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Debate aponta racismo entre os principais desafios na governança Indígena na saúde

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Publicado em:15/08/2025
Por Danielle Monteiro

A experiência canadense na reorganização da gestão dos serviços de saúde direcionados à população Indígena foi o mote de webinário promovido nesta quarta-feira (13) pela ENSP e a Universidade Simon Fraser (SFU/Canadá). O debate indicou que é possível implantar um modelo eficaz de governança Indígena na saúde, mas ainda é necessário superar desafios nesse processo, principalmente o racismo.

A atividade, que teve como tema ‘Autoridade Sanitária Indígena (Primeiras Nações): Segurança Cultural e Enfrentamento do Racismo’, é a segunda da série de seis webinários que serão promovidos pela parceria. A iniciativa foi coordenada pela pesquisadora da ENSP Ana Lucia Pontes, que atua como professora visitante na SFU. 

Pertencente ao povo Sliammon, o ex-diretor médico da Autoridade Sanitária Indígena da Columbia Britânica, Evan Adams, narrou como a gestão dos serviços de saúde direcionados a essa população tem sido reorganizada na província canadense. Ele integrou a equipe participante da implantação da iniciativa, que foi iniciada em 2013 e tem sido construída em outras regiões do país. “Antes de todo esse planejamento, o círculo de cuidado em saúde não nos incluía. Apenas o governo e as igrejas participavam desse processo”, lamentou. 

O médico apresentou a estrutura de governança em saúde Indígena no Canadá e atentou para os diversos desafios que ainda persistem no campo. “Os povos Indígenas apresentam a pior saúde em comparação a outros grupos étnicos no país”, alertou. Segundo ele, o racismo sistêmico foi um dos fatores mais desafiadores encontrados no processo: “Precisei falar com muitas autoridades sanitárias locais para alertar sobre a necessidade de comprometimento com o antirracismo”. 

Nessa trajetória, segundo Adams, também foram encontrados obstáculos, como estigmas e estereótipos, além da baixa qualidade no atendimento. “Diversos profissionais de saúde não tinham conhecimento algum sobre povos Indígenas”, lamentou. Para enfrentar o problema, foi ofertada uma capacitação sobre saúde Indígena, que envolveu milhares de profissionais de saúde.

Os números comprovam os problemas enfrentados por essa parcela da população no sistema de saúde canadense. De acordo com recente estudo, apresentado por Adams, apenas 16% dos Indígenas entrevistados disseram nunca ter sofrido preconceito na assistência. “O atendimento com base em estereótipos e estigmas pode provocar danos prejudicais ao corpo, espírito e mente de nossos povos”, alertou. 

Conforme relatou o médico, a implementação do modelo de governança Indígena resultou em um acordo de parcerias sanitárias regionais, permitindo que essa população se tornasse autodeterminada, ganhando recursos para cuidar de si mesmos. Segundo ele, a iniciativa consistiu em ações mais inclusivas e que levaram em consideração os determinantes sociais da saúde, como educação, pobreza, dialetos, entre outros fatores. O médico explicou que todo o processo foi realizado com base na adoção de dois princípios fundamentais: a segurança cultural e a humildade. O padrão foi adotado para enfrentar o racismo contra Indígenas e criar um ambiente de saúde culturalmente seguro.

Em seguida, a diretora do Centro para Ação Colaborativa em Governança Indígena em Saúde da SFU, Krista Stelkia, definiu o racismo contra essa população como um problema onipresente nos sistemas de saúde canadenses e apresentou um projeto, desenvolvido com a Autoridade Sanitária Indígena da Columbia Britânica, para o enfrentamento desse desafio. A iniciativa realizou um mapeamento de ações contra o racismo na saúde do Canadá propostas pela literatura e identificou três áreas prioritárias de pesquisa que poderiam ser desenvolvidas em colaboração: a ação responsável, os órgãos reguladores e o sistema de saúde.

Krista contou que, a partir dessa análise, foi constatada a necessidade de criação de agências regulatórias e de melhor formação de profissionais de saúde para o atendimento aos Indígenas na região. “Também precisamos garantir que as pessoas se sintam seguras no sistema de saúde para prestar queixas quando necessárias. Percebemos, ainda, que o trabalho nesse espaço é difícil e duro, mas valioso e necessário para começarmos a enfrentar o racismo contra essa população”, afirmou. 

Segundo Krista, os resultados do projeto, que ainda está em andamento, apontaram o fortalecimento da colaboração e do compromisso entre as instituições parceiras no enfrentamento ao racismo contra Indígenas na saúde da Columbia Britânica, além da identificação de prioridades de pesquisa orientadas para a ação na superação do problema. 

A moderação do debate ficou por conta da assessora de Relações Internacionais da Secretaria de Saúde Indígena do Ministério da Saúde do Brasil, Leticia Lima.



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