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Saúde e sustentabilidade: no 12º EPI, pesquisador atenta para desafios na transição a empregos decentes e verdes

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Publicado em:28/11/2024
Por Danielle Monteiro

O mundo passa por grandes transformações provocadas por eventos adversos. Essa nova configuração requer um olhar ampliado e debate integrado sobre sustentabilidade e saúde. A conclusão é do pesquisador da ENSP, Carlos Machado, em palestra realizada nesta terça-feira (26) no 12º Congresso Brasileiro de Epidemiologia (12º EPI), no Rio de Janeiro. Participante da mesa redonda “Desenvolvimento sustentável e saúde do trabalhador: desafios sanitários e um olhar para o futuro”, o coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes) discorreu sobre as adversidades sanitárias na transição para um modelo de desenvolvimento ancorado em empregos verdes e decentes. 


Machado iniciou sua apresentação defendendo a necessidade de transformação do atual modelo de desenvolvimento, em prol da redução dos processos de degradação ambiental e de mudanças ambientais intensas, os quais provocam forte impacto na saúde dos indivíduos, atingindo, mais gravemente, as populações em condições vulneráveis. 

A fim de embasar seu argumento, o palestrante trouxe ao debate alguns elementos para a reflexão sobre o tema do desenvolvimento sustentável e saúde do trabalhador. Um deles foi o conceito de ‘empregos verdes’, definido como “postos de trabalho com contribuição substancial para a preservação e restauração da qualidade ambiental, que ajudam a proteger e restaurar ecossistemas e biodiversidade, por meio de estratégias de prevenção altamente eficazes”. Conforme narrou o pesquisador, nos últimos anos a ONU tem promovido essa definição de ‘emprego verde’ associada ao conceito de ‘trabalho decente’. Ou seja, um emprego produtivo, adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade e que garanta uma vida digna aos trabalhadores e suas famílias. “Esses são considerados os empregos verdes importantes de serem olhados em uma perspectiva não somente futura, mas da própria saúde coletiva como um todo”, defendeu.

Nesse contexto, segundo Machado, o mundo enfrenta um grande desafio: a criação de um modelo de desenvolvimento no qual as oportunidades de emprego, trabalho e renda se encaixem tanto no conceito de empregos verdes, como no de trabalho decente. “Existem atividades econômicas que contribuem para a redução das emissões, como, por exemplo, a produção de álcool como combustível. Mas, elas, não necessariamente, envolvem o trabalho decente”, exemplificou.


Apesar de o Brasil responder por 10% dos empregos verdes no mundo, ocupando a segunda posição entre os maiores empregadores das indústrias de biocombustíveis, solar, hidrelétrica e eólica, ainda assim, é preciso considerar os impactos dessas atividades industriais no meio ambiente e na saúde das pessoas, conforme atentou o palestrante: “Nós sabemos, por exemplo, que uma hidrelétrica tem um papel importante na redução das emissões de dióxido de carbono e de outros poluentes que contribuem para as mudanças climáticas. Mas, também sabemos que elas provocam uma alteração grande no ciclo das árvores e que, a depender de seu projeto e local, podem causar um grande dano ambiental, com impacto social, cultural e na vida das pessoas”.

Machado observou que, na análise de fatores como territórios, trabalhadores, processos de trabalho e cenários, observa-se uma sobreposição de riscos e vulnerabilidades, que resultam em efeitos provocadores de consequências secundárias e na combinação de efeitos simultâneos ou sucessivos, envolvendo riscos, doenças e agravos, como outros eventos disparadores de emergências e desastres. “O desastre no Rio Grande do Sul, por exemplo, provocou efeitos econômicos, como o endividamento, o qual gera impacto na saúde mental, que, consequentemente, provoca efeitos nas doenças crônicas, as quais impactam as alterações ambientais. Estas, por sua vez, provocam efeitos nas doenças transmissíveis. E por aí vai”, explicou.

Por esse motivo, segundo o pesquisador, é importante discutir o tema do trabalho sustentável de uma forma integral, ampliando o olhar e incluindo diversos fatores que se interligam e não podem estar dissociados, como, por exemplo, os diferentes contextos e realidades vivenciados pelos países, as condições de vida dos trabalhadores, os processos de trabalho, entre outros.  

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Ao chamar a atenção para as mudanças climáticas e seu impacto na vida das populações, o palestrante lembrou que o informe da Organização Internacional do Trabalho (OIT), lançado em 2007, citou, entre as medidas prioritárias para a transição a empregos verdes e decentes, a criação de um vasto programa de pesquisas sobre as consequências das mudanças climáticas, assim como ações de mitigação sobre a produção e modelos de consumo; oportunidades futuras de geração de emprego e renda; e luta contra a pobreza. “Esse é um caminho que, certamente, todos nós, vinculados a instituições de pesquisa e ensino, temos que estar antenados e começar a trabalhar de algum modo”, defendeu. 

Machado reforçou, ainda, que o tema dos desastres e emergências climáticas, principalmente no que se refere ao aquecimento global, é prioritário e urgente. “Estamos diante de vários cenários dos pontos de vista social, econômico, ambiental e sanitário, que nos impõem o desafio de pensar não somente a saúde da população como um todo, mas a saúde dos trabalhadores como parte da saúde da população, incluindo as suas condições de vida. Até porque muitos desses trabalhadores são os primeiros impactados por esses eventos”, concluiu. 

A mesa redonda também contou com a participação das pesquisadoras Luciana Londe, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), e Mariana Carvalho, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A atividade foi coordenada pela professora da UFBA, Kionna Bernardes.

+ Saiba tudo sobre a participação da ENSP no 12º EPI




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