitas principalmente a partir de reações, a existência de usuários com perfis anônimos (sem fotos ou informações pessoais); além da existência de comentários contrários aos postulados das comunidades; da construção da imagem de um inimigo, uso de tom conspiratório e acionamento de pânicos morais.

Concluindo, Adriano apontou que essas comunidades virtuais propagam fake News e desinformação, com viés de confirmação, além de promover discurso de ódio. “Um grande desafio para o futuro é a relação da sociedade com as mídias sociais. Tal como disse Débora Diniz, em 2020, ainda estamos em um momento de definição9 de um pacto civilizatório de convivência on-line”, encerrou ele.

Dimensões subjetivas da Saúde Digital

O projeto “Implicações das tecnologias digitais nos sistemas de saúde”, que conta com a participação dos pesquisadores da ENSP, Marcelo Fornazin e Leonardo Castro, foi apresentado pelo pesquisador da Fiocruz Luiz Henrique Gonçalves, que trouxe para o debate a questão da dimensão subjetiva da realidade e como ela é internalizada por meio de emoções e significados sociais. Segundo ele, a interpretação orienta, ou seja, forma a ação no mundo, criando novas objetividades que dão sentido a realidade humano-social.

Sobre a Saúde Digital, Gonçalves falou sobre os dispositivos artificiais dirigidos para o domínio dos processos psíquicos próprios ou alheios e como eles impactam as estruturas da consciência. "Ao aproveitarmos as propriedades das substâncias para lhes impor formas ideais, essas formas - objetivadas - também se impõem sobre a consciência. As mídias digitais estimulam a alteração das células cerebrais, fortalecendo novas vias neurais enquanto enfraquece as antigas. Desta forma, as tecnologias não são meros auxílios exteriores, mas também transformações interiores da consciência", explicou. Por fim, o pesquisador abordou a questão dos dados digitais - saúde digital - e as técnicas comportamentais que geram novas subjetividades e objetividades no mundo. Segundo ele, a saúde digital amplia a condição e a dignidade humana. 

Durante a mesa “A voz do usuário: Comunicação como direito democrático à saúde” também foram apresentadas as pesquisas "Comunicação comunitária-podcast Rádio nave Itu"; "Boca a Boca" as redes sociais: tecnologias comunicacionais de populações vulneráveis do distrito federal na pandemia de covid-19"; e "Potencialidades e fragilidades das mídias sociais eletrônicas como possíveis ferramentas facilitadoras do acesso surdos aos serviços de saúde".


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