Dia Mundial da Saúde 2025: “Apostar no começo da vida para esperança no futuro é escolha perfeita”
A pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) e coordenadora da pesquisa “Nascer no Brasil”, Maria do Carmo Leal, celebrou o tema escolhido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para comemorar o Dia Mundial da Saúde de 2025. Neste ano, a campanha do 7 de abril é intitulada “Começos saudáveis, futuros esperançosos”, com o intuito de chamar a atenção para a saúde materna e neonatal.
Em entrevista ao Informe ENSP, a pesquisadora especialista no tema comentou a importância da escolha da OMS, cujo objetivo é levar os governos e a comunidade da saúde a intensificarem os esforços para acabar com as mortes maternas e neonatais evitáveis, além de priorizar a saúde e o bem-estar das mulheres a longo prazo. “O maior patrimônio dos países é a sua população. Então, apostar na gestação e no nascimento saudáveis, ou seja, no começo da vida para ter esperança no futuro, é uma escolha perfeita”, afirmou Maria do Carmo Leal. A pesquisadora alertou ainda para a necessidade de ajudar os países mais pobres, especialmente após os cortes de recursos que eram distribuídos pelos Estados Unidos.
Qual a importância da escolha do tema ‘Começos saudáveis, futuros esperançosos’ pela OMS?
O tema escolhido para esse ano é muito importante porque o maior patrimônio dos países é a sua população. Então, apostar na gestação e no nascimento saudáveis, ou seja, no começo da vida para ter esperança no futuro, é uma escolha perfeita. Afinal, sabemos que esse período gestacional, o período dentro do útero, e os primeiros anos de vida da criança definem muito da oportunidade que ela terá na vida.
Então, eu celebro muito essa escolha, que tem a ver com a nossa área de trabalho, e também com algo que o mundo está precisando muito: uma população jovem, saudável e respeitada do ponto de vista da sua gestação, do seu parto… Atualmente nós temos vivido, em muitos países, uma grande quantidade de violência no nascimento e na gestação. As mulheres têm sofrido muito nessas relações de gênero, que são tão complicadas, pelo menos aqui na América Latina, com tanta agressão. Isso machuca muito não só a mulher e a família, mas também o recém-nascido, que sente todo o peso da agressão de uma sociedade patriarcalista e machista que a mulher sofre durante a gestação e também durante o nascimento da sua criança.
Então, eu celebro muito que a gente ponha toda a ênfase nisso para que ter uma população mais feliz, mais saudável e que possa realizar todas as suas potencialidades.
Que medidas autoridades de todo o mundo podem tomar no sentido de intensificar os esforços para acabar com as mortes maternas e neonatais evitáveis?
Sabemos que esse problema das mortes neonatais e da morte materna evitável acontece principalmente nos países muito pobres e quem nos de renda média, ainda há estatísticas elevadas. Agora, estamos vivendo uma situação de muita dificuldade em relação a esse ponto, porque uma das coisas que amenizava a situação da atenção à gestação, ao parto, ao aborto, principalmente nos países muito pobres, era a ajuda internacional na qual os Estados Unidos eram um componente importantíssimo, respondendo a quase metade do recurso distribuído. Houve um corte de verba radical recentemente, quase uma interrupção dessa ajuda. Isso vai fazer muita falta e, talvez, tenhamos até um recrudescimento de taxas de mortalidade elevadas, também nos recém-nascidos.
Então, uma coisa que seria importante é a ajuda internacional para os países muito pobres. De modo geral, é necessária para todos uma mudança de postura em relação às mulheres, uma diminuição da violência, da agressividade contra elas, assim como a falta de oportunidade, pois isso interfere tanto na saúde dela como na saúde dos recém-nascidos.
A OMS divulgou que 4 em cada 5 países estão longe de atingir as metas de melhoria da sobrevivência materna até 2030. Como está a situação atual do Brasil?
As metas definidas para a redução da mortalidade materna e da mortalidade neonatal não são muito ambiciosas. Diferentemente dos objetivos do milênio, que traziam uma proporção em relação àquela época para reduzir um determinado número de anos.
Agora foi estabelecido um número de 70 óbitos maternos para cada 100 mil nascidos vivos e de 12 óbitos neonatais para cada mil nascidos vivos. Nesse caso, o Brasil já cumpriu as duas metas. Isso porque a situação de alguns países é tão ruim que as metas acabaram sendo menos exigentes para países de renda média como o Brasil. Então, é triste saber que muitos países não alcançarão nem mesmo essas metas não tão exigentes.
Já no Brasil, com essas metas cumpridas, têm sido estabelecias novas metas. Por exemplo, em relação à mortalidade materna, há uma espécie de um consenso nacional de que o nosso horizonte deve ser 30 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos. Afinal, na época dos objetivos do milênio, nossa meta era 35 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos, e nós não alcançamos. Então, numa espécie de retomada daquela meta anterior, há essa discussão interna, embora não tenha sido oficializado pelo governo. Mas no Ministério da Saúde e nos comitês de óbito materno, nós falamos que a nossa meta é 35 óbitos maternos para cada 100 mil nascidos vivos. E, para alcançar este valor, há bastante desafio.
Em relação à mortalidade neonatal, estamos bem abaixo dos 12: aqui temos 9 a cada mil nascidos vivos. Podemos reduzir até 2030 para um número ainda menor. Há um esforço enorme do país para apresentar esse resultado. É preciso ter cobrança e exigência para nós, porque a meta atual não nos exige muito e nossa situação não é boa. Precisamos melhorar muito já que ainda estamos muito distantes do que os países mais desenvolvidos conseguiram. Se eles conseguiram, não tem razão para não conseguimos também.
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