Cúpula aprova Rede Mercosul de Pesquisa para fortalecer integração
A presidenta Dilma Rousseff anunciou, no dia 7 de dezembro, na Cúpula de Chefes de Estado do Mercado Comum do Sul (Mercosul), em Brasília, a criação da Rede Mercosul de Pesquisa. À frente da iniciativa - proposta pelo Brasil durante a presidência pro tempore do bloco, exercida neste semestre - está a Rede Nacional de Pesquisa e Ensino (RNP), organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Diante da "conjuntura de crise prolongada" na economia, Dilma sugeriu que o bloco resgate um antigo anseio. "A aspiração de sermos, além de grandes provedores de alimentos, matérias-primas, minérios e energia para o mundo, provedores de manufatura, portadores de conhecimento, capazes, entre nós, de criarmos ciência, tecnologia e de inovar", descreveu.
Segundo a chefe de Estado, o Brasil deu continuidade às discussões iniciadas sob a presidência pro tempore da Argentina, na primeira metade do ano. "Avançamos em ciência, tecnologia, inovação e mobilidade acadêmica, que são setores portadores de futuro, muito importantes para nós, porque aumentam o interesse e o envolvimento dos jovens dos nossos países no processo de integração regional", relatou Dilma, antes de destacar duas iniciativas aprovadas pela cúpula: o Sistema Integrado de Mobilidade Acadêmica do Mercosul (SIM Mercosul) e a Rede Mercosul de Pesquisa.
A presidente informou, ainda, que o bloco negocia o aperfeiçoamento do Fundo para a Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do Mercosul (Focem), criado em 2004 para financiar ações em benefício das menores economias da região. "O fundo já abarca 40 projetos aprovados, com uma carteira que supera US$ 1,1 bilhão", contou. "Ele tem contribuído para melhorias em setores como energia, habitação, transportes, incentivos à microempresa, biossegurança, capacitação tecnológica e aspectos sanitários."
O período de gestão brasileira teve como eixo central o tratamento integrado de ciência, tecnologia, inovação produtiva e capacitação. Na cúpula, Dilma transmitiu o comando da união aduaneira, alternado a cada seis meses, ao presidente do Uruguai, Pepe Mujica. "Definitivamente, um novo Mercosul está em marcha", disse. "Quero desejar sorte ao meu querido amigo, que assume a presidência do bloco neste momento cheio de desafios e de oportunidades."
Integração acadêmica - Responsável pela concepção da Rede Mercosul de Pesquisa, a RNP desenvolve o projeto Infraestrutura Óptica Latino-Americana de Ciência e Tecnologia (Iolact), instituído para interligar as redes acadêmicas dos 15 países membros da Cooperação Latino-Americana de Redes Avançadas (RedClara). Autor da iniciativa, o MCTI financia o Iolact com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Parte do tráfego atual de telecomunicações do Brasil com o continente depende de cabos ópticos submarinos que passam por Miami, no sudeste dos Estados Unidos.
A Rede Mercosul de Pesquisa deve iniciar seus trabalhos pelo Uruguai, com integração de 14 núcleos de telemedicina e 29 campi universitários. Pelo lado brasileiro, há estrutura de cabos de fibra óptica até Bagé (RS). O próximo passo seria chegar à fronteira, no encontro de Santana do Livramento (RS) e Rivera (Uruguai). O contato unirá a RNP à Red Académica Uruguaya (RAU).
Mesmo suspenso do bloco, por causa do processo de impeachment do presidente Fernando Lugo, em 22 de junho, o Paraguai permanece nos planos tanto do bloco como da rede. "Enquanto aguardamos a retomada da normalidade democrática, mantivemos nosso compromisso com o bem-estar do povo paraguaio, descartando medidas que dificultem nossos fluxos comerciais", afirmou Dilma Rousseff, na cúpula. "Todos os programas paraguaios no âmbito do Focem continuam em seus trâmites normais, incluindo o projeto de construção da linha de transmissão elétrica entre Itaipu e Villa Hayes."
Quando instalada, a linha de transmissão pode servir de suporte para ligar, com fibra óptica, Foz do Iguaçu (PR) à capital paraguaia, Assunção. Além das brasileiras RNP e Telebrás, o projeto envolve a empresa Itaipu Binacional, a Compañia Paraguaya de Comunicaciones (Copaco) e a rede acadêmica Arandu.
Para a Argentina, o projeto Iolact e a RedClara construíram a interligação de Porto Alegre a Buenos Aires. A linha passa pelo interior gaúcho. Futuramente, a Rede Mercosul deve estabelecer novos pontos de contato, como a província de Misiones, na tríplice fronteira com Brasil e Paraguai.
Recém-incorporada ao bloco, a Venezuela manifestou interesse em participar da futura rede na última Reunião Especializada de Ciência e Tecnologia do Mercosul (Recyt), em 26 de outubro, em Brasília. Como a rede Ipê, mantida pela RNP, alcança Manaus, com nova capacidade inaugurada há dois meses, o contato poderia ocorrer por meio de um cabo óptico da companhia Oi, já existente.
Competitividade - No discurso de encerramento do 1º Fórum Empresarial do Mercosul, realizado paralelamente à cúpula, o presidente do Uruguai apontou o desafio de construir multinacionais latino-americanas, que permitam ao bloco econômico competir no mundo globalizado.
"Nós chegamos tarde ao desenvolvimento industrial, à capacitação de nossas massas, à multiplicação da capacidade pesquisadora das nossas universidades", observou Mujica. "Somos gigantescos consumidores de patentes. Não somos proprietários de grande parte do conhecimento que usamos. Temos que recriar todo esse mundo."
(Ascom do MCTI)
Fonte: Jornal da Ciência
Fique por Dentro