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Seminário Internacional debate a mercantilização e a medicalização da vida

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Publicado em:10/12/2024

Em evento na ENSP/Fiocruz, Robert Whitaker, autor da premiada obra 'Anatomia de uma epidemia', defendeu que o Brasil é um dos únicos países no mundo capazes de provocar uma mudança de paradigma em relação ao uso das drogas psiquiátricas.

A oitava edição do Seminário Internacional A Epidemia das Drogas Psiquiátricas trouxe para o debate um tema fundamental sobre os desafios da retirada dos psicofármacos: a mercantilização da medicalização e da vida. Especialistas nacionais e internacionais discutiram o conceito de medicalização e sofrimento, destacando a importância de não reduzir o ser humano apenas a uma pauta química. O evento contou com a participação do renomado jornalista Robert Whitaker, premiado por seus artigos, principalmente em relação aos efeitos da abordagem medicalizante dos transtornos mentais. O evento está disponível na íntegra no canal da ENSP no YouTube. Assista na íntegra!

A mesa 'Questões contemporâneas sobre medicalização e mercantilização da vida' contou com a participação da diretora do Instituto Epokhé, Mariama Furtado; do mestre em Saúde Coletiva, Artur Cardoso; e do professor da Universidade de Coimbra/Portugal, Tiago Pires Marques. Sob a coordenação de Antônio Carlos Morais, assessor de relações internacionais da Fiocruz, a mesa discutiu o fenômeno da mercantilização da saúde mental e do bem-estar. Mariama Furtado, autora do livro 'O lugar do sofrimento na cultura contemporânea', expôs algumas reflexões sobre a psicopatologia crítica e os processos de medicalização da existência, defendendo uma clínica desnorteada.

Segundo ela, o sofrimento humano não advém de uma única origem, mas sim de uma junção de fatores, que incluem marcadores étnicos, raciais e de gênero. Doutora em Saúde Mental e Atenção Psicossocial pelo Laps/ENSP, Mariama citou o conceito de medicalização da existência e defendeu que é preciso pensar o sofrimento humano para além de uma visão dualista, fragmentada e estigmatizante. "Isso significa que a compreensão sobre o sofrimento psíquico deve ser construída a partir de um olhar focado no campo de vida das pessoas em adoecimento e não somente no indivíduo e suas marcas neurológicas, separadas de sua história, das suas redes de relações e do seu contexto", descreveu.

O mestre em Saúde Coletiva, Artur Cardoso, iniciou sua apresentação falando sobre os conceitos de epidemia e pandemia, segundo a Organização Mundial da Saúde, em paralelo com a questão dos transtornos mentais e o fenômeno da mercantilização da saúde mental e do bem-estar. "É preciso compreender o que há por trás desta alta incidência do consumo de drogas psiquiátricas. A psiquiatria, por exemplo, critica os manicômios, mas não fala sobre o mercado da saúde mental". De acordo com ele, a indústria do bem-estar e saúde mental movimentou 4,4 trilhões de dólares, somente no ano de 2019.

"Atualmente, se vende a ideia de que o indivíduo pode "comprar/adquirir" saúde mental e bem-estar. E por trás disso há uma indústria farmacêutica muito forte, aliada a uma psiquiatria que segue as diretrizes de mercado. O modelo de mercantilização é o modus operandi da psiquiatria contemporânea. A indústria farmacêutica injeta bilhões de dólares na produção cada vez maior de características diagnósticas, que são usadas arbitrariamente, vendendo drogas como tratamento. Eles vendem efeito como tratamento, e esse é um processo ininterrupto de corrupção", alertou ele.

Finalizando a mesa, o professor e pesquisador da Universidade de Coimbra/Portugal, Tiago Pires Marques, trouxe para a discussão a complexidade do processo de medicalização, mencionando brevemente o caso de Portugal. Ele expôs o itinerário sobre o pensamento sociológico da medicalização ao longo dos anos, citando que a medicalização faz parte do processo de evolução dos seres humanos. Em paralelo, citou uma pesquisa desenvolvida em Portugal, destacando alguns conceitos que dialogam com a iatrogenia. Assista à mesa na íntegra no canal da ENSP no YouTube.



Brasil é protagonista na luta contra as drogas psiquiátricas: Seminário busca construção de agenda para a desmedicalização da vida

O último dia (6/12) do Seminário Internacional A Epidemia das Drogas Psiquiátricas contou com a participação do editor do site Mad in America e autor de diversos livros sobre psicofármacos, Robert Whitaker, que falou sobre a experiência inovadora da Reforma Psiquiátrica brasileira. O jornalista citou em sua apresentação a mudança de paradigma dos pacientes e da reforma sanitária no país, destacando que o Brasil tem a chance de ser uma referência na mudança de paradigma em relação à mercantilização da medicalização e da vida.

"Estamos hoje aqui na oitava edição de um seminário que discute a retirada das drogas psiquiátricas, isso não aconteceria nos Estados Unidos e em diversos outros países do mundo, pois não há apoio para isso. Estamos aqui hoje, na Fiocruz, uma instituição renomada nacional e internacionalmente, que apoia e patrocina esse debate, e isso não acontece em lugar nenhum no mundo, por isso, afirmo que o Brasil é um dos únicos países capazes de provocar uma mudança de paradigma em relação ao uso das drogas psiquiátricas", defendeu ele.

Encerrando o evento, a coordenadora do Laps/ENSP, Ana Paula Guljor; o pesquisador emérito da ENSP/Fiocruz, Paulo Amarante; e o coordenador do Observatório Latino-Americano e Caribenho de Direitos Humanos e Saúde Mental, Andrés Techera, compuseram a mesa final, que debateu a construção de uma agenda para a desmedicalização da vida. Ana Paula Guljor citou a disputa política e social do campo, além dos desafios para os próximos anos. "Nosso compromisso é com a garantia dos direitos das pessoas em sofrimento mental", ressaltou ela.

Andrés Techera destacou a importância da realização do evento para questionar e refletir sobre o processo de mercantilização da vida e o grande desafio de construir práticas cotidianas mais humanas. Ele sugeriu a criação de uma agenda de cooperação e internacionalização dos movimentos contra as drogas psiquiátricas. "É fundamental fortalecer os observatórios para monitorarmos a situação em diferentes países que sofrem com a epidemia das drogas psiquiátricas", analisou ele.

O pesquisador emérito da ENSP, idealizador e coordenador do Seminário Internacional, Paulo Amarante, finalizou a mesa reforçando a importância do fortalecimento e manutenção do seminário na agenda estratégica da instituição, destacando a participação de novos atores, ao longo das edições, que fortalecem e estimulam esse projeto político.

"Precisamos fortalecer os processos formativos críticos, além dos mecanismos de diálogo com a sociedade. O Brasil retirou milhares de pessoas dos manicômios e seguirá na luta para a retirada dos psicofármacos. É um processo coletivo, de ajuda mútua, com muita cooperação e coletividade, jamais esquecendo da arte e da cultura como processos formativos e uma forma de estar no mundo", celebrou ele.

O encerramento do Seminário contou ainda com uma sessão de autógrafos e bate-papo com os autores, além da Roda de Samba com o Grupo do CAPS-AD Mané Garrincha. Confira as fotos do evento!

Roda de Samba com o Grupo do CAPS-AD Mané Garrincha na ENSP/Fiocruz.

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