Número de ciclistas acidentados no trânsito ultrapassa 10% do total de atendidos em emergência no país

A pesquisa utilizou o VIVA inquérito, realizado em 2014, que compõe o Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes do Ministério da Saúde e tem como objetivo analisar a tendência e descrever o perfil das violências (interpessoais ou autoprovocadas) e dos acidentes (trânsito, quedas, queimaduras, dentre outros) atendidos em unidades de urgência e emergência do Brasil.
Esse inquérito incluiu os atendimentos realizados em serviços de urgência e emergência situados em 24 capitais e no Distrito Federal, além de 11 municípios selecionados. No artigo, somente as capitais componentes do VIVA inquérito foram consideradas na análise, por concentrarem a maior parte dos atendimentos das vítimas de acidentes e violências, totalizando 86 serviços de urgência e emergência, e contabilizando 55.950 atendimentos. Os acidentes configuram 15.499 atendimentos, dos quais 1.652 referem-se aos ciclistas, representando 10,7% do total por tipo de transporte.
De acordo com o estudo, dos 1.652 atendimentos a ciclistas, 75,1% (1.241) eram do sexo masculino; em relação à faixa etária, 28% (463) tinham entre 20 e 39 anos, 26,5% (437) entre 10 e 19 anos, e 21,7% (358) entre 0 e 9 anos. No tocante à raça/cor, 63,4% (1.047) eram pardos. A escolaridade referida foi de 0 a 4 anos em 37,2% (615) das vítimas, seguido de 5 a 8 anos em 21,7% (359). Não possuíam algum tipo de deficiência 95,3% (42) das vítimas. As capitais que tiveram as maiores proporções de atendimentos por acidentes de transporte terrestre envolvendo ciclistas foram Boa Vista (11,1% −184) e Brasília (6% - 99), e as que tiveram as menores foram Belo Horizonte (1,3% - 21) e Salvador (1,5% - 24). Quanto à zona de ocorrência, 93,8% (1.550) ocorreram na zona urbana ou periurbana dessas capitais.
Esses ciclistas colidiram com um automóvel em 23,2% (383) dos casos e contra uma motocicleta em 13,2% (218) dos casos. Em 87,2% (1.440) desses casos, a vítima era o condutor da bicicleta, que, em 90,5% (1.495) das vezes, não utilizava nenhum equipamento de segurança no momento do acidente. A vítima referiu uso de álcool nas seis horas anteriores à ocorrência em 10,8% (178) desses acidentes, os quais, em 17,1% (282) das vezes, ocorreram no trajeto para o trabalho. A natureza da lesão foi corte/laceração em 39,3% (649), e entorse/luxação em 15,9% (263). Dos ciclistas acidentados, 31,5% (521) tiveram os membros inferiores atingidos, enquanto 20,9% (346) os superiores. Em 17,3% (286) desses casos, múltiplos órgãos/regiões do corpo foram atingidos. Em 40% (661), o atendimento ocorreu no período da tarde, e em 30,6% (506) no da manhã; 47,8% (790) dos acidentados foram atendidos entre segunda e quarta-feira; com 73,1% (1.208) evoluindo para alta e 11,1% (183) para internação hospitalar.
Para a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, a vulnerabilidade dos ciclistas, em parte, ocorre porque bicicletas são veículos híbridos, os quais ora transitam como os demais, ora como pedestres, disputando com estes o espaço das calçadas. O trânsito compartilhado das bicicletas com veículos automotores é apontado como o principal fator de insegurança, facilitando a ocorrência de acidentes. Esse dado foi reiterado no presente estudo, em que os principais acidentes se referem à colisão de bicicletas contra automóveis.
Os achados do estudo acentuam a necessidade de discussões sobre ações para diminuir as ocorrências de acidentes de trânsito envolvendo ciclistas, apontam os pesquisadores. “Tais medidas incluem propostas mais amplas como a reavaliação de políticas públicas que estimulam o transporte individual em automóveis, até intervenções específicas, como a criação de espaços seguros para o lazer, de programas educativos para a população em geral e a melhoria da fiscalização das leis de trânsito. Outro fator que poderia levar à diminuição desses acidentes é o uso de equipamentos de segurança”, concluem.
O artigo foi publicado na edição de dezembro de 2016 da revista Cadernos de Saúde Pública (vol.21 no.12)
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