Saúde Mental: Pesquisadores falam sobre o tema e seminário discutirá a epidemia das drogas psiquiátricas
Para debater esse contexto, o ‘Informe ENSP’ convidou os pesquisadores do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/ENSP), Ana Paula Guljor e Paulo Amarante, para a falar sobre o tema e também sobre a realização, em novembro, da 5ª edição do Seminário Internacional sobre a Epidemia das Drogas Psiquiátricas, que debaterá a crise planetária, pandemia, desigualdades e patologização.
Ana Paula Guljor, coordenadora do Laps, destaca que neste Dia Mundial da Saúde Mental, o segundo durante uma pandemia, é necessário pensar a Saúde Mental enquanto um campo político, de discussão de subjetividade, a partir da Reforma Psiquiátrica. Para ela, a Saúde Mental é um campo de disputa contra hegemônica, principalmente no cenário atual, onde o Brasil tem quase 600 mil mortos pela Covid-19.
“Buscam o Laps para discutir a questão da Saúde Mental, para falar das projeções de adoecimento, dos quadros depressivos, de ansiedade, do aumento do número de suicídios, além de outros diagnósticos. Tivemos durante todo esse período uma intensificação do sofrimento. Mas, nesse momento, é importante jogar luz aos determinantes sociais do processo saúde e enfermidade. Precisamos romper com a ideia de que quadros de sofrimento psíquico se restringem a questão biológica. É um risco patologizar uma sociedade. É um risco fazer com que a gente individualize uma questão que é coletiva”, alertou a pesquisadora.
Segundo a psiquiatra, neste Dia Mundial da Saúde Mental é fundamental destacar a importância de complexificar o termo. “Não falamos apenas da ausência de doença ou da ausência de um quadro psiquiátrico. A Saúde Mental é um campo complexo e transversalizado por diversos aspectos que dizem respeito as questões estruturais, as desigualdades, as injustiças sociais e a violência. Desta forma, para construir um processo de bem viver é fundamental que tudo isso seja considerado e não apenas que tenhamos como alvo do olhar um diagnóstico psiquiátrico, cuja solução é criar lugares de atendimentos e de prescrição de psicofármacos. Sem dúvida existe a importância de um suporte clínico, mas ele precisa se dar a partir do olhar sobre o sujeito e não apenas sobre o seu diagnóstico. É preciso colocar em suspensão a doença para pensar sobre o que efetivamente é necessário para a construção do estado complexo e amplo que é o bem viver”, explicou Ana Paula.
Para ela, o Dia Mundial da Saúde Mental deve ser um dia para pensar na afetação pelo outro, na empatia, na solidariedade, e no cuidado, não apenas no diagnóstico e tratamento. “É importante refletir sobre toda uma cobertura, que é necessária ofertar a uma clientela em sofrimento psíquico, mas ao mesmo tempo é necessário investir em novos recursos. Que as pessoas possam acolher a diversidade e que a sociedade avance, efetivamente e acolha o diferente. E que ao acolher o diferente, crie novas formas de bem viver”.
No Brasil, de acordo com a pesquisadora, temos um árduo trabalho a fazer, de resistência e de garantia de todas as conquistas da Reforma Psiquiátrica. “Os profissionais da Saúde Mental e toda sociedade brasileira precisam entender que é necessário garantir o que existe e avançar em espaços de troca, de cuidado com a comunidade, sob o olhar das questões estruturais de violência, da violência doméstica, e das violações de direitos. Precisamos, por exemplo, continuar o processo de fechamento dos hospitais psiquiátricos, combater os novos manicômios, que entendemos como sendo as Comunidades Terapêuticas. Para isso é necessário ampliar a Rede de Centros de Atenção Psicossocial (Caps), mas também pensar nas estratégias de geração de trabalho e renda, nas estratégias de economia solidária que já existem e precisam ser ampliadas e nas experiências de arte e cultura, que permitem que as vozes dos sujeitos sejam escutadas não apenas enquanto pessoas em sofrimento psíquico. Espero nas próximas celebrações da data possamos falar de outras histórias, de muitas histórias, não apenas das histórias de diagnósticos e prescrição medicamentosa”, destacou ela.
V Seminário Internacional A Epidemia das Drogas Psiquiátricas
Chegando a sua 5ª edição, nos dias 4 e 5 de novembro, o V Seminário Internacional A Epidemia das Drogas Psiquiátricas, debaterá diversas das questões apontadas por Ana Paula Guljor. O tema do evento esse evento é: “Crise Planetária: Pandemia, Desigualdades, Neoliberalismo e Patologização”. A atividade será transmitida, ao vivo, pelo canal da Videosaúde Distribuidora, no Youtube, e necessitará de inscrição prévia.
Segundo Paulo Amarante, pesquisador emérito da ENSP e coordenador do seminário em todas as edições, no primeiro dia de evento serão apresentados trabalhos no campo da psiquiatria crítica. A mesa de abertura do evento debaterá o passado e o futuro da psiquiatria e suas drogas. O seminário também contará com participação de um ativista do movimento antimanicomial de usuários, que lançará, na ocasião, uma publicação sobre a retirada das drogas psiquiátricas, um grave problema global. O evento traz como uma novidade a participação de três comentaristas para falar sobre as discussões das mesas, além de debates sobre neoliberalismo e a sociedade sedada.
A quinta edição do seminário é organizado pelo Laps/ENSP, em parceria com a Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme), o Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes), o Conselho Federal de Psicologia e o Grupo de Trabalho de Saúde Mental da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
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