Debate aponta racismo entre os principais desafios na governança Indígena na saúde
Por Danielle Monteiro
A atividade, que teve como tema ‘Autoridade Sanitária Indígena (Primeiras Nações): Segurança Cultural e Enfrentamento do Racismo’, é a segunda da série de seis webinários que serão promovidos pela parceria. A iniciativa foi coordenada pela pesquisadora da ENSP Ana Lucia Pontes, que atua como professora visitante na SFU.
Pertencente ao povo Sliammon, o ex-diretor médico da Autoridade Sanitária Indígena da Columbia Britânica, Evan Adams, narrou como
a gestão dos serviços de saúde direcionados a essa população tem sido reorganizada na província canadense. Ele integrou a equipe participante da implantação da iniciativa, que foi iniciada em 2013 e tem sido construída em outras regiões do país. “Antes de todo esse planejamento, o círculo de cuidado em saúde não nos incluía. Apenas o governo e as igrejas participavam desse processo”, lamentou.
O médico apresentou a estrutura de governança em saúde Indígena no Canadá e atentou para os diversos desafios que ainda persistem no campo. “Os povos Indígenas apresentam a pior saúde em comparação a outros grupos étnicos no país”, alertou. Segundo ele, o racismo sistêmico foi um dos fatores mais desafiadores encontrados no processo: “Precisei falar com muitas autoridades sanitárias locais para alertar sobre a necessidade de comprometimento com o antirracismo”.
Nessa trajetória, segundo Adams, também foram encontrados obstáculos, como estigmas e estereótipos, além da baixa qualidade no atendimento. “Diversos profissionais de saúde não tinham conhecimento algum sobre povos Indígenas”, lamentou. Para enfrentar o problema, foi ofertada uma capacitação sobre saúde Indígena, que envolveu milhares de profissionais de saúde.
Conforme relatou o médico, a implementação do modelo de governança Indígena resultou em um acordo de parcerias sanitárias regionais, permitindo que essa população se tornasse autodeterminada, ganhando recursos para cuidar de si mesmos. Segundo ele, a iniciativa consistiu em ações mais inclusivas e que levaram em consideração os determinantes sociais da saúde, como educação, pobreza, dialetos, entre outros fatores. O médico explicou que todo o processo foi realizado com base na adoção de dois princípios fundamentais: a segurança cultural e a humildade. O padrão foi adotado para enfrentar o racismo contra Indígenas e criar um ambiente de saúde culturalmente seguro.
Em seguida, a diretora do Centro para Ação Colaborativa em Governança Indígena em Saúde da SFU, Krista Stelkia, definiu o racismo contra essa população como um problema onipresente nos sistemas de saúde canadenses e apresentou um projeto, desenvolvido com a Autoridade Sanitária Indígena da Columbia Britânica, para o enfrentamento desse desafio. A iniciativa realizou um mapeamento de ações contra o racismo na saúde do Canadá propostas pela literatura e identificou três áreas prioritárias de pesquisa que poderiam ser desenvolvidas em colaboração: a ação responsável, os órgãos reguladores e o sistema de saúde.
Krista contou que, a partir dessa análise, foi constatada a necessidade de criação de agências regulatórias e de melhor formação de
profissionais de saúde para o atendimento aos Indígenas na região. “Também precisamos garantir que as pessoas se sintam seguras no sistema de saúde para prestar queixas quando necessárias. Percebemos, ainda, que o trabalho nesse espaço é difícil e duro, mas valioso e necessário para começarmos a enfrentar o racismo contra essa população”, afirmou.
Segundo Krista, os resultados do projeto, que ainda está em andamento, apontaram o fortalecimento da colaboração e do compromisso entre as instituições parceiras no enfrentamento ao racismo contra Indígenas na saúde da Columbia Britânica, além da identificação de prioridades de pesquisa orientadas para a ação na superação do problema.
A moderação do debate ficou por conta da assessora de Relações Internacionais da Secretaria de Saúde Indígena do Ministério da Saúde do Brasil, Leticia Lima.
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