Artigo do 'Cadernos' analisa saúde de trabalhadores com restrição laboral

Nesse estudo, de autoria José Augusto Pina e Eduardo Navarro Stotz, da ENSP; e José Marçal Jackson Filho, da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho, Curitiba, o entendimento do adoecimento do compatível como um sinal permitiu refletir sobre os problemas de saúde do coletivo operário e sua determinação a partir da experiência dos trabalhadores.
Para eles, o trabalhador compatível indica uma fratura exposta por meio do processo de produção, ocasionado pela intensificação do trabalho, caracterizada na gestão por estresse, ritmo intenso, adensamento do trabalho e prolongamento da jornada.
A pesquisa contextualiza que o atual processo de intensificação do trabalho que se insere na conjuntura das transformações produtivas das montadoras da indústria automobilística no Brasil, a partir dos anos 1990, acarreta mudanças na produção social do desgaste operário e do perfil epidemiológico dos trabalhadores.
Nessa empresa pesquisada, a intensificação pode ser caracterizada pela diminuição, entre 1991 a 2011, do número de empregados de 20.625 para 12.294, com aumento da produção anual de veículos por trabalhador, que passou de 2,0, em 1991; 3,8, em 1999; 4,8, em 2005; e atingiu 6,5, em 2011.
Conforme relata o estudo, essas características apontadas pelos trabalhadores como responsáveis pelos acidentes de trabalho e Lesão por Esforço Repetitivo (LER) também estão associadas aos transtornos psicoafetivos e às Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT); morbidades praticamente excluídas do perfil do compatível ocupacional, bem como do benefício auxílio-doença acidentário concedido aos operários das montadoras. Por isso, dizem os pesquisadores, a relação entre intensificação do trabalho e doenças crônicas merece a atenção das pesquisas e das políticas de saúde.
Além disso, alertam eles, o reconhecimento dos problemas de saúde-doença relacionados ao trabalho pela empresa e pela Previdência constitui um processo marcado por conflitos no processo de produção e nas relações entre ciência/técnica e política. Sua determinação histórica e social também implica na capacidade da ação sindical/coletiva, no sentido de situar os problemas de saúde e proteger os trabalhadores.
Com o intuito do retorno ao trabalho, de acordo com o estudo, a empresa deve identificar um posto de trabalho compatível à atual capacidade laboral do trabalhador, conforme orientação da reabilitação profissional do INSS. “Registra-se, contudo, a omissão desse órgão na efetiva reintegração do trabalhador compatível com mudanças das condições de trabalho.” A identificação do posto é realizada pelo médico do trabalho da empresa com participação do analista de recursos humanos, da chefia imediata, do próprio trabalhador e dos representantes da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa).
Para ler o artigo Trabalhador “compatível”, fratura exposta no processo de produção da indústria automobilística: intensificação do trabalho e saúde em questão na íntegra, publicado no Cadernos de Saúde Pública (vol.34. n.7), acesse aqui.
Fonte: Artigo CSP
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