Fiocruz participa do 13º Congresso Brasileiro de Agroecologia
Por Angélica Almeida (VPAAPS/Fiocruz)
Cerca de 100 representantes da Fiocruz participaram do 13º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), realizado na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Juazeiro (BA), entre os dias de 15 e 18 de outubro. O congresso reuniu mais de 6 mil pessoas para discutir Agroecologia, Convivência com os Territórios Brasileiros e Justiça Climática.
"Mais que um espaço de fortalecimento da agroecologia, este evento é uma oportunidade de diálogo entre diferentes formas de conhecimento capazes de integrar a ciência, os conhecimentos tradicionais e a prática", afirmou a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, em vídeo exibido na conferência de encerramento.
A relação da saúde com a agroecologia esteve presente em mais de 60 trabalhos submetidos por membros da Fiocruz neste que é o maior evento de agroecologia da América Latina. Além disso, mais de 30 atividades aconteceram com a contribuição de pessoas vinculadas a diferentes unidades técnico-científicas da Fundação, grupos e projetos da instituição, a exemplo de painéis, mesas de debates, lançamentos de livros e atividades.
“O CBA é um importante espaço de vivência, de experimentação e de conexão entre os projetos da Fiocruz e com o campo agroecológico como um todo”, explica a representante da coordenação da Agenda de Saúde e Agroecologia da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), Danúbia Gardênia.
Segundo Gardênia, esta é a terceira edição na qual a Fiocruz mobilizou uma participação expressiva de pessoas, de trabalhos e de temas. “É muito potente perceber na prática dos grupos e unidades da Fiocruz a perspectiva de saúde ampliada. A saúde como alimento, como cuidado com o solo, a água, o ar. Pensar a transformação do sistema alimentar para um sistema que produz vida”, afirmou.
Para o o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Valcler Rangel, o conceito ampliado de saúde que rege a atuação da Fiocruz inclui a defesa de direitos, “como o direito ao acesso aos serviços de saúde, à água limpa e potável, à terra, à habitação, ao trabalho decente”, e se vincula de forma direta à agenda agroecológica. De acordo com Valcler, há uma potencialidade enorme na junção das agendas da saúde e da agroecologia, e é fundamental que o Sistema Único de Saúde (SUS) dialogue com as necessidades das populações do campo, da floresta e das águas.
"São 400 mil agentes comunitários que entram nas casas das pessoas, que falam sobre alimentação, sobre cuidado, sobre atenção à saúde, e que podem conhecer melhor esta agenda. São 50 mil unidades básicas de saúde que estão atendendo diariamente”, explicou o vice-presidente.
Presidente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia) - organização que a cada dois anos realiza o CBA ao lado de atores nacionais e internacionais, José Nunes da Silva avalia que a parceria com a Fiocruz “expande o debate com a sociedade em geral” e se desdobra na produção de conhecimento e de “publicações importantes, como o Caderno de Saúde e de Agroecologia, que hoje é uma referência”.
Nunes destaca o trabalho da Fiocruz no desenvolvimento de pesquisas sobre os reflexos dos agrotóxicos na saúde humana e a relação da alimentação com o crescimento de doenças, como diabetes, hipertensões, diferentes tipos de câncer. Indo além, menciona a importância de ações com povos de matriz africana que compreendem o alimento como aquele que “alimenta o corpo, a mente e o espírito”, e ampliam a relação saúde e agroecologia partindo das cosmovisões dos povos tradicionais.
Saúde, agroecologia, territórios e justiça climática
Além de trabalhadoras, trabalhadores e estudantes do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Brasília, Pernambuco e Ceará, a participação da Fiocruz incluiu os públicos de projetos desenvolvidos nos territórios. A caravana do Observatório dos Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS), por exemplo, foi composta por 50 pessoas, cerca de 70% vindas das comunidades. Envolveu as juventudes e pessoas que trabalham com as Cozinhas das Tradições, com o saneamento ecológico, a pesca artesanal, a agroecologia e o turismo de base comunitária, de acordo com a coordenadora da Incubadora de Tecnologias Sociais do OTSS, Sidélia Silva.
“O CBA é esse espaço analítico com essa grandiosidade, que integra todos os saberes, e não desconsidera nem um e nem outro, nem coloca em pé de desigualdades. Então tem o fortalecimento muito rico de todos os saberes e de todas as experiências”, avalia Sidélia.
Já a delegação Fiocruz Brasília contou com a presença de representantes do Colaboratório, do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura (Palin), do Núcleo de Educação Popular, Cuidado e Participação na Saúde (Angicos) e do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (Psat), que trazem na sua atuação a relação com a educação popular, a cultura e a promoção de territórios sustentáveis e saudáveis. Autoridades tradicionais de terreiros envolvidas no projeto Ecoilê e representantes do Projeto Hortas Tradicionais (RJ) também participaram do CBA.
A grande quantidade de povos e comunidades tradicionais, ribeirinhos, quilombolas e povos de matriz africana e de terreiros foi marcante para Sueli Francisca das Neves Gama, a Yalorixá Sueli, do terreiro Yle Axé Xaxará de Prata, em Planaltina (DF). “Quando a gente fala no terreiro autossustentável com a agroecologia, nós não estamos salvando o planeta, nós estamos salvando a nossa vida. Nós não estamos sozinhos plantando e colhendo produtos agroecológicos. Nesse imenso Brasil, existe uma grande massa de pessoas que está preocupada com o futuro de quem está chegando hoje”, afirmou.
Diretor da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), Marco Menezes destacou que a agroecologia é fundamental para a saúde coletiva no enfrentamento das múltiplas crises que se entrelaçam, em particular as crises climática e hídrica. “A agroecologia traz o debate dos territórios como o lugar da produção de conhecimento, da ancestralidade, do Bem Viver como uma referência para a construção coletiva e para a saúde coletiva”, disse.
Para mostrar na prática o potencial da articulação entre o SUS e a agroecologia, a Fiocruz Pernambuco mobilizou a participação de 11 representantes que atuam com práticas integrativas e complementares, com o cuidado em saúde por meio dos conhecimentos tradicionais, com a formação de agentes populares de saúde, com a promoção da segurança alimentar e nutricional e o fortalecimento de cozinhas solidárias, além de trabalhos sobre o impacto dos agrotóxicos para a saúde humana e ambiental.
Em uma articulação da Coordenação de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (Caaps) da Fiocruz Pernambuco, as secretarias municipais de Agricultura Urbana e de Saúde do Recife participaram do CBA para apresentar a experiência do projeto Muvúka, desenvolvido com a Rede de Atenção Psicossocial (Raps). Na iniciativa, a agroecologia atua “como um campo de conhecimento e de práticas com estratégias de promoção da saúde mental e de redução de danos, pensando como ética de cuidado e não apenas como ferramenta de prevenção de riscos e danos no consumo prejudicial de álcool e de outras drogas”, conta Naide Teodósio, coordenadora da Caaps.
Fonte: Agência Fiocruz



